Em campo, ficamos em 3º lugar, o que não é
mau, a não ser para aqueles que impõem à nossa seleção de futebol a obrigação
de ganhar sempre, sobretudo a partir das patriotadas do tempo da ditadura (os
caras dão um golpe imposto por uma superpotência da Guerra Fria e ainda brincam
de grandes patriotas). Por que a obrigação? Em qualquer esporte, joga-se para
ganhar, mas perder é normal. Chilique, faniquito, berreiro são prova cabal de
subdesenvolvimento.
E por que digo que ganhamos? Simples. A Copa
transcorreu de uma maneira bonita, sem os atropelos, e até tragédias, previstos
e também desejados pela grande imprensa a serviço de monopólios e por uma certa
oposição política sem bandeira, desarvorada. Os turistas que para cá vieram
ficaram encantados com a alegria e hospitalidade dos brasileiros. Os
transportes funcionaram razoavelmente, com as deficiências já previstas e atribuíveis
a algumas autoridades incompetentes. Não houve apagão elétrico nem
aeroportuário. Os alemães, campeões desta vez, ficaram tão encantados com a
região de Porto Seguro-Santa Cruz Cabrália que investiram dinheiro pra
criançada e até dançaram com índios. Então, não há dúvida de que a Copa do
Mundo, realizada aqui pela segunda vez, é nossa. Sem o “ame-o ou deixe-o” da
ditadura.
Dizem entendidos, entre os quais não estou,
que o culpado é o Scolari. O que sei é que não simpatizo com ele, pois consta
que é fã do sanguinário Pinochet. Na CBF, de muita incompetência e mandonismo,
impera o Marin, carimbado pela triste ditadura como governador biônico de São
Paulo; além de ser criatura (de quem?) ninguém menos que da dupla bem dinâmica
Havelange/Teixeira. Enquanto a Fifa, de acordo com reportagens cheias de
provas, seria um antro mafioso por onde já transitou Havelange, persona non
grata na Suíça e hoje refugiado em Miami. No aso de a Fifa e a CBF não passarem
por uma limpeza caprichada, o futebol mundial continuará controlado e
aproveitado pelos cartolas de sempre.
Enquanto estava finalizando esta postagem,
fico sabendo da morte (terrena) de Ariano Suassuna, a quem o Nordeste, o
Brasil, o mundo devem uma obra monumental, na linha de Cervantes. As raízes
ibéricas da obra de Ariano são claras, sem menosprezar outras raízes da cultura
brasileira, ao mesmo tempo que ele defende a cultura popular enfronhada na
cultura erudita. O que se comprova no Movimento Armorial, por ele idealizado. E
todo literato universal, como ele, tem de estar ancorado em águas locais,
regionais, nacionais.
Infelizmente não faço parte dos amigos de
Ariano. Não tive oportunidade de me aproximar muito dele, pois enquanto ele já
estava abancado na literatura quando eu voltei a Pernambuco, após deixar o
seminário, eu embarcava na política estudantil e numa militância bem à
esquerda. Na época, ele era apolítico, tanto que substituiu tranquilamente Paulo
Freire no Serviço de Extensão Cultural da então Universidade do Recife (hoje
UFPE), embora não pertencesse à direitona que deu o golpe. Mais tarde,
aproximou-se de Miguel Arraes, de quem era vizinho no Poço da Panela, e entrou
numa política à esquerda.
Mesmo sem ser próximo dele, sempre fui seu
fã. E não esqueço da atenção e carinho que ele tinha por Mamãe, que trabalhou
com ele no Departamento de Extensão Cultural e Artística (Deca) da Prefeitura
do Recife. Até 1943, quando Papai morreu, ela era vizinha de engenho do dr.
Hisbelo de Andrade Lima (engenho Pombal), pai de Zélia, com quem Ariano casou e
foi a musa inspiradora dele. O engenho dos meus pais, Paulino Veloso de Andrade
e Maria da Glória, era o engenho Bateria.