Fernando 2º (FHC) andou por Buenos Aires
ensinando ao presidente Macri como se vende barato um país, preparando a visita
programada de ForaTemer, o atual vendilhão do nosso patrimônio público, se
Nossa Senhora do Bom Parto não nos ajudar a sair desta o quanto antes.
O Brasil é um país que ora anda devagar, ora
nem sai do canto. Escravagismo, abolição deste sem reforma agrária, ao
contrário do que propunha Joaquim Nabuco, daí latifúndio improdutivo e
empedernido, elites ignorantes, pedantes e predatórias, além de muita coisa
mais, nos trouxeram a tal impasse. Até o pós-guerra, o Brasil avançava, se
industrializava, se esforçava por educar melhor sua população. Com ditadura ou
sem, Getúlio tinha um projeto de pais pelo qual pagou, mais adiante, com sua
vida. O país tinha reservas que acumulara durante o conflito e tinha condições
para voos mais altos. Atentos à senha dada pelo embaixador estadunidense Berle,
Eurico Dutra, Gois Monteiro e outros generais fascistoides deram um golpe em
Getúlio, pondo fim ao Estado Novo (do qual tanto se aproveitaram) quando ele já
estava morrendo, pois eleições estavam marcadas para dezembro e estava-se em
plena campanha com ampla liberdade.
Dutra foi eleito pelo rolo compressor do voto
de cabresto. O outro candidato mais forte era outro militar fascistoide, o
brigadeiro Eduardo Gomes. Continuando no caminho já iniciado pelo
presidente-tampão José Linhares, Dutra prosseguiu torrando as divisas
acumuladas durante a guerra na compra de sucata de guerra, cigarros dos EUA,
passas da Califórnia, Coca-Cola (ainda não havia fábricas dessa droga por aqui)
etc. Quando Getúlio voltou, eleito democraticamente com boa vantagem, em 1950,
tentou acabar com essa sangria e, pecado mortal inafiançável, criou a
Petrobras. “Ceterum, censeo Carthaginem esse delendam” (No mais, acho que
Cartago deve ser destruída), como pregava o romano Cícero, devem ter pensado
udenistas e golpistas em geral. Antes de findar seu mandato, o presidente foi
acuado pelos antecessores de ForaTemer, preferindo suicidar-se a sair humilhado
do Palácio do Catete.
Os golpistas perderam, dada a comoção popular
pela morte de Getúlio. O golpe da Casa-Grande teve de ser adiado por dez anos. Lacerda
ainda procurou outro golpe, com Carlos Luz, mas levou um chega-pra-lá de um
militar nacionalista e anti-golpe, o marechal Henrique Teixeira Lott. Lacerda
ainda buscou melar a posse de JK, eleito no ano seguinte à morte de Vargas,
1955. JK não era nenhum golpista, pelo contrário, mas a retomada do projeto
nacional de Getúlio por ele não se baseou na criação de tecnologia autônoma. Ao
contrário de outros países, ele fomentou a vinda de capitais estrangeiros (que
não fazem mal desde que dentro de uma perspectiva nacional) para lançar uma
indústria automobilística capitaneada pela Volkswagen, Ford etc.
Enquanto isso, os países derrotados na 2ª
Guerra Mundial, como Alemanha, Japão, e outros massacrados pela guerra, como a Coreia
do Sul, partiram para a criação ou recriação de seu parque industrial. A
Alemanha é o país mais rico da Europa. Japão, Coreia do Sul e outros chamados
de “tigres asiáticos” têm hoje suas indústrias automobilísticas e muitas outras
de alta tecnologia, com know-how próprio ou agregação de tecnologia. Exportam
até para a Europa e Estados Unidos. A China segue o mesmo caminho.
A China, até o fim da malfadada Revolução
Cultural, era de um atraso penoso. Aí redescobriu, lendo Marx mais atentamente,
que socialismo/comunismo não são sinônimos de estatismo; o que é público não é
estatal, é da sociedade. Com tecnologia autônoma ou incorporando tecnologia
importada, a China é hoje um país de regime comunista com grande espaço para um
capitalismo não selvagem (o nosso é selvagem). Um exemplo para a nova Cuba e
para a vizinha Coreia do Norte, atualmente governada por uma dinastia demente.
E nós? Continuamos sem criar tecnologia autônoma,
desequilibrando a balança de pagamentos com importações desnecessárias. Mal ou
bem, com todos os seus aspectos negativos, os governos do PT estavam retomando
o projeto nacional de Getúlio Vargas. Devagar e sempre. Sempre? O golpe
travestido de impeachment abriu o governo para entrega a capitais estrangeiros
de tudo o que restou do patrimônio público após os dois mandatos do xogum Fernando
2º. Como na “privataria tucana” (leiam o livro homônimo), é liquidar tudo bem
barato e com financiamento do BNDES. Salvar-nos-emos?