Hoje, domingo 17, estamos acompanhando as
honras fúnebres e o sepultamento de um jovem político pernambucano, Eduardo
Campos, neto do ex-governador Miguel Arraes, que marcou a nossa vida com um
governo altamente progressista num momento em que o bondoso Tio Sam e militares
brasileiros entreguistas tramavam (e infelizmente conseguiram) a interrupção do
nosso evoluir democrático durante um quinto de século. Lembro, para quem não viveu
aquela época, que era um tempo de grandes sonhos, de uma utopia que se podia
tocar com a mão. Aqui no nosso Estado, Arraes obteve o chamado Acordo do Campo:
de repente os trabalhadores rurais começaram a ganhar um salário mais decente,
comprar colchões, eletrodomésticos. A escravagista instituição do “armazém” da
usina começou a ser derrubada. Em outra área, o Movimento de Cultura Popular,
criado por ele quando foi prefeito do Recife, e o Serviço de Extensão Cultural,
liderado por Paulo Freire, punham na ordem do dia a educação e alfabetização de
adultos e a cultura popular.
Era uma festa. Do Rio, de São Paulo e outras
regiões do país vinham para cá os que queriam ver como uma utopia pode se tornar
real. Além de observadores para espionar a “comunização” que Arraes estaria
promovendo, um líder que nunca foi comunista (n’O Globo, os bacamarteiros de Caruaru chegaram a ser apresentados
como milícia de Arraes). Grupos de teatro de vanguarda, como o de Augusto Boal,
vinham ao Recife para ensinar e aprender. Tudo isso foi fuzilado por militares
que deveriam defender o país e, em lugar disso, promoveram seu atrelamento, que
pretendiam definitivo, aos ditames e objetivos do Departamento de Estado dos
EUA..
Eduardo nasceu pouco após a deposição e
prisão de Arraes, que se recusou a renunciar, como queriam os fardados. Ele
veio de Fernão de Noronha, onde estava ilegalmente preso sem processo e sem
sentença, para ver o casamento da filha Ana com Maximiliano Campos, na Base
Aérea do Recife. Não posso afirmar que Eduardo repetiu a trajetória do avô,
pois, embora falasse muito em renovação e outra maneira de governar, estava
bastante ligado à tradição política vigente no Brasil.
Mas a morte de um jovem é sempre lamentável,
sobretudo quando tão trágica. Seus filhos de repente ficam sem pai e, por
pouco, não ficam também sem mãe e sem um irmão, pois dona Renata acompanhava
seu marido na campanha, sempre juntos com o bebezinho Miguel. É natural e comum
que um pai morra antes dos filhos. Mas não desse modo trágico. Embora eu não
conhecesse o casal mais de perto, deixo aqui meus sentimentos de solidariedade
a dona Renata e filhos e a todos os parentes e amigos.
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