domingo, 17 de agosto de 2014

EDUARDO – UMA MORTE TRÁGICA E LAMENTÁVEL




Hoje, domingo 17, estamos acompanhando as honras fúnebres e o sepultamento de um jovem político pernambucano, Eduardo Campos, neto do ex-governador Miguel Arraes, que marcou a nossa vida com um governo altamente progressista num momento em que o bondoso Tio Sam e militares brasileiros entreguistas tramavam (e infelizmente conseguiram) a interrupção do nosso evoluir democrático durante um quinto de século. Lembro, para quem não viveu aquela época, que era um tempo de grandes sonhos, de uma utopia que se podia tocar com a mão. Aqui no nosso Estado, Arraes obteve o chamado Acordo do Campo: de repente os trabalhadores rurais começaram a ganhar um salário mais decente, comprar colchões, eletrodomésticos. A escravagista instituição do “armazém” da usina começou a ser derrubada. Em outra área, o Movimento de Cultura Popular, criado por ele quando foi prefeito do Recife, e o Serviço de Extensão Cultural, liderado por Paulo Freire, punham na ordem do dia a educação e alfabetização de adultos e a cultura popular.
Era uma festa. Do Rio, de São Paulo e outras regiões do país vinham para cá os que queriam ver como uma utopia pode se tornar real. Além de observadores para espionar a “comunização” que Arraes estaria promovendo, um líder que nunca foi comunista (n’O Globo, os bacamarteiros de Caruaru chegaram a ser apresentados como milícia de Arraes). Grupos de teatro de vanguarda, como o de Augusto Boal, vinham ao Recife para ensinar e aprender. Tudo isso foi fuzilado por militares que deveriam defender o país e, em lugar disso, promoveram seu atrelamento, que pretendiam definitivo, aos ditames e objetivos do Departamento de Estado dos EUA..
Eduardo nasceu pouco após a deposição e prisão de Arraes, que se recusou a renunciar, como queriam os fardados. Ele veio de Fernão de Noronha, onde estava ilegalmente preso sem processo e sem sentença, para ver o casamento da filha Ana com Maximiliano Campos, na Base Aérea do Recife. Não posso afirmar que Eduardo repetiu a trajetória do avô, pois, embora falasse muito em renovação e outra maneira de governar, estava bastante ligado à tradição política vigente no Brasil.
Mas a morte de um jovem é sempre lamentável, sobretudo quando tão trágica. Seus filhos de repente ficam sem pai e, por pouco, não ficam também sem mãe e sem um irmão, pois dona Renata acompanhava seu marido na campanha, sempre juntos com o bebezinho Miguel. É natural e comum que um pai morra antes dos filhos. Mas não desse modo trágico. Embora eu não conhecesse o casal mais de perto, deixo aqui meus sentimentos de solidariedade a dona Renata e filhos e a todos os parentes e amigos.

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