quarta-feira, 11 de junho de 2014

JÁ PENSARAM UMA TAPIOCA PADRÃO FIFA? SALTA AÍ UMA SABOR HAVELANGE



Anuncia-se, às vésperas da inauguração da copa do Mundo, que a Fifa liberou a tapioca para os torcedores pernambucanos que conseguirem chegar à Arena Pernambuco. Mas não liberou geral. Não é qualquer tapioca, não; só tapioca padrão Fifa ou Fifode, escolhida cuidadosamente por um comitê ad hoc que veio lá da Suíça após fazer um curso de culinária tupiniquim. Já pensaram uma tapioca padrão Fifa? O Fifode fica por conta do Macaco Simão, da Folha de S. Paulo, que criou o neologismo depois de saber que a onorata società havia encampado também o termo “pagode”. Você poderá escolher entre vários sabores. Tem, por exemplo, a tapioca Havelange, a Teixeira, a Blatter, a Valcke, tutti buona gente... Uma vergonha tanta subserviência a um órgão tão carimbado por corrupção.
Confesso a vocês que futebol, copas não são a minha praia. Gosto muito de esportes e devo à sua prática o fato de continuar um garotão aos 82 anos (desculpem a presunção; é o fã clube que fala isso). Eu gostava de futebol quando era ainda jogado com esportividade, sem empurrões, caneladas, cotoveladas. Depois que passou a ser uma profissão muitíssimo bem remunerada e instrumento da política à brasileira, vejo-o como “ópio do povo”, como Marx se referia à religião (apesar de que Engels, seu companheiro na redação do Manifesto, era fã do livro dos Atos dos Apóstolos, onde via um comunismo puro: a cada um conforme sua necessidade, de cada um conforme sua capacidade).
A gente hoje não pode sossegar com o berreiro de um Gavião Bueno, por exemplo, e incutiu-se na população, a partir da ditadura, que a seleção brasileira, que eles chamam de Brasil, tem de ganhar, não pode perder. Com todo o respeito a quem entra no clima e depois se decepciona. Mesmo na Copa do Mundo de 1950, quando ainda se jogava um futebol decente, esportivo, eu estava tão por fora que fiquei sem entender a reação fúnebre à derrota para o Uruguai.
Para torcedores da Alemanha, da Itália, da Espanha, ganhar uma Copa do Mundo e outros campeonatos é ótimo. Mas, se não ganhar, eles têm muita coisa de que se orgulhar. O torcedor brasileiro precisa aprender a se orgulhar de suas poucas conquistas, além das futebolísticas. Dos avanços no campo social, mesmo ainda modestos. Do chega pra lá que Dilma deu em Obama no caso da espionagem desenfreada do bondoso Tio Sam.
PS – Desapareceu da minha estante o primeiro volume de Martinho Lutero - Obras selecionadas, preparado pela Comissão Interluterana de Literatura de São Leopoldo (RS). Peço a quem o pegou que me devolva depois de consultar. Também desapareceu o Novo Testamento em grego e latim, uma preciosidade, mas esse já faz muito tempo. Fora outros que nem anotei. Quem ama tanto os livros deveria saber que seus donos também os amam.

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