quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

URUBU ESTÁ VOANDO DE COSTAS. MAS PODE SE APRUMAR EM 2017

Mais mal do que bem afinal mais um ano se vai na nossa contagem do tempo. Pelo mundo a fora, a direita vai avançando às braçadas na Europa, nos Estados Unidos, na América do Sul e em outras partes da Terra. O terrorismo ataca pontualmente, depois que países e povos antes humilhados, escravizados, colonizados decidiram, a seu modo, revidar aloprada e cegamente. Suportaram as Cruzadas, as “descobertas”, uma colonização infame e predadora, tiveram muita paciência. Ela esgotou-se para desespero do Ocidente tão cristão e civilizado. O ataque cego não se justifica, mas lembra, por exemplo, o ataque dos cruzados contra cristãos orientais. Se as pessoas se vestiam à moda oriental não podiam ser cristãs ... Lógica implacável do colonialismo que se iniciava, esquecendo que Jesus Cristo, Maria, os apóstolos se vestiam como os judeus da época, e que o cristianismo é uma religião de cepa oriental.
No Brasil, urubu está voando de costas, como dizia Stanislaw Ponte Preta. O golpe expõe sua incompetência e sua falta de votos. Tem um ministro manda-chuva que chamam de Eliseu Quadrilha ..., fora os que já foram defenestrados devido a suas folhas corridas ou a malfeitos mais recentes. Incrivelmente, os funcionários públicos do Estado do Rio (saudade do Estado da Guanabara) estão passando fome e sendo socorridos por colegas mais abonados ou cestas básicas. Insensível ao problema, o Judiciário de lá quer contratar garçons e copeiros para atender à parca fome (já comem muito) de Suas Excelências.
É um fim de ano que só deixará saudades na turma que vive às nossas custas como rentistas, parlamentares folgados, magistrados folgados, arquifolgados membros do Executivo. Esta situação, que nós não merecemos, só poderá mudar se anularmos o golpe, mandando essa corja para casa. O presidente usurpador, que mais parece um mordomo de filme policial, já está bem com a fortuna e incrível aposentadoria que acumulou, com tanto trabalho, diga-se de passagem, arrancando benesses aqui e acolá. Temos que reconhecer que a presidente deposta cometeu erros graves e não estava cumprindo o prometido em sua segunda campanha. Mas ela foi eleita, não deu golpe em ninguém e poderia melhorar se escutasse os conselhos de sábios do partido dela e de outros. Em suma, se soubesse fazer política. A saída é convocar, pela primeira vez em nossa história, uma Constituinte pra valer, sem profissionais profiteurs da política, e depois, só depois, eleger um presidente legítimo e um Congresso decente. Não sem antes mandar o golpista usufruir em Miami (como nossos políticos e ricaços fajutos gostam de Miami!) a fortuna que juntou com seu “Abre-te, Sésamo. Pensar em punição pra ele seria miragem. A não ser que o juiz Moro se converta a uma Justiça apartidária e equânime.
Aqui no Nordeste, uma prolongada seca maltrata os sertanejos e aumenta o êxodo rural para as cidades já inchadas e mal governadas. O que regiões ainda mais áridas que o assim dito Polígono das Secas conseguem fazer para conviver com o fenômeno cíclico, como irrigação e armazenagem de água em açudes, cisternas, nossos competentes governos se recusam a fazer. Apesar de possuírem bons estudos nesse sentido, como os acumulados nos arquivos da Sudene por uma missão israelense que por aqui trabalhou vários anos. Israel e o Texas, para citar apenas essas regiões, são mais áridos que o nosso Nordeste.
PS – Estou estudando algumas modificações neste blog, de olho nos meus leitores. Meu filho Paulo, que é do ramo, é meu assessor para assuntos internéticos.

Finalmente, apesar de tudo de mal que estamos enfrentando, desejo que vocês tenham passado um Natal razoável com suas famílias e que, para todos, 2017 seja um ano melhor para nós, o Brasil e o mundo.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

NOITE FELIZ! NOITE FELIZ! MAS NÃO PARA TODOS. ISSO APÓS 2 MIL ANOS DE CRISTIANISMO

Estamos quase no Natal e às vésperas do Ano Novo, um tempo que teoricamente deveria renovar o espírito do Evangelho e dos Atos dos Apóstolos naqueles que se proclamam cristãos (católicos romanos, protestantes, ortodoxos e outras denominações). A designação dos protestantes vem do protesto do teólogo alemão Matinho Lutero contra a venda de indulgências e outros abusos de um papado que quase nada mais tinha de fidelidade ao Evangelho. Hoje, muitos deles preferem se chamar evangélicos, puxando para si o monopólio do Evangelho. Estranhamente, muitos deles esqueceram o legado de Lutero, o mais conhecido dos reformadores, e criaram aí uma Teologia da Prosperidade, em oposição à Teologia da Libertação nascida na sofrida Igreja da América Latina. Vendem a salvação em doses homeopáticas, para o dinheiro continuar pingando. Seus lideres são milionários e pouco entendem das Sagradas escrituras, que interpretam de acordo com suas ambições e metas.
Os católicos romanos não ficam atrás no esquecimento dos ensinamentos de Jesus Cristo. Depois de dois mil anos da passagem dele sobre a Terra e da sua pregação e exemplo, o que vemos? O que restou da vida cristã descrita nos Atos dos Apóstolos? Durante a Idade Média, cristãos guerrearam contra cristãos. E esse belo costume prosseguiu no Renascimento e até hoje. A Europa tão “cristã”, que hoje tange e persegue muçulmanos e outros refugiados de países outrora explorados por ela, viveu engalfinhada em sangrentos conflitos até a 2ª Guerra Mundial, e ainda sobrou depois para bósnios, croatas e outros. Os “cristãos” que ganham dinheiro com a fabricação e venda de armas ficaram indóceis após a vitória aliada de 1945. A paz não durou quase nada. Em 1950, para alegria das indústria bélica, o governo estadunidense resolveu tomar para si as dores de parte da Coreia que não aceitava o comunismo. Com que mandato? Quem sabe, o do Mundo Livre, uma entidade quase mitológica que acobertava e acoberta muita canalhice em nome do que chamam de democracia, capitalismo, livre comércio etc.
Os países de maioria cristã, ou assim proclamada, nos oferecem um belo espetáculo que vai de meia dúzia de bilionários à extrema pobreza, de uma política de vale-tudo que caminha e avança entre golpes contra a vontade expressa nas urnas. Caso do Brasil atual. Eleições podem ser um modelo que funcione se o espírito golpista for um dia arquivado. O espetáculo continua (só a bailarina não tem pereba nem frieira ...). Crianças morrendo de doenças curáveis e evitáveis, de fome, enquanto verbas para saúde e educação são afanadas pelos “cristãos” lá de cima, com golpe ou sem golpe. Doenças que já havíamos debelado há muito tempo voltando, como cólera, lepra, tuberculose. Políticos comprando suas eleições. Autoridades escolhendo com critérios ideológicos quem deve ser punido e quem deve ser preservado numa redoma; como ocorre na assim dita República de Curitiba. Nada contra a punição de culpados, desde que com isenção. Outra observação: desde Pero Vaz de Caminha, a propina, a corrupção, o compadrio alavancam negócios. Não é invenção do PT, embora este prometesse ética na política. Ainda na trilha do espetáculo, a seca, eterna e sem combate sério, castigando as populações pobres do Semiárido. Estudos há para uma convivência com a seca, através de irrigação, açudes, cisternas; mas não interessa aos nossos “podres poderes”, agora ainda mais podres com o golpe, resolver esse problema.
Voltando aos dois mil anos de cristianismo, lembro, nesta época natalina, como os “cristãos” tratam seus subalternos ou os que veem assim. Solte-se num xópim (me perdoem, mas esse uso abusivo do inglês por nós colonizados é intolerável; no caso, faço um aportuguesamento de shopping). Nós que nos dizemos cristãos nos incomodamos com as centenas de pobres comerciários (talvez o setor trabalhista mais explorado) que nos servem com tanta atenção (claro que há exceções)? Na nossa cultura escravocrata, é como se fossem nossos escravos. Nada de um sorriso, um agradecimento, uns centavos nas caixinhas.
Buzinamos mais nervosos (é preciso correr, comprar, ter muita coisa) em nossos confortáveis carrões, queremos passar na frente quando não dá, desrespeitamos todas as regras de convivência humana, que dirá cristã. E o Menino Jesus? Ah! o Menino Jesus? Ainda nos lembramos dele? O importante é uma bela e gostosa ceia de Natal, de preferência melhor que a do vizinho. E a Missa do Galo? Sob o pretexto da violência, foi empurrada para as 21h ou 22h. Na Terra Santa, os cristãos têm de se virar para chegar a suas igrejas, pois os sionistas picotaram os espaços dos palestinos. E, nos lugares santos, clérigos de diversas denominações cristãs brigam literalmente por pedaços de lembranças.

E Jesus Cristo não disse que “todos sejam um”?

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

PARLAMENTARISMO É UM BOM REGIME, MAS NÃO COMO CONCHAVO

Com a situação do país mais pra urubu que pra colibri, como dizia o inesquecível Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do jornalista Sérgio Porto, surge todo tipo de palpite. Desde o impedimento do presidente usurpador, que seria substituído provisoriamente pelo ínclito Fernando 2º (FHC), que chafurda no golpe (vai terminar em Irajá; lembram aquele teatro de revista?). Ou por Aecinho, que afinal ganharia o brinquedinho dele. Não poderia faltar, mais uma vez, a sugestão do parlamentarismo. Regime excelente em que o país é governado por um primeiro-ministro, enquanto o presidente da república exerce funções praticamente decorativas, menos aquela de nomear o premiê escolhido pelo parlamento. É chefe do Estado; o premiê chefia o governo. Nele os ministros são escolhidos dentre membros do parlamento para, junto com o primeiro-ministro, exercerem o Poder Executivo.
A questão que se põe no Brasil é que a proposta desse regime está associada ao golpe contra Jango (o primeiro) para impedi-lo de exercer plenamente a Presidência, conforme a Constituição. Era 1961 e o maluco Jânio Quadros havia renunciado num contexto de golpe. Os golpistas do Exército ainda não se julgavam em condições de dar o golpe que deram três anos depois, com a preciosa ajuda da troncha elite brasileira. Também ainda não haviam acertado a mais preciosa ainda ajuda dos Estados Unidos. Aqueles que já preparavam o golpe e a ditadura de 21 anos concordaram com a posse daquele que odiavam por ser ligadíssimo a Getúlio e haver aumentado em 100% o salário mínimo, quando ministro do Trabalho. Mas só depois de arrancarem do Congresso (ah! o Congresso) um regime parlamentarista-golpista. Regime pouco depois rejeitado, pelo povo, em plebiscito, o que aumentou o ódio dos golpistas contra João Goulart.
No Império, que poderia ter sido aperfeiçoado e democratizado, em lugar do golpe republicano positivista e militarista, houve um parlamentarismo sui generis em que partidos sem muita substância se alternavam no poder e a vontade dos poucos eleitores não era respeitada.
Após o fim da ditadura 1964-85, houve um plebiscito para saber se o eleitorado desejava um regime parlamentarista; como houve outro para saber se o povo queria mesmo a República ou a volta da monarquia. Tanto o parlamentarismo como a monarquia foram rejeitados. Em ambos os casos, não houve quase nenhum esclarecimento aos votantes sobre o que se deveria decidir. Ulysses Guimarães pretendia percorrer o país pregando a opção parlamentarista e ensinando ao eleitorado o que significa esse regime. Foi vitimado por uma queda de helicóptero. O plebiscito decidiu pela continuação do presidencialismo
A nossa elite (tão democrática!...) adora um conchavo em benefício próprio. Daí não progredirmos na construção da democracia, no respeito à vontade e objetivos da população (agora mesmo estamos padecendo o conchavo golpista com Temer, e a elite já pensa em outro usurpador). O palpite parlamentarista da vez tem tinturas de um semiparlamentarismo inventado por De Gaulle na França e imitado por Portugal. O presidente da República, nesse regime híbrido, conserva poderes de governo; governa com o premiê. Para mim, não faz sentido. A Alemanha e a Itália, por exemplo, têm longevos regimes parlamentaristas desde o pós-guerra, que, entre altos e baixos, funcionam. A Itália, por exemplo, padeceu o longo reinado da Democracia Cristã (DC, de origem católica conservadora, mas também mafiosa) e, mais recentemente, governos do milionário Berlusconi, uma espécie de Trump peninsular. Mas nunca recaiu em ditadura. Houve também um momento muito interessante, quando Berlinguer, secretário-geral do Partido Comunista Italiano, propôs à DC um governo conjunto. Era o compromesso storico. A DC não aceitou e ainda deixou sequestradores matarem Aldo Moro, grande líder do partido.
Outro conchavo muito caro à Casa-Grande é, antes da invenção do golpe pseudoconstitucional, a alternativa entre eleições gerais para todos os postos, desde presidente da República a vereador, e eleições separadas. Quando estamos com eleições separadas e a elite está com algum problema, logo propõe juntar tudo, de preferência com mandatos-tampão.

Em tempo, o STF desmoralizou-se, mais uma vez, deixando-se peitar pelo ínclito Renan Calheiros. Não é novidade. Em 1947, por exemplo, sob assédio feroz da Casa-Grande e do Departamento de Estado, cassou o registro do Partido Comunista Brasileiro (o Partidão, nada a ver com PCdoB, uma dissidência de 1962, por aí). Não satisfeito, cassou os mandatos de dezenas de deputados e senadores eleitos em 1946 pela legenda.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

JUÍZES, PROCURADORES, POLICIAIS ESTARIAM ACIMA DA LEI?

Todo mundo quer que a corrupção se torne mais moderada no Brasil. Acabar com ela é impossível. Deseja também que a perseguição aos corruptos e sua punição não abra nenhuma exceção, pois todos são iguais perante a lei numa democracia. Há algo diferente em Pindorama, pois nunca se viu sob vara ou na cadeia empresários, diretores de estatais, políticos de brilhante plumagem. Por outro lado, o que se viu nas marchas do domingo passado foi uma exaltação equivocada de uma justiça de cartas marcadas, de procuradores, promotores, policiais e juízes incapazes de ver e tratar questões e faltosos, supostos ou não, que não se enquadrem em sua ideologia e visão do mundo. Os pecados da Petrobras nos governos de Fernando 2º (FHC), por exemplo, quando a empresa pública era dirigida (?!) por um genro dele que conseguiu afundar uma plataforma de petróleo, algo inédito, nunca foram penitenciados. O frustrado Aécio Neves não leva nem um cascudinho.
Parece que essa turma dos movimentos do domingo marcha para ouvir o ruído de seus passos, grita para sentir o eco de suas vozes. Você vê por ali pessoas que estão no topo da sociedade de classes, burgueses, patrões de grandes grupos, políticos catapultados por votos comprados? Nada disso. São empregados que podem ser demitidos a qualquer hora, no bojo deste nosso capitalismo selvagem em que o pão e a roupa de uma família dependem do apetite por lucros, da mais-valia. Ou já desempregados que aguardam ter de novo sua carteira assinada. Ou gente arrebanhada para fingir que está manifestando.
A gente fica pê da vida quando vê a maioria dos nossos congressistas fazendo tudo aquilo que não é representar o eleitorado, a população. Quando Suas Excelências aprovam algo de bom, o que certamente é a vigilância e punibilidade de juízes, policiais, membros do Ministério Público que extrapolarem suas funções ou agirem fazendo política ou outros malfeitos, a Casa Grande se arreta. Nada contra boa parte do trabalho do juiz Moro (embora tenha se tornado vedete), dos procuradores da Lava-Jato (embora se achem os donos da verdade). Nada contra a parte boa do trabalho deles. Mas tudo contra a partidarização de grande parte do trabalho deles.
Note-se que há uma tendência, neste país tropical, de juízes, policiais, procuradores se pronunciarem frequentemente sobre seu trabalho, dando palpites, pré-julgando. Da Suprema Corte dos Estados Unidos (nosso modelo para o bem e para o mal) só se ouve falar quando há uma decisão importante, como no caso anti-discriminação racial. Aqui, juízes do STF dão seguidas entrevistas, visitam membros do Executivo e Legislativo antes de tomar decisões, falam sobre como vão julgar. É enorme a confusão e o desvio de conduta. Tem aí um ministro do Supremo, por exemplo, Gilmar Mendes, que é concomitantemente homem de negócios e homem à disposição de protegidos para habeas-corpus e pedidos de vista. Já solicitaram até o seu impedimento; mas trata-se de pessoa muito temida. Em outras instâncias do Judiciário, graças ao corporativismo ali reinante, punições, quando há, são brandas (p. ex. o cara é aposentado com direito a seus gordos proventos). Não é pequena a quantidade de juízes-empresários. Por que juízes, membros do MP, policiais não poderiam ser bem vigiados, como os demais cidadãos, e punidos quando merecessem? Estariam acima da lei?
PS – Com a permissão do arcebispo Dom Fernando Saburido, grupos de cristãos realizarão uma vigília das 18h às 22h desta terça-feira, nos jardins do Palácio dos Manguinhos (Cúria Arquidiocesana), com o sentido de orar e adotar ações para que o Congresso não aprove a PEC 55, antiga 241, pela qual o atual governo golpista poderia tornar os pobres e miseráveis brasileiros ainda mais pobres e miseráveis. Seriam 20 anos a pão e água para educação, saúde, políticas sociais.
A vigília se dará à luz da fé e da esperança por um mundo mais justo. Os movimentos participantes são:
Movimento de Trabalhadores Cristãos
Centro Educacional Profissionalizante do Flau
Tenda da Fé
Pastoral da Juventude do Meio Popular
CEBs PE (Comunidades Eclesiais de Base)
Grupo de Leigos Católicos Igreja Nova
Fé e Política dom Helder Camara
Encontro da Partilha

Movimento de Mulheres contra o Desemprego

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

PATRIA O MUERTE! VENCEREMOS! TENEMOS Y TENDREMOS SOCIALISMO!

Quem anda por Havana encontra várias faixas estendidas pelas praças com os dizeres acima e outros. Mas, não é que o Comandante Fidel Castro morreu? Morre o homem, fica a fama, como se canta no samba. Fama e legado. Forte, a ponto de suportar anos de guerrilha, desde o leste da ilha de Cuba até tomar a capital (os cubanos o chamavam de el Caballo), não poderia resistir para sempre ao avanço da idade e às doenças. Desde que ele entrou vitorioso em Havana, em 1959, quando eu acabava de descobrir que não tinha coragem de assumir o compromisso do celibato e daí haver deixado a vida clerical, que eu tinha vontade de conhecer a nova Cuba. Só consegui fazê-lo quase 40 anos depois, em 1998, quando o Jornal do Commercio me enviou pra lá com a missão de cobrir a visita à ilha do papa João Paulo 2º.
Gostei muito da oportunidade e me diverti, por exemplo, com um Fidel ainda forte tratando quase filialmente o papa polonês já abatido. Tentei conversar com umas garotas de escolas católicas que pregavam panfletos pela rua. Desconfiadas com aquele estrangeiro que podia estar espionando, o papo não prosperou. Encontrei depois num bar um seminarista falante e que não aprovava a Revolução. Falei a ele sobre o livro Fidel y la religión, de Frei Beto. Ele considerava Frei Beto equivocado. Eu não vi nenhum constrangimento à prática de religiões. Como aqui, há muito sincretismo. Aliás, Cuba parece demais com Pernambuco, no clima, nas plantações de cana, na religiosidade, na miscigenação.
À margem do meu trabalho para o jornal, consegui conhecer um pouco do país. Não vi ninguém pedindo esmola. Também não vi ostentação de riqueza. A educação pública é algo de sensacional no contexto latino-americano. Pelas 7 horas, a gente vê uma multidão de crianças indo para a escola, sozinhas e sem medo de serem atropeladas. O taxi que usei em Havana era de um cabra (esqueci seu nome) que tinha servido em Angola e falava um razoável português. Fiquei conhecendo a Habana Vieja, que é uma preciosidade arquitetônica, com a Catedral, o Palacio de los Capitanes Generales, o forte La Cabaña, com o escritório de Che Guevara do jeito que ele o usava antes de partir para a África e a Bolívia. Passei pelo Hotel Ambos Mundos, onde Ernest Hemingway morou muito tempo (ele adorava Cuba, mesmo após a Revolução; e foi lá que escreveu O velho e o mar). Tomei mojito e daiquiri nos famosos bares por ele frequentados, o La Bodeguita del Medio e o La Floridita. Dizia ele, para fazer média com os dois, que o melhor mojito era o do La Bodeguita e o melhor daiquiri era o do La Floridita.
Fui recebido no aeroporto de Havana pelo casal Maria Helena e Luis, ele diplomata (já serviu em Brasília) e ela funcionária do Ministerio del Trabajo. Fui recomendado a eles por minha amiga Fernanda Rego, que os conheceu aqui e já havia visitado Havana. Entrevistei o brasileiro Hélio Dutra, comunista que morava em Cuba representando uma indústria farmacêutica e, com a vitória dos guerrilheiros de Sierra Maestra, resolveu ficar por lá mesmo. Essa entrevista foi publicada no jornal Granma, do PC cubano. Ora, dirão alguns, imprensa oficial; cadê a liberdade de expressão? De fato, não vi lá jornais de oposição. Mas, e no Brasil? Com raríssimas exceções, todos os jornalões e outros meios de comunicação falando a mesma linguagem, sonegando ou distorcendo informações, formando um autêntico partido político contra qualquer tendência esquerdista ou de simplesmente melhorar um pouquinho a sorte do povão. E, quando se fala em regulação da mídia, como há nos Estados Unidos, Grã-Bretanha, França etc., vem logo a gritaria: é censura, é contra a liberdade de expressão. Uma rede de TV com o poder da Rede Globo é uma imoralidade só possível aqui. A cobertura da morte de Fidel está sendo grande e também se tem falado muito sobre a Revolução e seu desempenho em quase 60 anos. Ditadura? Golpe? Sem dúvida, foi uma autêntica Revolução, fruto de uma guerrilha que se opunha a um ditador que tinha o apoio e a ajuda militar dos EUA, o grande semeador de golpes pelo mundo a fora. Democracia liberal seria coisa de branco pra eles.

Já escrevi muito. Fidel morreu, mas seu legado continua. O bom legado. Ele adotou um comunismo à moda soviética, que era mais estatismo que socialismo, quando sabemos que a sociedade é que manda no socialismo. E quando falo em socialismo, nada a ver com o social-coronelismo à brasileira. Che Guevara queria um novo comunismo à cubana, mas foi voto vencido. Hoje vemos, mesmo quando Fidel ainda era o presidente, muitas reformas que podem levar Cuba para um regime mais aberto.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

ALDEIA CERTAMENTE MAIS POBRE SEM JOHN WILLYS FRYER

John Fryer não era apenas uma pessoa que adotou Aldeia como morada e criou uma escola das melhores de Pernambuco e do Brasil. Ele foi um grande educador e um estadunidense que se tornou brasileiro pelo casamento com a baiana dona Lígia e a adesão a um país ao qual veio através do programa Peace Corps criado pelo presidente Kennedy. Desembarcou no Recife e daqui foi para o interior da Bahia, onde conheceu dona Lígia, que lhe deu aulas de português. Voltou para os EUA e conseguiu outra temporada no Peace Corps.
Após casar com dona Lígia, uma união que durou meio século, voltou para sua terra. Antes de vir para o Brasil, prestara serviço militar na Força Aérea e cursara a Universidade de Minnesota. Fez ali pós-graduação em ciências e depois foi convidado para ensinar na Escola Americana de Setúbal, no Recife, onde foi diretor. Foi quando comprou terreno em Aldeia e resolveu criar sua própria escola, a Escola Internacional de Aldeia (EIA). Começado com dificuldade, o estabelecimento de ensino tomou impulso e criou fama, graças ao empreendedorismo e à vocação de educador de Mister Fryer (como o chamavam seus pupilos). Com quase 40 anos, a escola ensinou e educou gerações.
Depois de ao mesmo tempo estadunidense e baiano, John Fryer tornou-se um aldeense ativo e participativo. Daí eu dizer que Aldeia está mais pobre sem ele. Mantinha atividades filantrópicas, por conta própria ou através do Rotary, inclusive uma creche no Rachão. Fez muitos amigos. Não há por aqui quem não o conheça nem a EIA. Tive o prazer de conhecê-lo quando ele apareceu na Redação do Jornal do Commercio com Antônio Portela, colega e amigo meu, quando o jornal ainda funcionava na Rua do Imperador. Posteriormente, vim me esconder por estas abençoadas (ou nem tanto; bárbaros querem destruir a natureza) bandas e fiquei querendo muito bem a ele.
Um ritual que passei a integrar é uma reunião semanal que junta vários amigos para bater papo e salvar o mundo. Antes em Zé do Mé, hoje o encontro se dá, às sextas-feiras ao cair da tarde, n’O Quintal, do Antônio, na galeria Business, defronte do Vila Aldeia. Estávamos reunidos ali, no último dia 11, quando chegou a notícia da morte dele dada por seu filho Mike. Ficamos consternados. Antes de sofrer um AVC há uns cinco anos, John Fryer era muito ativo e andarilho. Depois foi declinando. Mesmo assim, antes de ser hospitalizado com maior frequência, sempre comparecia ao nosso encontro das sextas em cadeira de rodas. Também ia sempre que podia à EIA, tocada com competência por Mike e dona Lígia. Eles têm mais dois filhos, Patrick e Christie, que moram nos EUA.
Que o meu amigo descanse em paz. Escrevo sobre ele também na revista Viver Aldeia, de Consuelo e Carlyle Paes Barreto, e no início de dezembro (provavelmente dia 3) no Jornal do Commercio.


PS – Transcrevo nota do Fórum em Ação, informativo do Fórum Suape Espaço Socioambiental, sobre ato público realizado no Recife, por moradores e pescadores, em protesto contra violências recebidas da direção daquele complexo. Reivindicam moradias dignas para as famílias da região despejadas e permanência e consolidação das comunidades tradicionais, com regularização fundiária. E pedem o fim das violências contra eles, praticadas por milícias armadas. Acrescento eu: como é ruim uma ditadura disfarçada, após anos de políticas sociais inclusivas.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

CADÊ A MOBILIDADE URBANA, CALÇADAS, TRÂNSITO FLUENTE?

Tivemos eleições para prefeitos e vereadores. Ótimo, ou nem tanto, pois as coisas emperram na politicagem miúda. Pior era no tempo da ditadura escrachada (o atual golpe é envergonhado) quando era tudo na ordem unida. Tem aí um tal de Partido Socialista, que melhor se chamaria de Partido Social-Coronelista. Vejamos um exemplo, a tão falada mobilidade urbana. Entra governo e sai governo e não se dá a mínima prioridade ao transporte urbano, seja público ou concedido. Aliás, o público diluiu-se. Acabaram com a Companhia de Transportes Urbanos (CTU) de Pelópidas da Silveira e pronto. Velharia o ônibus elétrico, como foi declarado também o bonde. Esse pessoal das mordomias vive viajando para o exterior, mas não vê nada que preste, como elétricos e bondes em Paris, Lisboa e outras cidades “atrasadas” da velha Europa.
Todos proclamam a prioridade do transporte público, mas dependem de financiamento eleitoral (dribla-se a lei) dos assim ditos “empresários” do setor privado. O metrô se arrasta, embora tenha sido muito bom quando inaugurado. Os ônibus são insuficientes, superlotados, mal dirigidos por motoristas despreparados e a maioria com garantia vencida. Para a maioria dos políticos, inclusive os social-coronelistas, o povão, o eleitorado só servem para elegê-los; e isto por ser obrigado a votar, algo que só existe no Brasil, creio. O voto é um direito, não uma obrigação. Um povo politizado e que pode contar com bons representantes exerce satisfeito seu direito de votar, sem precisar de nenhuma coerção. Passada a eleição, os coronéis da política esquecem todas as promessas de campanha.
Há uns dois domingos, a coleguinha e grande repórter do JC Roberta Soares produziu matérias sobre outro calo da mobilidade pública, as calçadas do Recife e adjacências. Não só para cadeirantes, deficientes visuais, idosos, elas constituem ciladas permanentes. Ela traz o depoimento de um cadeirante, Eduardo Albuquerque. Ambulante, ele depende dos outros para ter acesso aonde precisa ir. Frequentemente precisa usar a rua para se locomover, com o perigo de ser atropelado, pois as calçadas são péssimas ou ele não tem acesso adequado a elas. Não há fiscalização nem espírito de cidadania. Aqui não podemos pensar como Che Guevara: Se hace el camino al andar ...
Roberta faz uma lista do que deveriam ser as calçadas ideais: devem ser largas (mínimo de 1m95), sem interrupções nem invasões (ao menos 1m20 livre), articuladas com a travessia das ruas; ter iluminação própria, não só da rua, e não encoberta por galhos de árvores; num clima como o nosso, arborização para tornar o caminhar mais estimulante, com árvores enquadradas nos padrões das calçadas; as calçadas precisam de segurança, acesso fácil a faixas de pedestres. Onde temos calçadas assim no Recife?
“Todos somos caminhantes, mas esquecemos. A sociedade menospreza o hábito de andar a pé”, escreve a repórter. Certíssimo. É caminhando que a gente conhece as cidades e delas se apossa. E aqui dou um testemunho pessoal. Eu andava muito a pé, quando tinha mais mobilidade, não precisava de bengala. Foi assim que conheci bem Roma e Lyon, onde estudei, Paris, lugar de várias passagens. Não dava para conhecer Paris de metrô, pois são poucas as linhas de superfície, como Trocadéro, Cité Universitaire. Tinha que ser a pé mesmo. Também tem ônibus e, quando havia greve, vinham caminhões do Exército fazendo média com a população (“L”Armée vous aide”, o Exército ajuda vocês). Era o tempo da guerra da Argélia. Em Roma, eu caminhava de colina em colina, com aquela disposição, descobrindo coisas escondidas, como a estátua em homenagem à brasileira Anita Garibaldi, a Salita Del Grillo, a Piazzale Brasile, a Isola Tiberina etc. Mais longe, o Lido di Roma, Ostia Tiberina, onde assassinaram Pier Paolo Pasolini, que desagradava ao establishment.

Na cultura nouveau riche brasileira, caminhar é algo inferior, de pobre (“Tenho horror a pobre”, dizia o Justo Veríssimo do imortal Chico Anísio), sem carro E aí entra o horror nacional de “todo o poder ao automóvel” (parodiando o “Todo o poder aos sovietes” de Lênin). Nossos governos decidiram trocar as estradas de ferro por rodovias, para garantir a expansão da indústria automobilística. Só que pararam os trens e construíram péssimas rodovias (com raras exceções). Mesmo com a crise, todo dia centenas de carros entopem, literalmente, as ruas das cidades. Caminhamos para o engarrafamento final, sobre o qual já escrevi.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

A JUSTIÇA MAIS CARA DO MUNDO DEVERIA SER A MELHOR DO MUNDO. E O QUE A GENTE VÊ?

Recebi do arguto Antônio Leal de Campos, que me envia muitas observações e notícias interessantes, este artigo transcrito do “insuspeito” O Globo, de autoria de Marco Antonio Villa. Vale a pena ler, sobretudo numa conjuntura em que a Justiça ajudou até demais a derrubar uma presidente eleita (não discuto aqui a competência dela) e por em seu lugar um impostor golpista que, desde o início do segundo mandato presidencial de Dilma, preparava o bote no Planalto. E, além disso, está a serviço de uma gangue disposta a desmontar as fontes de riqueza do país. Recentemente, o repórter André Barrocal (Carta Capital) fez extenso levantamento sobre os custos do Judiciário e Ministério Público (MP) no Brasil. Um resumo: o nosso Judiciário, o mais caro do planeta, custa 1,30% do PIB. O segundo mais caro, da Venezuela, gasta apenas 0,34%; quanto ao nosso MP, custa 0,32% do PIB, enquanto o segundo mais caro, da Itália, custa 0,09%.
Ao artigo de Villa.


O Superior Tribunal de Justiça (STJ), que se autointitulou tribunal da cidadania, foi uma criação da Constituição de 1988. É formado por 33 ministros, guarde este número. O STJ recebe pouca atenção do grande público. O Supremo Tribunal Federal acaba ocupando todos os espaços. A designação de um ministro para o STJ passa geralmente em branco; já o mesmo não ocorre com o STF.
Em 2011 e 2013, examinei os gastos do STJ e fiquei estarrecido. O curioso é que todos os dados aqui apresentados estão disponíveis no site do STJ, mais especificamente no Portal da Transparência. O último relatório de gestão anual disponibilizado é de 2013. Os dados são estarrecedores. O orçamento foi de R$ 1.040.063.433,00! (um bilhão, quarenta milhões, sessenta e três mil e quatrocentos e trinta e três reais, ou irreais)
Somente para o pagamento de aposentadorias e pensionistas foram despendidos R$ 236.793.466,87, cerca de um quarto do orçamento. Para os vencimentos de pessoal, foi gasta a incrível quantia de R$ 442.321.408,00. Ou seja, para o pagamento de pessoal e das pensões e aposentadorias, o STJ reservou dois terços do seu orçamento.
Setembro é considerado o mês das flores. Mas no STJ é o mês do Papai Noel. O bom velhinho, três meses antes do Natal, em 2014, chegou com seu trenó recheado de reais. Somente a dois ministros aposentados pagou quase 1 milhão de reais. Arnaldo Esteves Lima ganhou R$ 474.850,56 e Aldir Passarinho R$ 428.148,16! Os dois somados receberam o correspondente ao valor da aposentadoria de 1.247 brasileiros.
A ministra Assusete Dumont Reis Magalhães embolsou de rendimentos R$ 446.833,87, o ministro Francisco Cândido de Melo Falcão Neto foi aquinhoado com R$ 422.899,18, mas sortudo mesmo foi o ministro Benedito Gonçalves, que abocanhou a módica quantia de R$ 594.379,97. Também em setembro, o ministro Luiz Alberto Gurgel de Faria recebeu R$ 446.590,41. Em novembro do mesmo ano, a ministra Nancy Andrighi foi contemplada no seu contracheque com R$ 674.927,55, à época correspondentes a 932 salários-mínimos, o que, incluindo o décimo terceiro salário, um trabalhador levaria para receber 71 anos de labuta contínua.
Nos dados disponibilizados na rede, é impossível encontrar um mês, somente um mês, em que ministros ou servidores (não exemplifiquei casos de funcionários, e são vários, para não cansar, ou indignar, ainda mais os leitores) não receberam acima do teto constitucional. São inexplicáveis estes recebimentos. Claro que a artimanha, recheada de legalismo oportunista (não é salário, é rendimento), é de que tudo é legal. Deve ser, presumo. mas é inegável que é absolutamente imoral.
Em maio de 2015, o quantitativo de cargos efetivos era de 2.930 (eram 2.737 em 2014). Destes, 1.817 exerciam cargos em comissão ou funções de confiança (eram 1.406 em 2014). Dos trabalhadores terceirizados, o STJ tem no campo da segurança um verdadeiro exército privado: 249 vigilantes. De motoristas são 120.
Chama a atenção a dedicação à boa alimentação dos ministros e servidores: são 4 cozinheiras, 29 garçons, 5 garçonetes e 54 copeiros.
Isto pode agravar a obesidade, especialmente porque as escadas devem ser muito pouco usadas, tendo em vista que o STJ tem 32 ascensoristas.
Na longa lista são 1.573 nomes em 99 páginas; temos pedagogas, médicos, encanadores, bombeiros, repórteres fotográficos, recepcionistas, borracheiros, engenheiros, auxiliares de educação infantil, marceneiros, jardineiros, lustradores e até jauzeiros (que eu não sei o que é). Para assistência médica, incluindo familiares, foram gastos, em apenas um ano, R$63 milhões, mais R$4 milhões para assistência pré-escolar(??).
Pela quantia despendida em auxílio-alimentação, quase R$ 25 milhões, creio ser necessário um programa de emagrecimento de ministros e servidores. Mas os absurdos não param por aí. Somente para comunicação e divulgação institucional foram reservados mais de R$ 7 milhões de reais. E não será por falta de veículos que o STJ vai deixar de exercer sua atribuição constitucional. Segundo dados de 31 de janeiro de 2015, a frota é formada por: 57 GM/Ômega, 13 Renault/Fluence e 07 GM/Vectra, além de 68 veículos de serviço, perfazendo um total de 146 veículos novos. E, como são 33 ministros, cada excelência tem, em média, à sua disposição, 4 veículos.
Como foi exposto, há 2.840 efetivos e mais 1.573 servidores que são terceirizados, perfazendo um total de 4.413, que já é um número absurdo para um simples tribunal, apenas um. Ainda tem mais gente: segundo o relatório anual de 2013 (volto a lembrar que é o último disponibilizado) há mais 523 estagiários. Sendo assim, o número total alcança 4.936 funcionários!
É raro uma Corte superior no mundo com os gastos e número de funcionários do STJ. Contudo este não é o retrato da Justiça brasileira. Onde a demanda é maior, como na primeira instância, faltam funcionários, o juiz não tem a mínima estrutura para trabalhar e está sobrecarregado com centenas de processos, além de sofrer ameaças de morte por colocar a Justiça acima dos interesses dos poderosos. No conjunto não faltam recursos financeiros ao Judiciário. A tarefa é enfrentar, combater privilégios e estabelecer uma eficaz alocação orçamentária.

Este dever não pode ser reservado somente aos membros do Poder Judiciário. Ele interessa a toda a sociedade. Isto explica em parte a falta de dinheiro para a saúde, educação e segurança!!! É preciso modificar isto! Precisamos de atitudes e sugestões urgentes, pois já estamos na pior há muito tempo, com estes políticos e autoridades acabando com o nosso Brasil em benefícios próprios e vergonhosos.

sábado, 5 de novembro de 2016

PAULISTA É GENTE BOA, MAS É DE LASCAR O CANO. EU NASCI NO PAJEÚ, MAS SÓ ME CHAMAM DE BAIANO

Gente amiga, não pude postar esta matéria no início da semana, por motivo de saúde. No início da próxima semana, volto a minha atual rotina de uma postagem por semana. Voltarei a fazer mais postagens quando conseguir um entendimento com o Google sobre a sustentabilidade financeira deste blog. Agora, ao assunto de hoje.
“Non ducor, duco” (Não sou conduzido, eu lidero). Este lema da bandeira do Estado de São Paulo exprime bem a situação de liderança que o paulista se atribui. Muitos paulistas e paulistanos menos conscientizados, ou mais provincianos, acreditam que tudo o que ocorre ali tem características de vanguarda e repercute necessariamente no resto do país. Embora às vezes contrariando a realidade. Eu pessoalmente gosto muito de São Paulo, de onde nunca deveria ter saído depois que ali me refugiei dos desmandos da ditadura de 1964-85. Saí por razões, digamos, familiares. Aquela ao menos era uma ditadura desbragada e não um golpe parlamentar meio envergonhado, como hoje. Ali ganhei meu primeiro emprego decente após ter sido demitido da UFPE, então Universidade do Recife. Na Folha de S. Paulo. Era um tempo de muito emprego para jornalistas, inclusive os migrantes que vinham do Sul, do Nordeste, fugindo da Santa Inquisição civil-militar sob a égide do bondoso Tio Sam. A Editora Abril, que ainda não optara por um golpismo desenfreado, praticamente todo ano lançava uma nova revista. Tinha inclusive a excelente Realidade. Havia outras editoras, jornais, revistas.
Ainda sobre São Paulo cantava Luiz Gonzaga: “Paulista é gente boa, mas é de lascar o cano. Eu nasci no Pajeú, mas só me chamam de baiano”. Resolvi escrever sobre esse tema ao ler há alguns dias, no Jornal do Commercio, uma reportagem sobre o Manifesto Regionalista de Gilberto Freyre, de 1926. Logo me veio à lembrança a Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, que muitos paulistas consideram a pedra fundamental do modernismo no país, da liberação do jugo de fórmulas arcaicas de literatura e arte em geral. De fato ela teve importância e a participação de expoentes da arte contemporânea brasileira. No entanto, a influência decisiva dela no resto do país é uma convicção muito paulista. Como a da responsabilidade de São Paulo na independência do nosso país, apesar de Pedro 1º estar apenas de passagem pela cidade a fim de se encontrar com sua amada marquesa em Santos. Deu o famoso grito, já combinado com o pai Dom João 6º em proveito dos portugueses que haviam fugido para o Brasil com medo de Napoleão. De grito em grito é que fazemos nossa tortuosa história, que tem retrocessos fatídicos, como o que está ocorrendo em nossos dias.
Apesar de ser um país de dimensões continentais, culturalmente tudo no Brasil se restringe ao triângulo Rio-São Paulo-Belo Horizonte, inclusive no campo da TV, quase monopolizado pela Rede Globo. Em 1960, Pessoa de Queiroz quis quebrar essa supercentralização ao investir com capricho na montagem da TV Jornal, que produzia inclusive boas matérias jornalísticas e teleteatro. Hoje, nesse ponto, somos todos cariocas e paulistas. Voltando à Semana de Arte Moderna, somente aqueles paulistas mais provincianos acreditam na influência dela sobre a vasta produção literária de gente de primeira grandeza como José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Gilberto Freyre, Câmara Cascudo, Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, entre tantos outros no país inteiro. Ou em sua influência sobre o refugiado lituano Lasar Segall, no campo da pintura não acadêmica.

Quando Gilberto Freyre chama seu manifesto de regionalista é porque sabe que, neste país, fora daquele triângulo sudestino, tudo é regional ou até provinciano. Daí o grande literato que foi ele, muito mais que sociólogo ou antropólogo, ter adotado o termo “regionalista”.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

REGULAÇÃO DA MÍDIA NEM PENSAR. PARA A GLOBO, É CENSURA, E A GLOBO É O PLIM-PLIM DA DEMOCRACIA...

Atenção, gente, é uma citação. “Fundamentais para a democracia, os jornais estão passando por transformações em todo o mundo. A profusão de notícias em redes sociais já foi uma ameaça. Hoje é exatamente esse fenômeno de massa que garante a relevância dos veículos. Quem quiser sair do mar de informações distorcidas ou simplesmente falsas tem que recorrer ao jornal. Impresso ou online. É o jornalista quem filtra, apura, aprofunda e decodifica tudo para o leitor”. É o resumo de entrevista com o novo presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Marcelo Rech, publicada no Jornal do Commercio de quinta-feira passada.
Que bom que assim fosse. Mas não é. Aí pelo mundo, há jornais que informam com bastante isenção e expõem suas próprias opiniões, não como verdades absolutas, mas como aquilo que acham os donos do jornal. Podemos citar o The New York Times, o Washington Post, o The Guardian, o Le Monde, o El Pais, o La Repubblica, entre outros.
Além disso, todo país civilizado faz regulação da mídia. Aqui isso é vetado pela Rede Globo (o grande pilar do poder no Brasil) e apresentado ao público como censura. Ora, censura braba é a que fazem os assim chamados barões da mídia, um oligopólio de poucas famílias neste país tropical. O que caracteriza a nossa grande mídia, capitaneada pelos grupos Globo, Folha, Estadão, é a venda de suas posições políticas, econômicas etc. como verdade absoluta, a manipulação e distorção de informações, a sonegação de informações (são famosos os casos da Globo na campanha da Diretas-Já; aliás esse grupo quase toma a vitória de Brizola para o governo do Rio, manipulando dados das eleições). O golpe do impedimento, por exemplo, é obra prima dessa vergonhosa falta de ética.
É interessante notar a sanha do entrevistado contra as redes sociais e blogs independentes. É claro que há muito lixo nas redes sociais, com as mesmas distorções da grande imprensa, ofensas pessoais, vômito de preconceitos, como também em alguns blogs que acolitam o oligopólio da grande mídia. O Sr. Marcelo Rech parece acreditar, ou é forçado a acreditar, que o jornalão brasileiro dá credibilidade às notícias, dá-lhes uma espécie de certificação. Diz que são tais veículos profissionais e seus jornalistas que fazem “uma apuração técnica com independência”. Ele está convencido (ou faz que está) de que “neste mundo, o bem mais escasso é a informação confiável” Qual mundo? O dos blogs e redes sociais sem compromisso com oligopólios midiáticos e com a notícia oficial: “notícia” com carimbo de tal partido, de tal governo, de tais interesses corporativos.
É grotesco ver a defesa da grande mídia por seu novo guardião à frente da ANJ. Lendo-o, a impressão que fica é de que, nessa área, estamos no melhor dos mundos e, lendo diariamente seus jornais, vendo suas TVs e ouvindo seus rádios, o público fica bem e isentamente informado sobre o que se passa pelo mundo e em Pindorama. O golpe do impeachment é exemplar do que é capaz esse oligopólio. A Rede Globo fez uma bombardeio da presidente deposta, uma tal sonegação e distorção de informações que o público televisivo não tinha pra onde correr. Parecia o bombardeio de Londres na 2ª Guerra Mundial. Agora cuida de apresentar uma boa imagem do impostor. O que se revela muito difícil, sobretudo agora com o aguardado e provável destanpatório de outra criatura global, o Eduardo Cunha. Entregue às feras na perda de mandato pelos seus tão comportados coleguinhas e desamparado pelo presidente saído do golpe, ele não vai deixar por menos: para ganhar do inquisidor Moro uma pena menor para si e sua excelentíssima, certamente vai contar muita safadeza e falcatrua de tantos anos de prática da política à brasileira. Interessante notar que, na ditadura de 1964-1985, os generais de plantão no Planalto se autointitulavam “presidentes”. Hoje, os EUA e aliados ricos abandonaram a sedução dos fardados (que ficaram muito desmoralizados coma a longa aventura; além de não haver mais o perigo comunista) e passaram a patrocinar um golpe mais sutil e que tem dado resultados pra eles: organizam cursos e seminários lá em riba e seduzem para a causa deles juízes, procuradores, policiais. Como nossa cultura ainda é de colonizados e escravagistas, os EUA etc. voltam a nos colonizar. Já abiscoitaram uma banda do pré-sal por uma bagatela e se preparam para engolir a Petrobras inteira. Regulação da mídia nem pensar.

PS – Quinta-feira passada, na Livraria da Praça de Casa Forte, Padre Edwaldo Gomes e Vera Ferraz, minha amiga e colega de jornalismo, lançaram a biografia que fizeram dele, a dois, lembrando a trajetória do querido pároco daquela freguesia, Um Padre Nosso. *** Também na quinta, no Clube Alemão, Paulo Caldas lançou mais um livro seu. Desta vez, O círculo amoroso, obra poética. Desde 2012, quando lançou Porto dos amantes (ficção), esse importante escritor pernambucano, que folgo em ter como vizinho em meu esconderijo de Aldeia, estava sem lançar novas obras. Vamos conferir.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

INTERESSES ESTRANGEIROS E OS DOS HERDEIROS DAS CAPITANIAS

Tá danado. Se não houver uma reação democrática, o golpe vai desmontar o país. A assim dita Operação Lava Jato, por exemplo, um dos braços fortes do golpe, está destruindo as grandes empresas que têm know-how para desenvolver a infraestrutura, nossa e lá fora. Ao contrário do que se faz nos Estados Unidos e outros países desenvolvidos, o Grande Inquisidor Moro não pune somente os donos dessas empresas, mas as proíbe de continuar a fazer negócios com o governo. Ótimo para suas concorrentes estrangeiras. Nada contra a punição de quem delinquiu, desde que dentro dos trâmites legais, sem delações forçadas em troca de menores penas. O Torquemada dos pobres primeiro prende para depois apurar. Às vezes até apura alguma coisa, ao contrário de seu modelo da Santa Inquisição. Quem sabe tenha aprendido isso nos cursos que fez a convite do Departamento de Estado americano. Do novo tipo de golpe engendrado pelo bondoso Tio Sam, para retomar o espaço perdido na América Latina, não faz parte a sedução das casernas através de cursos no War College. Agora seduzem juízes, procuradores, policiais.
Impõe-se uma reação. No site do meu amigo Tadeu Colares, ele transcreve a receita de Paulo Henrique Amorim (PHA) que lidera o blog Conversa Afiada. PHA já trabalhou na excelente revista Realidade, do tempo em que a Editora Abril era uma linda e frondosa árvore, Manchete, Rede Globo. Atualmente apresenta o programa Domingo Espetacular, da Rede Record, aos domingos. Para ele, a entrega do Pré-sal já consolidada, falta prender Lula e por novamente um tucano na Presidência. Fernando 2º (FHC) já está todo assanhado, se reunindo com o presidente golpista, acolitado por Gilmar Mendes (STF). Aquele que começou a desmontar o patrimônio do país, mas não teve tempo de concluir a obra, nem comprando um segundo mandato, está escancarando sua alma de golpista e aproveitador.
PHA propõe uma frente ampla para combater o golpe, que vá do centro à esquerda. O jornalista Mino Carta, diretor da Redação da revista Carta Capital, uma das pouquíssimas que escapam à mesmice e ao golpismo convicto do que ele chama de “mídia nativa”, pede emprestada a Gilberto Freyre a divisão do nosso país em Casa-Grande e Senzala. Os inimigos do desenvolvimento autônomo do Brasil são os interesses empresariais estadunidenses, do mundo desenvolvido (sobretudo a finança hegemônica), antibrasileiros, e os daqueles que constituem a Casa-Grande. E quem são estes últimos? Respondo eu: os herdeiros das capitanias hereditárias, sesmarias e outras maneiras predatórias e colonização, os soi-disants “empresários” rentistas, cuja “produção” se encontra em paraísos fiscais, aqueles que, no governo golpista, pretendem comprometer para sempre a educação e a saúde do brasileiro.
O jornalista PHA lembra a frente ampla que tentou se constituir no auge da ditadura de 1964-1985, aproximando JK, Jango, Lacerda, Miguel Arraes, Brizola. Não progrediu porque a Operação Condor (conluio das ditaduras do Cone Sul) matou os três primeiros. Arraes e Brizola escaparam porque souberam se proteger. Ele sustenta que, com o inevitável agravamento da já dura crise econômica, com o escancaramento de um neoliberalismo tão démodé, cada vez mais o golpe vai doer no bolso dos trabalhadores. E isso pode levar a um amplo espectro político que conduza à reeleição de Lula em 2018: “O próximo presidente da República será Lula ou quem ele indicar”.

