terça-feira, 25 de março de 2014

CARA DE PAU E DEBOCHE



Algumas pessoas não têm encontrado o “Viver é muito perigoso”. Ajudando: aí em cima, ao lado esquerdo de “Pauta atualizada”, que chama para as postagens mais ou menos semanais que faço, está “Viver é muito perigoso”; e ao lado direito “Artigos na imprensa’, que ainda não iniciei.
His dictis, como a gente dizia quando estudava filosofia, passo a meus comentários. No Jornal do Commercio de domingo passado, triste reportagem, mais triste ainda por tratar de algo rotineiro no péssimo modo de administrar brasileiro e particularmente desta região. A Biblioteca Popular de Casa Amarela, municipal, que já foi excelente no tempo em que havia preocupação com a educação e a cultura do povo, há muitas goteiras (já pensou biblioteca com goteira; até a Biblioteca do Estado já passou por tal vexame), sanitários interditados, piso do auditório quebrado e mofado, paredes dando choque sem precisar nem na costumeira negligência dos visigodos da Celpe. Não há bibliotecário nem consequentemente renovação do acervo; centenas de livros aguardam um profissional para catalogá-los. Na sala de informática, computadores obsoletos ou quebrados.
Autora da reportagem, a coleguinha Margarida Azevedo (para cujo nome Antônio Portela e eu criamos uma tradução em inglês – Dayse Hollywood) lembra outras quatro reportagens que ela fez no ano passado tratando desses problemas, quase totalmente ignoradas pela PCR apesar de promessas. Como pode acontecer uma coisa assim em uma cidade tão carente de ensino, livros, computadores, internet, para ficarmos apenas na área educativo-cultural. A triste verdade é que prioridade mesmo é ter dinheiro para eleições e reeleições, sem falar no incontornável e renitente Caixa 2.
Prosseguindo em “coisas de não, fome, sede, privação”, como poetava o grande João Cabral, chegamos a dois itens interessantíssimos, que seriam para rir muito se não fosse seu conteúdo de cara de pau e deboche. Vocês prestaram atenção na Rede Globo descomemorando valentemente o golpe de 1964? Primeiro apareceu uma tardia confissão sobre o equívoco da Globo nos anos 1960 em apoiar os militares que, em vez de defender a sociedade, a pátria, sua obrigação, se transformaram em tropas de ocupação obedientes a uma potência estrangeira. Depois vieram programas e mais programas sobre torturas, desparecimentos, entre outras preciosidades da ditadura. A verdade é que a Rede Globo, tão pujante hoje e manipuladora de fatos, é cria da ditadura e do desgoverno de Ribamar Sarney, que teve como ministro das Comunicações o falecido Toninho Malvadeza.
O outro item vi ontem na TV Record. Um ilustre deputado do PSDB paulista, Vaz de Lima (nunca ouvi falar dele) dizendo solenemente que o PT e Dilma estão debilitando a Petrobras para poderem privatizá-la a preço de banana. Pode? Quem bagunçou a nossa petrolífera pública foi o ínclito xogum Fernando 2º (vejam o livro Privataria Tucana), quis até trocar-lhe o nome para torná-lo mais palatável aos gringos. Os malfeitos que estão sendo descobertos na Petrobras têm de ser apurados e punidos. Mas temos de constatar que sua atual administração é bem profissional e trata de consertar erros do passado.
E ainda. Você conhece alguma outra cidade em que o que se chama de recapeamento consiste em, sem nenhum cuidado em retirar o ordinário asfalto anterior nem na preparação do solo para dar-lhe consistência, jogar mais asfalto de baixa qualidade por cima do antigo? O resultado, além do prejuízo ao trânsito, é que a altura do leito da rua vai aumentando a cada “recapeamento”, já ultrapassando a altura do piso das calçadas. E você conhece alguma cidade que cuide pior do transporte público? Venderam a CTU, sob a condição de que continuasse e ampliasse o serviço de tróleibus (ônibus elétricos, serviço instituído pelo saudoso Pelópidas Silveira nos longínquos anos 1960). Uma empresa paulista abiscoitou a CTU por “dois tões”, como se dizia antigamente, e cuidou logo de arrancar o que ainda restava de cabos aéreos destinados a esse tipo de transporte. Bonde ninguém mais novo sabe o que é, a não ser que vá a Paris, Roma, Lisboa (entre outras cidades atrasadas). Depois veio o Metrô, que não consegue se manter bem nem se expandir porque isso não interessa aos donos de empresas de ônibus, que financiam campanhas de políticos. Esses submetem a população a torturas medievais: ônibus velhos, desconfortáveis, sem horário certo. Aqui em Aldeia, inventaram que todo mundo é barão e não precisa de transporte público. Ledo engano. A maioria da população daqui precisa de transporte coletivo e uma linha da Metropolitana que vai de Chã de Cruz ao terminal do Metrô de Camaragibe disponibiliza ônibus de hora em hora, quando não estão quebrados. Precisa mais?

Nenhum comentário: