segunda-feira, 19 de outubro de 2015

DAS GUERRAS DO ÓPIO A UM COLONIALISMO MAIS MODERNO. MENOS PREDATÓRIO?

Segundo avaliação da entidade Global Financial Integrity, cerca de US$170 bilhões de empresas saíram ilegalmente do Brasil nos últimos dez anos. A principal razão para isso é o tratamento preferencial dado ao capital estrangeiro, subtaxado quando da remessa de lucros para o exterior, conforme a organização Tax Justice Network. Essas informações provêm da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que pretende promover uma reforma do padrão tributário internacional para obrigar as empresas transnacionais a declarar os lucros nos países onde vendem e faturam. As perdas de países como o nosso por sonegação são estimadas em 10% da receita tributável, a maior parte desviada para países com taxação baixa e paraísos fiscais.

O fato é que nenhum país hoje desenvolvido passou por processos criados mais recentemente, sob a égide da Organização Internacional do Comércio (OIC), como, por exemplo, a proibição de governos protegerem as empresas de seus países e tomarem medidas contra o imperialismo comercial. “Nenhum país hoje desenvolvido praticou o livre comércio”, afirma o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, representante geral do Mercosul em discussões com a União Europeia. Países como a Grã-Bretanha (GB), os Estados Unidos (EUA) e outros do assim dito Primeiro Mundo primeiro se desenvolveram com um comércio sem peias, para, mais tarde, arquitetarem regras inibidoras para quem não tinha tradição industrial e comercial. A Grã-Bretanha também recorreu (e como!) à pirataria pura e simples, disfarçando seus piratas sob a designação de corsários. Ora pois, diriam os lusos. E engendrou duas Guerras do Ópio (aí não disfarçaram) para obrigar a China a produzir e consumir a droga. A atual guerra às drogas foi inventada muito depois e é responsável pelos males que vemos por aí: tráfico, bairros inteiros dominados por traficantes coadjuvados por certos bandidos fardados. Após as Guerras do Ópio, a tão cristã e civilizada Inglaterra ainda se julgou com o direito de passar um século dominando a colônia de Hong-Kong. E viva o capitalismo, tão ético e democrático.

Depois de tudo isso, no alvorecer do século 21, os países ricos de sempre pretendem expandir o neocolonialismo ao proporem a criação de um Tratado Transpacífico que juntará num mercado comum, além de países superdesenvolvidos, como EUA, Canadá e Japão, também México (com sua economia já desmantela por tratado similar com EUA e Canadá), Chile, Peru, Austrália, Nova Zelândia, Malásia, Cingapura, Vietnam e Brunei. O mais espantoso é que tal acordo foi decidido por cima dos respectivos governos, pelas transnacionais, Wall Street e advogados. Uma renúncia sem precedentes ao poder dos Estados nacionais em favor de empresas privadas.

O mais estranho é que, vendo o diabo ou o rabo dele em tudo que o governo de Brasília faz ou deixa de fazer, tem muita gente aí reclamando a ausência do nosso país no Transpacífico. Pindorama, aliás, não é banhada por nem uma gota d’água do oceano Pacífico. Este governo que está aí merece muita crítica, mas não vamos exagerar.

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