Consta que a Fundação Ford (EUA) tem como um
de seus objetivos conquistar a intelectualidade ocidental para as propostas
ideológicas estadunidenses. Uma comprovação disso encontra-se no livro Quem pagou a conta? da pesquisadora
inglesa Frances Stonor Saunders (tradução brasileira pela Record, de Vera
Ribeiro). Segundo outro interessante livro, Fernando
Henrique Cardoso, o Brasil do possível,
da francesa Brigitte Hersant Leoni (tradução pela Nova Fronteira, de Dora
Rocha), numa noite do início de 1969, pouco após a edição do infame AI-5 da
ditadura de 1964-85, Fernando 2º (FHC) foi ao escritório da Fundação Ford, onde
teve uma conversa com Peter Bell, seu representante no nosso país. Bell se
entusiasma com a alma entreguista do xogum (qualificação que lhe foi dada por
Mangabeira Unger, de Harvard) e lhe oferece uma ajuda financeira de US$145 mil
para montar o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Isso era
apenas uma entradazinha de uma ajuda que pode ter chegado US$1 milhão.
Agora que vimos Fernando 2º apoiando, junto
com uma malta de tucanos de impressionante bico, o golpe travestido de
impedimento contra a presidente eleita em 2014, podemos ter certeza sobre o
dinheiro americano. Não o estavam jogando pela janela. Ele já tinha serviços prestados.
Por exemplo, mancomunado com o chileno Faletto, acabava de lançar Dependência e desenvolvimento na América Latina. O livro defende a tese de que
países em desenvolvimento ou mais atrasados podem se desenvolver mesmo mantendo
dependência em relação a países ricos, como os EUA. Com essa grana para gastar à
vontade, o xogum foi catapultado a personalidade internacional, sendo convidado
por universidades europeias e estadunidenses. E o que é a Fundação Ford (ou
era?): um braço intelectual da CIA, serviço secreto dos EUA.
Segundo a pesquisadora Saunders, o uso de
fundações filantrópicas pela CIA ocultava a origem da grana e podia financiar
intelectuais escolhidos por sua postura “correta” na Guerra Fria. O que tornou
difícil sustentar equidistância cultural. No livro, a autora diz que, segundo
Fernando 2º, o dinheiro era tanto que não se conseguia gastar tudo: “Não havia
limites. Ninguém tinha de prestar contas. Era impressionante”.
Tem um economista estadunidense, Mark
Weisbrot, colunista do inglês The
Guardian e do The New York Times,
que em 2012, falando à revista Carta
Capital, exaltou a maior independência da América do Sul em relação aos EUA
e ao FMI: “A região passou por uma mudança enorme na última década. No passado,
estava dominada pelos Estados Unidos, mas hoje o Cone Sul é mais independente
de Washington, além de ter uma política exterior autônoma. A mudança é
histórica e abriu um monte de oportunidades. O crescimento econômico dos
últimos dez anos na região foi muito mais alto do que aquele ocorrido entre
1980 e 2000. O grande resultado é mérito dos novos governos de esquerda”.
A Casa-Grande, empresários rentistas,
reacionários empedernidos não podiam tolerar isso. Lugo, Zelaya, Dilma foram
golpeados sem complacência. Maduro está balançando na corda bamba. Enquanto
isso, Temer e seus asseclas que assaltaram o poder se apressam em torrar o que
sobrou do patrimônio público, que o xogum não teve tempo de torrar. Merecemos?
Isso vai mudar? Que o Bom Jesus da Lapa nos proteja.
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