Anuncia-se, às vésperas da inauguração da
copa do Mundo, que a Fifa liberou a tapioca para os torcedores pernambucanos
que conseguirem chegar à Arena Pernambuco. Mas não liberou geral. Não é
qualquer tapioca, não; só tapioca padrão Fifa ou Fifode, escolhida
cuidadosamente por um comitê ad hoc que veio lá da Suíça após fazer um curso de
culinária tupiniquim. Já pensaram uma tapioca padrão Fifa? O Fifode fica por
conta do Macaco Simão, da Folha de S.
Paulo, que criou o neologismo depois de saber que a onorata società havia
encampado também o termo “pagode”. Você poderá escolher entre vários sabores.
Tem, por exemplo, a tapioca Havelange, a Teixeira, a Blatter, a Valcke, tutti
buona gente... Uma vergonha tanta subserviência a um órgão tão carimbado por
corrupção.
Confesso a vocês que futebol, copas não são a
minha praia. Gosto muito de esportes e devo à sua prática o fato de continuar
um garotão aos 82 anos (desculpem a presunção; é o fã clube que fala isso). Eu
gostava de futebol quando era ainda jogado com esportividade, sem empurrões,
caneladas, cotoveladas. Depois que passou a ser uma profissão muitíssimo bem
remunerada e instrumento da política à brasileira, vejo-o como “ópio do povo”,
como Marx se referia à religião (apesar de que Engels, seu companheiro na
redação do Manifesto, era fã do livro
dos Atos dos Apóstolos, onde via um
comunismo puro: a cada um conforme sua necessidade, de cada um conforme sua
capacidade).
A gente hoje não pode sossegar com o berreiro
de um Gavião Bueno, por exemplo, e incutiu-se na população, a partir da
ditadura, que a seleção brasileira, que eles chamam de Brasil, tem de ganhar,
não pode perder. Com todo o respeito a quem entra no clima e depois se
decepciona. Mesmo na Copa do Mundo de 1950, quando ainda se jogava um futebol
decente, esportivo, eu estava tão por fora que fiquei sem entender a reação
fúnebre à derrota para o Uruguai.
Para torcedores da Alemanha, da Itália, da
Espanha, ganhar uma Copa do Mundo e outros campeonatos é ótimo. Mas, se não
ganhar, eles têm muita coisa de que se orgulhar. O torcedor brasileiro precisa
aprender a se orgulhar de suas poucas conquistas, além das futebolísticas. Dos
avanços no campo social, mesmo ainda modestos. Do chega pra lá que Dilma deu em
Obama no caso da espionagem desenfreada do bondoso Tio Sam.
PS – Desapareceu da minha estante o primeiro
volume de Martinho Lutero - Obras
selecionadas, preparado pela Comissão Interluterana de Literatura de São
Leopoldo (RS). Peço a quem o pegou que me devolva depois de consultar. Também
desapareceu o Novo Testamento em grego e latim, uma preciosidade, mas esse já
faz muito tempo. Fora outros que nem anotei. Quem ama tanto os livros deveria
saber que seus donos também os amam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário