terça-feira, 18 de novembro de 2014

FERNANDO 2º, QUEM DIRIA, ACABOU LACERDA 2º



Ao destronado presidente FHC eu chamo Fernando 2º, pois foi continuador da dinastia fundada por Fernando 1º (o Collorido) no desmonte do patrimônio público nacional, embora com método demolidor (o 1º era um aprendiz de feiticeiro). Vocês lembram aquela historinha de “(Fulana), quem diria, acabou no Irajá”? Irajá é um subúrbio distante do Rio, o que implica uma decadência de status pra quem morava na Zona Sul. Aliás FHC nasceu no Rio, mas é tão pouco carioca que foi parar em São Paulo (nada contra São Paulo, mas é outro espírito). Os de vocês que são mais jovens talvez não se lembrem de Carlos Lacerda, um comunista que virou ferrenho antiesquerdista, mas não só isso, ele era basicamente um golpista, que ganhou do meu falecido amigo Samuel Wainer o apelido de Corvo, do qual nunca mais se livrou. Mas talvez tenham visto um recente filme sobre os últimos dias de Getúlio Vargas (interpretado por Tony Ramos). No filme, é notável a cara de Lacerda quando sabe do suicídio do presidente: ele queria era chutá-lo para fora do Catete, condená-lo, humilhá-lo. E não se tratava do Vargas ditador. Era o Vargas eleito triunfalmente para a Presidência da República em 1950.
O presidente eleito alegremente pela maioria dos brasileiros conseguira criar a Companha Siderúrgica Nacional, a Vale do Rio Doce, o BNDES, a Petrobras (começando lá na ditadura). A oposição raivosa encarnada na UDN de Lacerda (hoje revivida pelo PSDB e sua linha auxiliar) não podia aceitar essa floração do melhor nacionalismo. Golpe nele! Foi o que fizeram. Não contavam, porém, com o gesto extremo de Getúlio de sair da vida para entrar na história. O golpe foi neutralizado naquele momento e teve de esperar até a grande coceira de macacos de 1964, passando pelo golpe frustrado de Jânio em 1961. É muito golpe. E ainda temos por aí viúvas do golpe, que querem anular as recentes eleições e chamar de volta generais-ditadores. Explico a coceira: Getúlio tinha um irmão, Benjamim ou Bejo, que, quando os generais estavam agitados além da conta, formados que são no princípio positivista de que tutelam o país, como quando Dutra e Gois Monteiro deram um golpe em Getúlio, em 1945, a uns dois meses das eleições já marcadas, Bejo dizia que “os macacos estão se coçando”.
Voltando a Fernando 2º. Ele disse, quando era presidente, que veio para acabar com a Era Vargas. Conforme aquele seu princípio favorito de “Esqueçam o que eu disse”, há alguns meses ele sapecou na contracapa do segundo volume da sensacional biografia Getúlio, do jornalista Lira Neto, que tinha lido quase de um fôlego o primeiro volume da trilogia e que o biografado Getúlio “teve a grandeza que só os estadista possuem”. Ora, pois, pois, e pra que a gana de acabar com a Era Vargas? Depois das eleições deste ano, que, graças a uma invenção dele, levaram Dilma Roussef a um segundo mandato, Fernando 2º ficou ainda mais indócil na sua nova metamorfose, Carlos Lacerda. Daí o título de Fernando 2º virando Lacerda 2º.
Logo após a vitória de Dilma, o saudoso xogum afirmou que o eleitorado do Norte e Nordeste, segundo ele constituído por desinformados, consagrou a candidata. Agradeçamos ao pavão por não nos haver chamado de burros; como disse que os aposentados são uns vagabundos. A cidade do Rio de Janeiro, uma das mais politizadas do Brasil (daí o ditador-presidente Geisel ter acabado com o Estado ad Guanabara), e Minas Gerais ficam, por acaso no Norte ou no Nordeste? Em tanta empáfia não poderia faltar preconceito. Mais recentemente, Fernando 2º saiu-se com esta pérola: está envergonhado com a ladroagem na Petrobras. Que vergonha tardia! Ele não se envergonha de ter querido vender a Petrobras à Standard Oil (Esso), tentando para tanto mudar-lhe o nome para Petrobrax, mais palatável aos gringos. Não se envergonha de não ter investigado o afundamento de uma plataforma da estatal, quando a presidia um querido genro seu. Não se envergonha de ter tido um Procurador-Geral da República (Geraldo Brindeiro) que era conhecido como Engavetador-Geral. Não se envergonha de ter comprado votos no Congresso (fato comprovado) para conseguir sua reeleição via emenda, algo absolutamente estranho a nossas tradições republicanas. E, last not least, não se envergonha de acusações sérias e fundamentadas, divulgadas inclusive no livro Privataria tucana, sobre cabeludas maracutaias no processo de privatização à FHC. A metamorfose lacerdista do xogum continuará a ser examinada na próxima postagem. Deem uma olhada aí ao lado em “Viver é muito perigoso”.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

AINDA HÁ VIÚVAS DA DITADURA



Amigas e amigos, convido vocês a lerem mais um capítulo de minha tão precoce autobiografia, aí à esquerda, “Viver é muito perigoso”. Enquanto digiro a ressaca eleitoral. Com ou sem ressaca, é ótimo ter eleições, desde que o governo eleito aproveite para fazer uma reforma política decente (a mãe de todas as reformas de que precisamos). No tempo da ditadura, eleições eram de faz-de-conta, dependiam dos humores dos generais-ditadores. E o pior é que ainda há viúvas da ditadura e golpistas que não aceitam o resultado das eleições de outubro. E o PSDB assumiu que é o herdeiro da velha UDN de Carlos Lacerda; e o outrora bravo PSB vai de caudatário.
PS - A convidada da última edição deste ano do projeto “Meu vizinho, o escritor”, realizado pelo Laboratório de Autoria Literária Ascenso Ferreira, do SESC, é Cida Pedrosa. Haverá filmes do projeto “Olhares sobre Lilith”. Dia 7 de novembro às 19h na Praça do Entroncamento.