Mas PHA adverte que todo esse raciocínio pode não dar certo, se a Casa-Grande descobrir “ que o Temer não vai entregar a mercadoria”, isto é, rasgar a CLT. Aí a Casa-Grande pode dizer a Gilmar Mendes para condenar Temer na Justiça Eleitoral. E então o Congresso elegeria indiretamente um Fernando 2º ou similar. Sai de baixo! Como eu dizia há umas duas semanas, no Jornal do Commercio, “Corre que o mundo vem abaixo”.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

O ESTADO LAICO ESTÁ A PERIGO NA TRANSFORMAÇÃO DE IGREJAS EM PARTIDOS, DE PASTORES EM DEPUTADOS, PREFEITOS ETC.

Apesar de o nosso país ser, desde a República, um Estado laico, a mistura e confusão entre religião e política recrudesceu nos últimos tempos de seitas tipo caça-níquel, que se dizem “evangélicas” mas se afastam do Evangelho de Jesus Cristo). Tinha havido uma lenta melhora desde o fim do padroado, quando as nomeações de bispos passavam pelo imperador. Os protestantes passaram a ter melhor tratamento, quebrando a segregação em que viviam, sobretudo nos rincões de um país forjado naquilo que Camões assim versejava: “A fé e o império andaram dilatando”. E quem assim fez? Ordens religiosas apoiadas por governadores gerais, latifundiários das sesmarias e capitanias hereditárias, todos tão cristãmente prosperando às custas do trabalho de escravos africanos.
A Igreja Romana tentou ainda, durante muito tempo, preservar seus direitos adquiridos, impor uma política que seus líderes consideravam de inspiração cristã, embora apoiassem candidatos que, apesar de distantes de uma orientação realmente cristã, batiam no peito, iam a missas, acompanhavam procissões. Até a redemocratização de 1945, ainda havia uma tal de Liga Eleitoral Católica (LEC), que jogava água benta em candidatos supostamente fiéis ao Evangelho, embora, por exemplo, deixassem suas excelentíssimas esposas na província e frequentassem assiduamente a então famosa Rua Alice (na descida de Santa Tereza para o Cosme Velho), uma espécie de anexo do Congresso Nacional.
Com a modernização e arejamento da Igreja Romana, a criação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o aumento da convicção de que o regime do Estado laico é benéfico à Igreja, essas excrescências foram sendo deixadas de lado. Com o aumento da politização e conscientização do eleitorado, logo barradas pelo golpe de 1964, o atento e bondoso Tio Sam passou a incrementar a vinda para cá de vertentes protestantes capazes de conter a conscientização do povo mais simples. Pouco depois, nem foi preciso mais importar “profetas” estadunidenses. Começaram a surgir e prosperar igrejas que se dizem evangélicas e cuja principal crença é o dízimo. Elas abandonaram o tradicional termo “protestante”, que lembra Lutero e seu protesto contra os abusos papais e domínio político na Idade Média, contra a confusão entre política e religião. Criaram a Teologia da Prosperidade, em contraposição à Teologia da Libertação nascida entre os mais pobres da América Latina (e tão malvista pelos papas que antecederam Francisco).
O Tio Sam evidentemente saiu ganhando, pois conseguiu brecar aquela conscientização referida acima, não só com 21 anos de ditadura, mas com o lindo e mavioso Congresso que temos hoje, capaz de destituir uma presidente eleita para por no lugar dela um reles aproveitador e golpista, cujo programa de desgoverno vinha sendo rejeitado pelo eleitorado desde 2002: piorar ainda mais educação e saúde, alienar barato o patrimônio público que Fernando 2º não teve tempo de dilapidar, desmontar a TV pública e sepultar a regulação da mídia (que todo país civilizado faz), voltar enfim à dependência em relação aos países ricos.
Entre muitos dos que se dizem evangélicos, o que se vê hoje é a mais desbragada negação do Evangelho e a volta da simonia, a venda de indulgências, de perdão dos pecados, tudo aquilo que Lutero condenou no papado que saía da Idade Média e esperneava para prosseguir dominando a Igreja e a política dos países que faziam a autoproclamada Europa “cristã”. Nas atuais eleições, abrimos um jornal e vemos que “candidatos ligados ao eleitorado evangélico vêm ganhando casa vez mais destaque no Brasil” (Jornal do Commercio de 9 deste mês). Considera-se que a fragilização e desmoralização dos partidos políticos abriu caminho para o fortalecimento de certas igrejas como se fossem partidos (promovem e financiam seus fiéis), sempre conservadores, quando não à extrema direita. O que ocorre também com muitos candidatos que se proclamam católicos romanos. Há até quem procure, como o professor Edin Sued Abumansur (PUC-SP), ensinar que “a separação entre Igreja e Estado não significa separação entre religião e política”. E onde fica o Estado laico? Na cidade do Rio de Janeiro, outrora o politizado Estado da Guanabara, cassado pelo general-presidente Geisel, está para ser eleito um autonomeado bispo chamado Crivella, cria da igreja fundada por outro autonomeado bispo, Edir Macedo.

O que fazer? Apelar para uma reação desse Congresso que aí está, para que faça cumprir a Constituição no que se refere ao Estado laico? Seria perder tempo. Resta-nos aguardar um governo constitucional, uma Constituinte exclusiva (única maneira de se conseguir uma reforma política, mãe de todas as reformas), uma eleição limpa para um novo Congresso.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

OS VENDILHÕES DO TEMPLO PINDORAMA. VOLTA A PRIVATARIA TUCANA. SATANÁS SOLTO

Fui votar triste. Lembrei que, da última vez, havia contribuído para reeleger a presidente Dilma Roussef, não pelos méritos dela, mas pela falta de alternativa válida. Por um lado, Dilma vendeu uma coisa e entregou outra, copiando programa dos adversários. Por outro lado, a Casa-Grande, pê da vida com os poucos avanços que a Senzala havia alcançado nos governos de Lula e Dilma, embarcou na nau do golpe desde o início do novo mandato da petista. Vale a pena votar assim, para ver seu voto escamoteado por golpistas? Recolho a tristeza e voto pela volta de João Paulo à PCR. Foi um excelente prefeito e não tem nenhum compromisso em perpetuar o mito forjado em torno de Eduardo Campos.
Um gaiato postou por aí que Satanás está solto em São Paulo: Temer, o beato Alckmin e Dória. Dose pra um zoo inteiro de leões. Xô Satanai! Enquanto isso, em dimensão de Brasil, o governo oriundo do golpe, evidentemente ilegítimo, prossegue aplicando seu programa de vendilhão do templo Pindorama. Enquanto Serra, “diplomata” da escola de macaco em loja de louça, já está cansando, de tanta gafe, os responsáveis por incrementar o golpe, Meirelles e aliados prosseguem com o leilão do Brasil. Lances baixos para não espantar o capital externo, exatamente de acordo com a escola da “privataria tucana”.
Em um hotel de Manhattan, falando a endinheirados, de portas fechadas, o intruso confessou que a deposição de Dilma não foi por suposto crime de responsabilidade. A petista, segundo ele, se negou a seguir o programa proposto pelo PMDB “Ponte para o Futuro”, um pacote de medidas neoliberais: “Como isso não deu certo, não houve adoção [do pacote], instaurou-se um processo que culminou agora com a minha efetivação”. Tudo muito claro. Gente fina é outra coisa ..., como se diz por aí.
Fico imaginando como é que essas tais de medidas neoliberais ainda circulam e pedem, ou forçam, passagem. No Brasil, significaram o leilão de substancial parte do patrimônio público, sob a batuta de Fernando 2º (FHC). O grande sociólogo que ninguém lê (é como os romances de Ribamar Sarney, sobre os quais Millôr Fernandes apostava na inexistência de leitores) prometeu que o leilão atrairia capitais de fora. Ninguém viu. Foi quase tudo financiado pelo BNDES. Prometeu modernização, vigiada por agências que criou. Essas agências na prática só servem para homologar aumentos de tarifas; e assim continuaram nos governos petistas, que, ao menos, não prosseguiram na sangria do patrimônio público. Se Fernando 2º, que ganhou um mandato popular e comprou a reeleição, agiu do jeito que agiu, que dirá o atual mandante, golpista de carteirinha.

Difícil sair dessa encrenca, criada por quem não acredita na democracia, no interesse público, na alternância de poder através dos meios estabelecidos na Constituição; por quem não aceita que a Senzala vire ao menos um conjunto habitacional popular decente. A Justiça não está cumprindo sua função, pois faz uma seleção entre aqueles que deve julgar: clava forte contra o PT e similares; panos quentes nos casos de notórios inimigos da lei, como Aécio, Renan Calheiros etc, defensores da Casa Grande e da escravidão. O caso mais notório é a graça concedida aos responsáveis pelo massacre do Carandiru, em São Paulo. Importante parte dos organismos policiais também capricha em perseguir apenas quem peca contra a Casa Grande. Valha-nos Nossa Senhora do Ó!

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

PROJETO NACIONAL COM FORATEMER? CHINA, JAPÃO, COREIA DO SUL TÊM SEUS PROJETOS NACIONAIS, SUA TECNOLOGIA, AUTÔNOMA

Fernando 2º (FHC) andou por Buenos Aires ensinando ao presidente Macri como se vende barato um país, preparando a visita programada de ForaTemer, o atual vendilhão do nosso patrimônio público, se Nossa Senhora do Bom Parto não nos ajudar a sair desta o quanto antes.
O Brasil é um país que ora anda devagar, ora nem sai do canto. Escravagismo, abolição deste sem reforma agrária, ao contrário do que propunha Joaquim Nabuco, daí latifúndio improdutivo e empedernido, elites ignorantes, pedantes e predatórias, além de muita coisa mais, nos trouxeram a tal impasse. Até o pós-guerra, o Brasil avançava, se industrializava, se esforçava por educar melhor sua população. Com ditadura ou sem, Getúlio tinha um projeto de pais pelo qual pagou, mais adiante, com sua vida. O país tinha reservas que acumulara durante o conflito e tinha condições para voos mais altos. Atentos à senha dada pelo embaixador estadunidense Berle, Eurico Dutra, Gois Monteiro e outros generais fascistoides deram um golpe em Getúlio, pondo fim ao Estado Novo (do qual tanto se aproveitaram) quando ele já estava morrendo, pois eleições estavam marcadas para dezembro e estava-se em plena campanha com ampla liberdade.
Dutra foi eleito pelo rolo compressor do voto de cabresto. O outro candidato mais forte era outro militar fascistoide, o brigadeiro Eduardo Gomes. Continuando no caminho já iniciado pelo presidente-tampão José Linhares, Dutra prosseguiu torrando as divisas acumuladas durante a guerra na compra de sucata de guerra, cigarros dos EUA, passas da Califórnia, Coca-Cola (ainda não havia fábricas dessa droga por aqui) etc. Quando Getúlio voltou, eleito democraticamente com boa vantagem, em 1950, tentou acabar com essa sangria e, pecado mortal inafiançável, criou a Petrobras. “Ceterum, censeo Carthaginem esse delendam” (No mais, acho que Cartago deve ser destruída), como pregava o romano Cícero, devem ter pensado udenistas e golpistas em geral. Antes de findar seu mandato, o presidente foi acuado pelos antecessores de ForaTemer, preferindo suicidar-se a sair humilhado do Palácio do Catete.
Os golpistas perderam, dada a comoção popular pela morte de Getúlio. O golpe da Casa-Grande teve de ser adiado por dez anos. Lacerda ainda procurou outro golpe, com Carlos Luz, mas levou um chega-pra-lá de um militar nacionalista e anti-golpe, o marechal Henrique Teixeira Lott. Lacerda ainda buscou melar a posse de JK, eleito no ano seguinte à morte de Vargas, 1955. JK não era nenhum golpista, pelo contrário, mas a retomada do projeto nacional de Getúlio por ele não se baseou na criação de tecnologia autônoma. Ao contrário de outros países, ele fomentou a vinda de capitais estrangeiros (que não fazem mal desde que dentro de uma perspectiva nacional) para lançar uma indústria automobilística capitaneada pela Volkswagen, Ford etc.
Enquanto isso, os países derrotados na 2ª Guerra Mundial, como Alemanha, Japão, e outros massacrados pela guerra, como a Coreia do Sul, partiram para a criação ou recriação de seu parque industrial. A Alemanha é o país mais rico da Europa. Japão, Coreia do Sul e outros chamados de “tigres asiáticos” têm hoje suas indústrias automobilísticas e muitas outras de alta tecnologia, com know-how próprio ou agregação de tecnologia. Exportam até para a Europa e Estados Unidos. A China segue o mesmo caminho.
A China, até o fim da malfadada Revolução Cultural, era de um atraso penoso. Aí redescobriu, lendo Marx mais atentamente, que socialismo/comunismo não são sinônimos de estatismo; o que é público não é estatal, é da sociedade. Com tecnologia autônoma ou incorporando tecnologia importada, a China é hoje um país de regime comunista com grande espaço para um capitalismo não selvagem (o nosso é selvagem). Um exemplo para a nova Cuba e para a vizinha Coreia do Norte, atualmente governada por uma dinastia demente.

E nós? Continuamos sem criar tecnologia autônoma, desequilibrando a balança de pagamentos com importações desnecessárias. Mal ou bem, com todos os seus aspectos negativos, os governos do PT estavam retomando o projeto nacional de Getúlio Vargas. Devagar e sempre. Sempre? O golpe travestido de impeachment abriu o governo para entrega a capitais estrangeiros de tudo o que restou do patrimônio público após os dois mandatos do xogum Fernando 2º. Como na “privataria tucana” (leiam o livro homônimo), é liquidar tudo bem barato e com financiamento do BNDES. Salvar-nos-emos?

terça-feira, 20 de setembro de 2016

CARLOS MAGNO, MESMO ATAVIADO DE REI ARTUR, NÃO CONVENCE E VENDE BARATO O BRASIL

Lula acaba de lançar um site – www.lula.com.br. Vale a pena ver. E estabeleceu advogado na Europa para acompanhar as violações de direitos cometidas pela Justiça brasileira. O Sapo Barbudo, como o chamou Brizola, não é nenhum congregado mariano, mas e os outros, que o parcial juiz Moro finge não ver: Aécio, Alckmin, Fernando 2º et caterva?
How do you do Mr. ForaTemer?
Foi hilariante o escorrego de Fora Temer ao confundir Carlos Magno com o rei Artur das brumas de Avalon. Um cara que se apresenta como culto, embora esconda sua incultura na pernosticidade de algumas falas. Como é que pode?
Diretas Já! Após um golpe, sempre é bom Diretas Já.
Como comentei aqui, apesar de uma fingida isenção ianque, o golpe em curso no Brasil é do maior interesse do governo estadunidense e da finança internacional. Após a 2ª Guerra Mundial, os EUA passaram a se considerar donos do mundo e xerife internacional. A paz só durou cinco anos. Desde a Guerra da Coreia que se desenrola a 3ª e perene Guerra Mundial. A indústria bélica não aguentou o tranco da paz e exigiu que, sob o pretexto de combater o demônio comunista, conflitos se espalhassem pelo mundo afora. Grã-Bretanha e França foram obrigadas a largar (em termos) suas colônias africanas e asiáticas. Mas o fizeram sacanamente, misturando em um mesmo país etnias inimigas e separando etnias que conviviam bem. Prato feito pra guerras futuras e trava no desenvolvimento. O resultado está aí até hoje.
Cansada de golpes comandados por Washington, a América do Sul começou a eleger governos mais de acordo com seus interesses. As secretarias de Estado e da Defesa dos EUA precisavam mudar de tática. Em vez do desembarque de marines, comum na América Central e Caribe, ou a convocação de militares nativos para fazer o serviço sujo, por que não utilizar instrumentos aparentemente e formalmente constitucionais para esvaziar o avanço da banda meridional das Américas na conquista de seus próprios interesses? Com essa mudança, conseguiram derrubar governos populares na América Central, no Paraguai e agora no nosso país. Na Venezuela, a sabotagem campeia e Maduro não tem o carisma de Chávez. Só o índio Evo continua de vitória em vitória. Vingança dos espíritos dos ancestrais?
Vejamos a opinião de um economista estadunidense, Mark Weisbrot, sobre os avanços do Brasil nos governos do PT. “O Brasil também avançou muito. Em relação aos anos FHC, dobrou sua taxa de crescimento econômico. Há a política de reajuste do salário mínimo. E as políticas fiscais melhoraram muito [...]. Isso teve enorme impacto sobre o crescimento per capita do Brasil, que, antes da chegada do PT ao governo, praticamente não existia. A prioridade de Dilma Roussef, a meu ver, parece ser reforçar as políticas para reduzir a desigualdade e a pobreza”.

Esta entrevista foi dada à revista Carta Capital há quatro anos, no primeiro mandato da presidente golpeada. Não dava para aguentar. Como em 1964, impunha-se um golpe para manter a distância entre Casa-Grande e Senzala. Como aparentemente não há mais, no Exército, nas forças armadas em geral, serviçais de Washington prontos a ocupar seu próprio país; e como terminou a Guerra Fria, que justificava qualquer traição à pátria, impunha-se a tática atual do “golpe pseudoconstitucional”. Com Carlos Magno e Artur da Távola Redonda fundidos na troncha pessoa do mesmo impostor.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

POR QUE O GOLPE? PARA A RAPOSA TOMAR CONTA DO GALINHEIRO

Primeiro que tudo, Fora Temer! Um impostor. Foi cumprimentado, na China, como Mister ForaTemer. O “Fora” já grudou no nome.
Segundamente, Diretas Já, como no fim da ditadura.
Nesta postagem, transcrevo uma mensagem que recebi de Aníbal Valença, que aqui no Estado lidera o PCB (o velho Partidão). Vale a pena ter a opinião de um cabra que sabe das copisas, professor e pesquisador que é.


