Algumas pessoas não têm encontrado o “Viver é
muito perigoso”. Ajudando: aí em cima, ao lado esquerdo de “Pauta atualizada”,
que chama para as postagens mais ou menos semanais que faço, está “Viver é
muito perigoso”; e ao lado direito “Artigos na imprensa’, que ainda não iniciei.
His dictis, como a gente dizia quando
estudava filosofia, passo a meus comentários. No Jornal do Commercio de domingo passado, triste reportagem, mais
triste ainda por tratar de algo rotineiro no péssimo modo de administrar
brasileiro e particularmente desta região. A Biblioteca Popular de Casa Amarela,
municipal, que já foi excelente no tempo em que havia preocupação com a educação
e a cultura do povo, há muitas goteiras (já pensou biblioteca com goteira; até
a Biblioteca do Estado já passou por tal vexame), sanitários interditados, piso
do auditório quebrado e mofado, paredes dando choque sem precisar nem na
costumeira negligência dos visigodos da Celpe. Não há bibliotecário nem consequentemente
renovação do acervo; centenas de livros aguardam um profissional para catalogá-los.
Na sala de informática, computadores obsoletos ou quebrados.
Autora da reportagem, a coleguinha Margarida
Azevedo (para cujo nome Antônio Portela e eu criamos uma tradução em inglês –
Dayse Hollywood) lembra outras quatro reportagens que ela fez no ano passado
tratando desses problemas, quase totalmente ignoradas pela PCR apesar de
promessas. Como pode acontecer uma coisa assim em uma cidade tão carente de ensino,
livros, computadores, internet, para ficarmos apenas na área
educativo-cultural. A triste verdade é que prioridade mesmo é ter dinheiro para
eleições e reeleições, sem falar no incontornável e renitente Caixa 2.
Prosseguindo em “coisas de não, fome, sede,
privação”, como poetava o grande João Cabral, chegamos a dois itens
interessantíssimos, que seriam para rir muito se não fosse seu conteúdo de cara
de pau e deboche. Vocês prestaram atenção na Rede Globo descomemorando valentemente
o golpe de 1964? Primeiro apareceu uma tardia confissão sobre o equívoco da
Globo nos anos 1960 em apoiar os militares que, em vez de defender a sociedade,
a pátria, sua obrigação, se transformaram em tropas de ocupação obedientes a
uma potência estrangeira. Depois vieram programas e mais programas sobre torturas,
desparecimentos, entre outras preciosidades da ditadura. A verdade é que a Rede
Globo, tão pujante hoje e manipuladora de fatos, é cria da ditadura e do desgoverno
de Ribamar Sarney, que teve como ministro das Comunicações o falecido Toninho
Malvadeza.
O outro item vi ontem na TV Record. Um
ilustre deputado do PSDB paulista, Vaz de Lima (nunca ouvi falar dele) dizendo
solenemente que o PT e Dilma estão debilitando a Petrobras para poderem
privatizá-la a preço de banana. Pode? Quem bagunçou a nossa petrolífera pública
foi o ínclito xogum Fernando 2º (vejam o livro Privataria Tucana), quis até trocar-lhe o nome para torná-lo mais
palatável aos gringos. Os malfeitos que estão sendo descobertos na Petrobras
têm de ser apurados e punidos. Mas temos de constatar que sua atual
administração é bem profissional e trata de consertar erros do passado.
E ainda. Você conhece alguma outra cidade em
que o que se chama de recapeamento consiste em, sem nenhum cuidado em retirar o
ordinário asfalto anterior nem na preparação do solo para dar-lhe consistência,
jogar mais asfalto de baixa qualidade por cima do antigo? O resultado, além do
prejuízo ao trânsito, é que a altura do leito da rua vai aumentando a cada “recapeamento”,
já ultrapassando a altura do piso das calçadas. E você conhece alguma cidade
que cuide pior do transporte público? Venderam a CTU, sob a condição de que
continuasse e ampliasse o serviço de tróleibus (ônibus elétricos, serviço
instituído pelo saudoso Pelópidas Silveira nos longínquos anos 1960). Uma
empresa paulista abiscoitou a CTU por “dois tões”, como se dizia antigamente, e
cuidou logo de arrancar o que ainda restava de cabos aéreos destinados a esse
tipo de transporte. Bonde ninguém mais novo sabe o que é, a não ser que vá a
Paris, Roma, Lisboa (entre outras cidades atrasadas). Depois veio o Metrô, que
não consegue se manter bem nem se expandir porque isso não interessa aos donos
de empresas de ônibus, que financiam campanhas de políticos. Esses submetem a
população a torturas medievais: ônibus velhos, desconfortáveis, sem horário
certo. Aqui em Aldeia, inventaram que todo mundo é barão e não precisa de transporte
público. Ledo engano. A maioria da população daqui precisa de transporte coletivo
e uma linha da Metropolitana que vai de Chã de Cruz ao terminal do Metrô de
Camaragibe disponibiliza ônibus de hora em hora, quando não estão quebrados.
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