Lá se vão 60 anos que o arquigolpista Carlos
Lacerda, hoje patrono do PSDB, do DEM e de outros partidos arenosos (lembram-se
da Arena da ditadura?), descobria um “mar de lama” no governo constitucional e
democrático de Getúlio Vargas. Trombeteou ferozmente a aparente descoberta em
seu jornal Tribuna da Imprensa e no Congresso. Parecia que o
brasileiro nem sabia o que era corrupção e bandalheira em seus quatro séculos e
meio de história. Tudo isso lembra muito o que está ocorrendo agora com
“mensalões” e “petrolões”. Até a expressão “mar de lama” foi ressuscitada pela
Rede Globo, jornais O Globo, Folha de S.
Paulo e Estadão, em meio a tanta
imprensa equivocada que, ao contrário da mídia de países civilizados, não
aceita nenhuma regulação, taxando-a de atentado à liberdade de expressão.
A propósito, recebi de um amigo artigo do
empresário Ricardo Frank Semler, que tem formação em Harvard e é um tucano de
primeira hora, não do PSDB de Fernando 2º (FHC), Serra, Aécio et caterva, mas
sim do PSDB idealizado por Mário Covas e Franco Montoro com o objetivo de
alternativa a um PMDB cada dia mais fisiológico. O título do artigo já é
sugestivo: “Nunca se roubou tão pouco”. Partindo do caso Petrobras, que tanto
ocupa e preocupa a mídia nativa (como Mino Carta designa a nossa grande
imprensa), o autor diz que desde os anos 1970 tenta vender equipamentos à estatal,
continuando pelos anos 1980 e 1990 e até recentemente. Nada. Sem propina, nada
feito. E quem governava naqueles anos todos? pergunto eu. Não era o PT (hoje
bem mudado) e, sim, os generais-presidentes, o inefável Ribamar Sarney, o
dinâmico Collorido, o xogum-pavão Fernando 2º.
E prossegue o autor: “Agora tem gente fazendo
passeata pela volta dos militares ao poder e uma elite escandalizada com os
desvios na Petrobras. Santa hipocrisia! Onde estavam os envergonhados do país
nas décadas em que houve evasão de R$1 trilhão, cem vezes mais que o caso Petrobras,
pelos empresários? Virou moda fugir disso tudo para Miami, mas é justamente a
turma de Miami que compra lá com dinheiro sonegado aqui”. Observação minha: até
o nosso ínclito e impoluto Joaquim Barbosa tem um pé em Miami, adquirido sem
muita clareza.
Ele acredita que essa “onda de prisões de
executivos é um passo histórico para este país”. Amém. E prossegue: “A coisa
não para na Petrobras Há dezenas de outras estatais com esqueletos parecidos no
armário. É raro ganhar uma concessão ou construir uma estrada sem os tentáculos
sórdidos das empresas bandidas. O que muitos não sabem é que é igualmente
difícil vender para muitas montadoras e incontáveis multinacionais sem antes
dar propina para o diretor de compras” E conclui: “O lodo desse veneno pode ser
diluído, sim, com muita determinação e serenidade, e sem arroubos de vergonha
ou repugnância cínicas”.
PS - Minha ex-colega de faculdade e hoje
grande escritora Ana Maria César está lançando O último porto de Henrique Galvão, a história da passagem do
revolucionário português pelo Recife depois de sequestrar o navio Santa Maria
na Venezuela, em 1961, pensando dar início à derrubada do ditador luso Oliveira
Salazar, o que, na realidade, só aconteceria 12 anos depois com a Revolução dos
Cravos. *** Estão sendo lembrados os 30 anos do encantamento do grande poeta
Mauro Mota. Já houve uma leitura dramatizada de poesias dele na Academia
Pernambucana de Letras. Inesquecíveis os seus versos em homenagem a Carlos Pena
Filho: “São trinta homens sentados. / Dentro deles como dói. / Ausência do
poeta Carlos nas mesas do bar Savoy”.
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