Os indígenas de Pindorama tiveram um pouco
mais de sorte que os dos Estados Unidos pelo fato de os portugueses não terem
empreendido uma corrida para o Far West, não só porque os espanhóis vinham
comendo aquelas beiradas sul-americanas do oeste, mas por terem preferido
explorar logo o nosso vasto litoral e a região da Mata Atlântica. Os índios que
não foram mortos foram adentrando o Centro-Oeste e a Amazônia onde, a partir
dos governos militares, vêm sendo surpreendidos por madeireiros, plantadores de
soja, grileiros de toda espécie. O fato é que ainda temos muita coisa a salvar
da floresta e dos povos da floresta, enquanto os americanos dizimaram povos
inteiros e transformaram o que sobrou em uma espécie de animais de reservas.
Faço estas considerações ao ver o que estão
fazendo contra os guaranis no Mato Grosso do Sul. Esses índios reivindicam a
pose da terra indígena Nhande ru Marangatu, uma áreas de 9,3 mil hectares
homologada pelo governo Lula em 2005. Fazendeiros e grileiros ganharam
reintegração de posse do excelso ministro do STF Nelson Jobim, aquele que
gostava de se fantasiar de soldadinho quando ministro da Defesa. Desde então a
questão está sub iudice. Já que nada se resolveu em dez anos, 1.400 índios
resolveram ocupar o terreno já homologado. A reação dos ruralistas, que
integram o segundo governo de dona Dilma, não demorou. Decidiram retomar as
fazendas recuperadas pelos índios e vêm matando muitos deles (só no ano passado
41 foram assassinados). “Agora, o único jeito de nos tirar daqui é se matarem
todos nós”, diz o índio Mariano Vilhalva, sobrinho do assassinado guarani-kaiowá
Simão Vilhalva. Pistoleiros e jagunços dos fazendeiros andam à solta e só são
um pouco contidos por forças da União e do Estado.
O grande equívoco do governo federal, nessa
questão, é negociar direitos que são inegociáveis, segundo o repórter Rodrigo
Martins (Carta Capital). O procurador
da República em Dourados (MS) Marco Antônio Delfino ajuizou, este ano, uma
ação contra o ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, por improbidade administrativa. A ex-presidente da Funai Maria
Augusta Assirati, depois que se desligou da entidade, denunciou à imprensa que
os grupos de trabalho para identificar terras indígenas não puderam concluir
seus relatórios por determinação expressa do Ministério da Justiça. Por sua
ação em prol dos índios, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi, ligado à
CNBB) está na alça de mira dos fazendeiros. Os ruralistas, protegidos pelo
presidente do Senado, Renan Calheiros, querem transferir para o Legislativo a
atribuição de homologar terras indígenas, além de permitir atividades agropecuárias
e de garimpo nessas terras. Com esse Congresso maravilhoso que temos aí, o que
se pode esperar quando conseguirem isso?
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