terça-feira, 27 de outubro de 2015

OS JUDEUS E O RECIFE, UMA HISTÓRIA DE AMOR ANTIGA

“A violência aumentou demais em Israel. Por isso esses atos começaram a ser programados pelo mundo. Foi pura coincidência ter sido no mesmo dia do Festival da Cultura Judaica, o que terminou sendo bom porque reuniu mais pessoas. Estamos aqui para repudiar os atentados terroristas que estão acontecendo em Israel”. Assim se expressou Haim Ferreira, um dos organizadores do ato pela paz em Israel realizado domingo no Recife.
O Festival da Cultura Judaica realizou-se pela 24ª vez na Rua do Bom Jesus (antiga Rua dos Judeus) em torno da primeira sinagoga das Américas, a Kahal Zur Israel. Tem toda a razão de ser, pois o nosso Estado, sobretudo o Recife e adjacências (que já foi o Brasil Holandês), nasceu e cresceu com os cristãos novos, judeus forçados a “se converter” ao cristianismo para escapar às fogueiras da Inquisição. Vale conferir o livro do médico e escritor Candido Pinheiro, a sair em novembro, sob o título Branca Dias, filhos, netos e a Inquisição, sobre essa ainda hoje lembrada senhora de engenho que não conseguiu escapar do braço armado de uma Igreja transviada do Evangelho. No Açude da Prata, por trás do Horto de Dois Irmãos, consta, por antiga lenda, que ela jogou sua prataria, acreditando que voltaria viva ao Brasil. Na história de amor entre o Recife e os judeus também houve, infelizmente, episódios de desamor como esse.
O festival está agora integrado ao Recife Antigo de Coração e compõe-se de música, dança, exposição fotográfica e barracas para venda de comedorias específicas da colônia judaica pernambucana. Tudo aberto ao público. Só a visita à sinagoga custava, ontem, o preço promocional de R$5. Atração à parte foi a Orquestra Judaica do Recife. Valeu a pena também a exposição fotográfica Memorabília, de Cláudia Jacobovitz, que teve quase toda a família de sua avó Nora dizimada pelo nazismo na Polônia.
Lembremos que houve duas ondas de imigração de judeus para o Recife, sem contar os cristãos novos. A primeira durante o infelizmente efêmero governo de Maurício de Nassau, no século 17, quando conviviam pacificamente calvinistas holandeses, católicos portugueses e judeus. Uma espécie de reedição do Reino de Córdoba, último reduto dos muçulmanos na Espanha, com seus grandes sábios, como Avicena e Avarroes, e aquela arte moura que sobrevive até hoje. A segunda onda migratória judaica só veio dar-se no início do século passado. Com a saída dos holandeses, o que judeus e protestantes podiam aguardar era a volta da Inquisição. E ainda chamam a isso de “Restauração Pernambucana”.
Para terminar, volto à informação que inicia esta postagem. Está escondida ali a confusão habitual que se faz entre os judeus por etnia espalhados pelo mundo e o Estado de Israel; bem como a defesa geral da belicosidade do Estado sionista, por parte de muitos. O sr. Haim Ferreira omite, ou esquece, os atentados terroristas cometidos pelo governo israelense contra os palestinos, desde a expulsão de milhares deles de suas casas e terras em 1948 até a atual colonização daquilo que resta do que deveria ser, segundo a ONU, o Estado Palestino, que englobaria também a Faixa de Gaza. Como o povo palestino, que habita aquelas terras há séculos, não tem nenhuma culpa pelo que os nazistas, e antes deles muitos outros, fizeram contra o povo judeu, fica difícil entender a posição do governo israelense. Ou não seria terrorismo cercar as aldeias palestinas de muros (não é só o Muro de Berlim que deve ser visto como antidemocrático e desumano), impedir o livre acesso de palestinos aonde quiserem, sobretudo à esplanada onde têm sua venerável mesquita, destruir quase totalmente a Faixa de Gaza e impedir que entrem ali materiais de construção, dificultar ajuda humanitária a um quarto da população palestina que vive na pobreza?
Como o governo dos Estados Unidos, o governo israelense divide o terrorismo entre terrorismo do mal (o praticado por outros) e terrorismo do bem (o praticado por eles.
PS – 1- Foi-se há alguns dias o brilhante Ustra, um torturador torturado pelo câncer. Uma lei que só poderia existir no Brasil protege todos aqueles que torturaram, mataram, “desapareceram” e aqueles que justificaram tudo isso, generais-ditadores e patentes de menor calibre.

            2- Amanhã, terça, haverá sessão solene às 9h, na Câmara Municipal do Recife, em homenagem ao Padre Henrique, trucidado pela ditadura; por iniciativa da vereadora Isabella de Roldão.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

DAS GUERRAS DO ÓPIO A UM COLONIALISMO MAIS MODERNO. MENOS PREDATÓRIO?

Segundo avaliação da entidade Global Financial Integrity, cerca de US$170 bilhões de empresas saíram ilegalmente do Brasil nos últimos dez anos. A principal razão para isso é o tratamento preferencial dado ao capital estrangeiro, subtaxado quando da remessa de lucros para o exterior, conforme a organização Tax Justice Network. Essas informações provêm da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que pretende promover uma reforma do padrão tributário internacional para obrigar as empresas transnacionais a declarar os lucros nos países onde vendem e faturam. As perdas de países como o nosso por sonegação são estimadas em 10% da receita tributável, a maior parte desviada para países com taxação baixa e paraísos fiscais.

O fato é que nenhum país hoje desenvolvido passou por processos criados mais recentemente, sob a égide da Organização Internacional do Comércio (OIC), como, por exemplo, a proibição de governos protegerem as empresas de seus países e tomarem medidas contra o imperialismo comercial. “Nenhum país hoje desenvolvido praticou o livre comércio”, afirma o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, representante geral do Mercosul em discussões com a União Europeia. Países como a Grã-Bretanha (GB), os Estados Unidos (EUA) e outros do assim dito Primeiro Mundo primeiro se desenvolveram com um comércio sem peias, para, mais tarde, arquitetarem regras inibidoras para quem não tinha tradição industrial e comercial. A Grã-Bretanha também recorreu (e como!) à pirataria pura e simples, disfarçando seus piratas sob a designação de corsários. Ora pois, diriam os lusos. E engendrou duas Guerras do Ópio (aí não disfarçaram) para obrigar a China a produzir e consumir a droga. A atual guerra às drogas foi inventada muito depois e é responsável pelos males que vemos por aí: tráfico, bairros inteiros dominados por traficantes coadjuvados por certos bandidos fardados. Após as Guerras do Ópio, a tão cristã e civilizada Inglaterra ainda se julgou com o direito de passar um século dominando a colônia de Hong-Kong. E viva o capitalismo, tão ético e democrático.

Depois de tudo isso, no alvorecer do século 21, os países ricos de sempre pretendem expandir o neocolonialismo ao proporem a criação de um Tratado Transpacífico que juntará num mercado comum, além de países superdesenvolvidos, como EUA, Canadá e Japão, também México (com sua economia já desmantela por tratado similar com EUA e Canadá), Chile, Peru, Austrália, Nova Zelândia, Malásia, Cingapura, Vietnam e Brunei. O mais espantoso é que tal acordo foi decidido por cima dos respectivos governos, pelas transnacionais, Wall Street e advogados. Uma renúncia sem precedentes ao poder dos Estados nacionais em favor de empresas privadas.

O mais estranho é que, vendo o diabo ou o rabo dele em tudo que o governo de Brasília faz ou deixa de fazer, tem muita gente aí reclamando a ausência do nosso país no Transpacífico. Pindorama, aliás, não é banhada por nem uma gota d’água do oceano Pacífico. Este governo que está aí merece muita crítica, mas não vamos exagerar.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

GUARANIS CAÇADOS POR JAGUNÇOS NO MATO GROSSO DO SUL.