Golpe 'made in USA': Queda de Dilma foi ordenada por Wall Street?
Especialista canadense fala sobre os objetivos do golpe de Estado
Em artigo publicado pela primeira vez em junho, mas reeditado neste 1º de setembro, um dia após a consumação do impeachment no Brasil, o renomado professor e economista canadense Michel Chossudovsky explica por que a queda de Dilma foi ordenada por Wall Street e tenta desmascarar “os atores por trás do golpe”.
“O controle sobre a política monetária e a reforma macroeconômica eram os objetivos últimos do golpe de Estado. As nomeações principais do ponto de vista de Wall Street são o Banco Central, que domina a política monetária e as operações de câmbio, o Ministério da Fazenda e o Banco do Brasil”, diz o artigo, ressaltando que, desde o governo FHC, passando por Lula e Temer, Wall Street tem exercido controle sobre os nomes apontados para liderar essas três instâncias estratégicas para a economia brasileira.
“Em nome de Wall Street e do ‘consenso de Washington’, o ‘governo’ interino pós-golpe de Michel Temer nomeou um ex-CEO de Wall Street (com cidadania dos EUA) para dirigir o Ministério da Fazenda”, diz o artigo, referindo-se a Henrique Meirelles, nomeado em 12 de maio. Como observa o artigo, Meirelles, que tem dupla cidadania Brasil-EUA, serviu como presidente do FleetBoston Financial (fusão do BankBoston Corp. com o Fleet Financial Group) entre 1999 e 2002 e foi presidente do Banco Central sob o governo Lula, entre 1º de janeiro de 2003 e 1º de janeiro de 2011. Antes disso, o atual ministro da Fazenda, que volta ao poder sob o governo Temer após ter sido dispensado por Dilma em 2010, também atuou por 12 anos como presidente do BankBoston nos EUA.
A reportagem analisa que Henrique Meirelles, atual ministro da Fazenda, que volta ao poder sob o governo Temer após ter sido dispensado por Dilma em 2010, também atuou por 12 anos como presidente do BankBoston nos EUA. Já o atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, nomeado por Temer em 16 de maio, tem dupla cidadania Brasil-Israel e foi economista-chefe do Itaú, maior banco privado do Brasil. Segundo o artigo, Goldfajn “tem laços estreitos tanto com o FMI (Fundo Monetário Internacional) quanto com o Banco Mundial”. “Goldfajn já havia trabalhado no Banco Central sob Armínio Fraga, bem como sob Henrique Meirelles. Ele tem estreitos laços pessoais com o prof. Stanley Fischer, atualmente vice-presidente do Federal Reserve dos EUA (além de ex-vice-diretor do FMI e ex-presidente do Banco Central de Israel). Desnecessário dizer que a nomeação de Golfajn para o Banco Central foi aprovada pelo FMI, pelo Tesouro dos EUA, por Wall Street e pelo Federal Reserve dos EUA”, afirma o artigo. Fraga, por sua vez, atuou como presidente do Banco Central entre 4 de março de 1999 e 1º de janeiro de 2003. Ele foi diretor de fundos de cobertura (hedge funds) por seis anos na Soros Fund Management (associada ao magnata George Soros), e também tem dupla cidadania Brasil-EUA.“O sistema monetário do Brasil sob o real é fortemente dolarizado. Operações da dívida interna são conducentes a uma dívida externa crescente. Wall Street tem o objetivo de manter o Brasil em uma camisa de força monetária”, explica o professor canadense.
Por isso, afirma o artigo, quando Dilma Rousseff aponta um nome não aprovado por Wall Street para a presidência do Banco Central, a saber, Alexandre Antônio Tombini, cidadão brasileiro e funcionário de carreira no Ministério da Fazenda, é compreensível que os interesses financeiros externos se articulem aos interesses das elites brasileiras para mudar o quadro político no país. Contexto histórico No início de 1999, na sequência imediata do ataque especulativo contra o real, diz Chossudovsky, o presidente do Banco Central, Francisco Lopez (que havia sido nomeado em 13 de janeiro de 1999, a Quarta-feira Negra) foi demitido pouco depois e substituído por Armínio Fraga, cidadão americano e funcionário da Quantum Fund de George Soros em Nova York. "A raposa tinha sido nomeada para tomar conta do galinheiro", resume o artigo, afirmando que, com Fraga, os especuladores de Wall Street tomaram o controle da política monetária do Brasil.
Sob Lula, o apontamento de Meirelles para a presidência do Banco Central do Brasil dá seguimento à situação, diz o artigo, destacando que o nomeado já havia atuado anteriormente como presidente e CEO dentro de uma das maiores instituições financeiras de Wall Street. “A FleetBoston era o segundo maior credor do Brasil, após o Citigroup. Para dizer o mínimo, ele (Meirelles) estava em conflito de interesses. Sua nomeação foi acordada antes da ascensão de Lula à presidência”, escreve o autor. Além disso, Meirelles foi um firme defensor do controverso Plano Cavallo da Argentina na década de 1990: “um ‘plano de estabilização’ de Wall Street que causou grandes estragos econômicos e sociais”, segundo o professor Chossudovsky.
De acordo com ele, “a estrutura essencial do Plano Cavallo da Argentina foi replicada no Brasil sob o Plano Real, ou seja, a imposição de uma moeda nacional conversível dolarizada. O que esse regime implica é que a dívida interna é transformada em uma dívida externa denominada em dólar”. Quando Dilma sobe à presidência em 2011, Meirelles é retirado da presidência do Banco Central. Como ministro da Fazenda de Temer, ele defende a chamada “independência do Banco Central”. “A aplicação deste conceito falso implica que o governo não deve intervir nas decisões do Banco Central. Mas não há restrições para as ‘Raposas de Wall Street’”, diz o artigo, acrescentando que “a questão da soberania na política monetária é crucial” e que “o objetivo do golpe de Estado foi negar a soberania do Brasil na formulação de sua política macroeconômica”.
De fato, sob o governo Dilma, a "tradição" de nomear uma “raposa de Wall Street" para o Banco Central foi abandonada com a nomeação de Tombini, que permaneceu no cargo de 2011 até maio de 2016, quando Temer assume a presidência interina do país. A partir daí, Meirelles, no Ministério da Fazenda do governo interino, “aponta seus próprios comparsas para chefiar o Banco Central (Goldfajn) e o Banco do Brasil (Paulo Caffarelli)”, diz o artigo do Global Research, sublinhando que o novo ministro havia sido descrito pela mídia dos EUA como "market friendly" (“amigável ao mercado”).
Conclusão: “O que está em jogo através de vários mecanismos – incluindo operações de inteligência, manipulação financeira e meios de propaganda – é a desestabilização pura e simples da estrutura estatal do Brasil e da economia nacional, para não mencionar o empobrecimento em massa do povo brasileiro”, afirma Chossudovsky. Segundo a tese do renomado professor, “Lula era ‘aceitável’ porque seguiu as instruções de Wall Street e do FMI”, mas Dilma, com um governo mais guiado por um nacionalismo reformista soberano, não pode ser “aceita” pelos interesses financeiros dos EUA, apesar da agenda política neoliberal que prevaleceu sob seu governo.
“Se Dilma tivesse decidido manter Henrique de Campos Meirelles, o golpe de Estado muito provavelmente não teria ocorrido”, afirma o analista. “Um ex-CEO/presidente de uma das maiores instituições financeiras dos Estados Unidos (e um cidadão dos EUA) controla instituições financeiras chaves do Brasil e define a agenda macroeconômica e monetária para um país de mais de 200 milhões de pessoas. Chama-se um golpe de Estado… dado por Wall Street”, conclui Chossudovsky.
Michel Chossudovsky, escritor premiado, é professor (emérito) de Economia da Universidade de Ottawa, fundador e diretor do Centro de Pesquisa sobre a Globalização (CRG) e editor da organização independente de pesquisa e mídia Global Research. Ele lecionou como professor visitante na Europa Ocidental, no Sudeste Asiático e na América Latina, serviu como conselheiro econômico para governos de países em desenvolvimento e tem atuado como consultor para várias organizações internacionais. 

Ele é autor de onze livros, publicados em mais de vinte línguas. Em 2014, foi premiado com a Medalha de Ouro de Mérito da República da Sérvia por seus escritos sobre a guerra de agressão da OTAN contra a Iugoslávia.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

DINHEIRO DA FUNDAÇÃO FORD/CIA PARA O CEBRAP. FERNANDO 2º DIZ QUE NEM TINHA COMO GASTAR E TAMBÉM NINGUÉM PRECISAVA PRESTAR CONTAS

Consta que a Fundação Ford (EUA) tem como um de seus objetivos conquistar a intelectualidade ocidental para as propostas ideológicas estadunidenses. Uma comprovação disso encontra-se no livro Quem pagou a conta? da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders (tradução brasileira pela Record, de Vera Ribeiro). Segundo outro interessante livro, Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do possível, da francesa Brigitte Hersant Leoni (tradução pela Nova Fronteira, de Dora Rocha), numa noite do início de 1969, pouco após a edição do infame AI-5 da ditadura de 1964-85, Fernando 2º (FHC) foi ao escritório da Fundação Ford, onde teve uma conversa com Peter Bell, seu representante no nosso país. Bell se entusiasma com a alma entreguista do xogum (qualificação que lhe foi dada por Mangabeira Unger, de Harvard) e lhe oferece uma ajuda financeira de US$145 mil para montar o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Isso era apenas uma entradazinha de uma ajuda que pode ter chegado US$1 milhão.
Agora que vimos Fernando 2º apoiando, junto com uma malta de tucanos de impressionante bico, o golpe travestido de impedimento contra a presidente eleita em 2014, podemos ter certeza sobre o dinheiro americano. Não o estavam jogando pela janela. Ele já tinha serviços prestados. Por exemplo, mancomunado com o chileno Faletto, acabava de lançar Dependência e desenvolvimento na América Latina. O livro defende a tese de que países em desenvolvimento ou mais atrasados podem se desenvolver mesmo mantendo dependência em relação a países ricos, como os EUA. Com essa grana para gastar à vontade, o xogum foi catapultado a personalidade internacional, sendo convidado por universidades europeias e estadunidenses. E o que é a Fundação Ford (ou era?): um braço intelectual da CIA, serviço secreto dos EUA.
Segundo a pesquisadora Saunders, o uso de fundações filantrópicas pela CIA ocultava a origem da grana e podia financiar intelectuais escolhidos por sua postura “correta” na Guerra Fria. O que tornou difícil sustentar equidistância cultural. No livro, a autora diz que, segundo Fernando 2º, o dinheiro era tanto que não se conseguia gastar tudo: “Não havia limites. Ninguém tinha de prestar contas. Era impressionante”.
Tem um economista estadunidense, Mark Weisbrot, colunista do inglês The Guardian e do The New York Times, que em 2012, falando à revista Carta Capital, exaltou a maior independência da América do Sul em relação aos EUA e ao FMI: “A região passou por uma mudança enorme na última década. No passado, estava dominada pelos Estados Unidos, mas hoje o Cone Sul é mais independente de Washington, além de ter uma política exterior autônoma. A mudança é histórica e abriu um monte de oportunidades. O crescimento econômico dos últimos dez anos na região foi muito mais alto do que aquele ocorrido entre 1980 e 2000. O grande resultado é mérito dos novos governos de esquerda”.

A Casa-Grande, empresários rentistas, reacionários empedernidos não podiam tolerar isso. Lugo, Zelaya, Dilma foram golpeados sem complacência. Maduro está balançando na corda bamba. Enquanto isso, Temer e seus asseclas que assaltaram o poder se apressam em torrar o que sobrou do patrimônio público, que o xogum não teve tempo de torrar. Merecemos? Isso vai mudar? Que o Bom Jesus da Lapa nos proteja.