Falava eu, na última postagem, sobre alguns
equívocos nas reações ao mortal ataque ao jornal satírico francês Charlie Hebdo. Como estavam ficando
demasiado longas as minhas observações, deixei para continuar nesta postagem. O
ponto básico da minha posição é que o horror diante daquele massacre é plenamente
justificável, mas que se deve cobrar também respeito às opiniões dos outros,
inclusive cultura, religião Governos de países como os Estados Unidos, os
europeus, os ricos em geral enchem a boca de veementes condenações ao
terrorismo e de não menos incisivas defesas da liberdade de expressão e dos
direitos humanos em geral. Só que seus governos selecionam os direitos que devem
ser respeitados, desrespeitam decisões soberanas de muitos países e praticam o
terrorismo de Estado.
Terrorismo de Estado, sim. Quando o governo
dos Estados Unidos mandou jogar duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki
(que não eram alvos estratégicos) no final de 2ª Guerra Mundial, destruindo-as
e matando, em poucos segundos, centenas de pessoas, estava praticando evidente
terrorismo. O mesmo quando destrói países como o Iraque, a Líbia, sob pretextos
democráticos, mas, na realidade, para controlar fontes petrolíferas. Idem
quando promove golpes militares contra governos democráticos, como fez no
Brasil, Chile e Argentina nos anos 1960-1970.
E direitos humanos? Como pode Washington
exigir, da China, de Cuba, da Rússia, por exemplo, respeito aos direitos
humanos quando mantém centro de torturas na base militar de Guantanamo (ainda
por cima território roubado a Cuba) e em outros lugares fora de seu território?;
quando manda assassinar pessoas selecionadas, através de comandos, de drones
etc.?; quando permite que seus bancos e financeiras engendrem graves crises
mundiais que afetam o mundo inteiro?
Além do mais, quem deu início ao multissecular
terrorismo cujas consequências servem de combustível hoje ao ódio mortal que
muitos povos dedicam aos países assim ditos do “mundo livre”? É uma história muito
antiga. Entre 1095 e 1291, sob o pretexto de recuperar a Terra Santa, sobretudo
Jerusalém, onde Jesus Cristo tinha sido crucificado e perto de onde ele nasceu,
então dominada por muçulmanos, reis cristãos europeus, abençoados pelo papado,
empreenderam uma série de guerras coloniais (no tempo não eram chamadas assim).
Na Terra Santa e arredores, como Síria, havia muitos cristãos e também remanescentes
judeus que viviam em paz com os muçulmanos (muitos deles foram mortos porque
não se vestiam “a moda europeia).
Cerca de apenas 200 anos depois do fim das
Cruzadas, começavam as grandes viagens marítimas a partir do Ocidente e os
assim ditos “descobrimentos”. Na concepção eurocentrista, todo o mundo não
europeu estava “encoberto”, era como se não existisse. Então, eles teriam todo
o direito de se apossar daquelas terras e colonizá-las em seu proveito. Com a
incultura que lhes era peculiar, destruíram velhas civilizações pré-colombianas
nas Américas, como os impérios inca, maia e asteca, além de povos menos
evoluídos que chamavam de índios confundindo América com Índia. Toda essa
destruição em nome de Deus e da Igreja. Não satisfeitos, no século 19 começaram
a dividir entre si África, Ásia e Oriente Médio. E só largaram esses povos
dividindo tudo antes em países artificiais, separando etnias amigas e colocando
juntas as que não se entendiam entre si.
E ainda vêm condenar o terrorismo (só o que
vem do lado daqueles povos) e se julgar no direito de achincalhar as convicções
e opiniões alheias, inclusive cultura e religião.
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