Francisco de Roma, o papa que redescobriu
Jesus Cristo e o Evangelho, está novamente na América do Sul, desta vez
visitando o Equador, a Bolívia e o Paraguai, dos mais pobres países desta banda
das Américas. Não é tanto essa viagem missionária que desejo ressaltar hoje,
mas o que ele ensinou, na recente encíclica Laudato
si’, sobre uma visão integral e inclusive teológica da ecologia. O título
da carta, que ele dirigiu ao mundo inteiro, não apenas aos cristãos, foi tirado
de um poema do outro Francisco, seu modelo, o de Assis, em louvor à natureza.
Na visão certeira do bispo de Roma, é insuficiente lutar só pela salvação de
biomas, de animais em extinção, contra as causas do aquecimento global, se, ao
mesmo tempo, não brigarmos pelo respeito à casa comum que é a nossa Terra, o
universo, pela restauração e conservação de sua integridade
Outro aspecto primordial a assinalar na carta
de Francisco é o dedo do ecoteólogo (ecologista e teólogo) brasileiro Leonardo
Boff e as bandeiras empunhadas, nesta América pobre, pela Teologia da
Libertação (TL), tão cristãmente visionária e tão maltratada pelos papas
Wojtyla e Ratzinger. Na visão teológica da TL, os mais atingidos pelas
agressões à arrumação ecológica (do grego oikos = casa) que a natureza nos deu
são justamente os mais pobres, privados de água potável, saneamento básico,
habitações decentes, alimentos bons e baratos.
A rica Europa dos papas mais recentes,
antecessores do pastor argentino, além de não se preocupar com a pobreza,
miséria mesmo, de tanta gente da América do Sul, arranjou uma maneira
autoritária de impedir que teólogos identificados com nossos índios, caboclos,
pobres em geral pudessem defender e pregar suas posições. Leonardo Boff, por
exemplo, foi duramente coibido pelo papa Ratzinger, quando este ainda era
cardeal e reinava na Congregação para a Doutrina da Fé (que lembra Santo
Ofício, Inquisição et caterva), enquanto se preparava para se impor como o
próximo papa no ocaso do papa polonês.
A consequência desse eurocentrismo e da visão
romano-imperial que predominava entre os papas antes de Francisco é a
tolerância a respeito do desflorestamento sem peias, do agronegócio brasileiro
vesgo e incapaz de alimentar as massas, da transformação de rios e mares em
lixeira e esgoto a céu aberto e, sobretudo na transformação de nosso pobre país
no melhor mercado do mundo para transgênicos (ainda mal pesquisados em seus
lados negativos) e agrotóxicos. Que venham doenças e mortes, desde que as
multinacionais lucrem e prosperem...
É a hora de dar um firme sacolejo em nosso
cristianismo tão formal (batizar as crianças, ir à missa de vez em quando,
fazer uma opção preferencial pelos ricos e os que mandam no pedaço), enquanto
nem sequer se abre o Evangelho, o livro dos Atos dos Apóstolos, para saber o que
Cristo pregou, como viviam as primeiras comunidades de seus discípulos, como
vivem e agem os santos de todos os tempos, não aqueles canonizados apesar de
vida nada recomendável, mas os santos autênticos, como Francisco de Assis, João
Bosco, Vicente de Paulo e tantos outros.
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