Os indígenas de Pindorama tiveram um pouco mais de sorte que os dos Estados Unidos pelo fato de os portugueses não terem empreendido uma corrida para o Far West, não só porque os espanhóis vinham comendo aquelas beiradas sul-americanas do oeste, mas por terem preferido explorar logo o nosso vasto litoral e a região da Mata Atlântica. Os índios que não foram mortos foram adentrando o Centro-Oeste e a Amazônia onde, a partir dos governos militares, vêm sendo surpreendidos por madeireiros, plantadores de soja, grileiros de toda espécie. O fato é que ainda temos muita coisa a salvar da floresta e dos povos da floresta, enquanto os americanos dizimaram povos inteiros e transformaram o que sobrou em uma espécie de animais de reservas.
Faço estas considerações ao ver o que estão fazendo contra os guaranis no Mato Grosso do Sul. Esses índios reivindicam a pose da terra indígena Nhande ru Marangatu, uma áreas de 9,3 mil hectares homologada pelo governo Lula em 2005. Fazendeiros e grileiros ganharam reintegração de posse do excelso ministro do STF Nelson Jobim, aquele que gostava de se fantasiar de soldadinho quando ministro da Defesa. Desde então a questão está sub iudice. Já que nada se resolveu em dez anos, 1.400 índios resolveram ocupar o terreno já homologado. A reação dos ruralistas, que integram o segundo governo de dona Dilma, não demorou. Decidiram retomar as fazendas recuperadas pelos índios e vêm matando muitos deles (só no ano passado 41 foram assassinados). “Agora, o único jeito de nos tirar daqui é se matarem todos nós”, diz o índio Mariano Vilhalva, sobrinho do assassinado guarani-kaiowá Simão Vilhalva. Pistoleiros e jagunços dos fazendeiros andam à solta e só são um pouco contidos por forças da União e do Estado.
O grande equívoco do governo federal, nessa questão, é negociar direitos que são inegociáveis, segundo o repórter Rodrigo Martins (Carta Capital). O procurador da República em Dourados (MS) Marco Antônio Delfino ajuizou, este ano, uma ação  contra o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, por improbidade administrativa. A ex-presidente da Funai Maria Augusta Assirati, depois que se desligou da entidade, denunciou à imprensa que os grupos de trabalho para identificar terras indígenas não puderam concluir seus relatórios por determinação expressa do Ministério da Justiça. Por sua ação em prol dos índios, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi, ligado à CNBB) está na alça de mira dos fazendeiros. Os ruralistas, protegidos pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, querem transferir para o Legislativo a atribuição de homologar terras indígenas, além de permitir atividades agropecuárias e de garimpo nessas terras. Com esse Congresso maravilhoso que temos aí, o que se pode esperar quando conseguirem isso?

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

TEM ALGUÉM QUEIMANDO COISA. TÁ BOTANDO PRA QUEBRAR. OU ENTÃO É A ZEFINHA PREPARANDO MEU JANTAR



Oi, gente! Pelo jeito, não se respeita mais horário marcado neste país. Aliás, não se respeita nada. Com o Congresso de mal com o Executivo e o Supremo fazendo o papel de Legislativo, o resto do país vai atrás no faz-de-conta. Serviços cobrados caro não são prestados a contento, por exemplo. E, apesar do zelo da Polícia Federal e de alguns procuradores e juízes, as poucas verbas que restaram na crise são ainda mais insuficientes pelo fato de prosseguirem as propinas e a fome de privatização do dinheiro público.
Comecei a escrever esta postagem pensando no que ocorreu duas vezes com minha filha Hélida (de Patrícia, mas é mesmo que ser minha, pois convivo com ela desde que tinha dez anos; tenho tempo de serviço; quanto mais pai, mãe, avô, avó melhor). Duas vezes ela levou meu netinho Benito pra ver Palavra Cantada, um espetáculo de cantigas infantis. Cansou de esperar. A primeira vez foi no Parque da Jaqueira. Após horas de espera, foi embora. Não sabe nem se houve o que estava prometido. Agora o caso se repete no Shopping Recife. Atraso de pelo menos duas horas; mas afinal apareceram algumas palavras cantadas. Ora, todo mundo merece respeito. Criança, mais ainda.
Outra má experiência. Assino a revista Carta Capital há uns 15 anos, cansado da Veja e outras baboseiras perigosas, pois pretendem refletir a opinião pública. Toda vez que é para renovar é um drama. Não avisam nada e ainda inventam débitos de um ano atrás. Há algumas semanas que não a recebo. Outro enguiço com a assinatura do Jornal do Commercio. Mandei pro crédito automático no Banco do Brasil, mas o banco só paga se houver uma confirmação a cada parcela. Além do mais, a minha agência mudou-se da Reitoria da UFPE para o Parque do Cordeiro e não levou os telefones. Sem nenhum aviso. Pode, gente? Será que tem alguma societas sceleris (sociedade criminosa ou crime organizado) querendo afundar o Banco do Brasil, como aconteceu com a Petrobras?
“Ou então é a Zefinha preparando meu jantar”, como na cantiga do fumacê. Ou pior: “Tem alguém queimando coisa. Tá botando pra quebrar”. É a Zefinha? É a coisa? A erva? O desgoverno? Quem votou na Dilma foi para ter uma ministra ruralista, um ministro dos banqueiros? Um ministério dito “renovado”, mas carimbado pela mesmice? E ainda temos de torcer para que não haja clima para um golpe, como querem Fernando 2º, Serrinha, Aecito et caterva. Democracia, eleições, alternância no poder, essa turma não sabe o que é isso. São discípulos tardios do corvo Carlos Lacerda, que levou Vargas (eleito democraticamente) ao desespero, quis impedir a candidatura e depois a posse de JK e terminou sendo descartado pelos militares que tanto bajulara.