segunda-feira, 12 de outubro de 2015

GUARANIS CAÇADOS POR JAGUNÇOS NO MATO GROSSO DO SUL.



Os indígenas de Pindorama tiveram um pouco mais de sorte que os dos Estados Unidos pelo fato de os portugueses não terem empreendido uma corrida para o Far West, não só porque os espanhóis vinham comendo aquelas beiradas sul-americanas do oeste, mas por terem preferido explorar logo o nosso vasto litoral e a região da Mata Atlântica. Os índios que não foram mortos foram adentrando o Centro-Oeste e a Amazônia onde, a partir dos governos militares, vêm sendo surpreendidos por madeireiros, plantadores de soja, grileiros de toda espécie. O fato é que ainda temos muita coisa a salvar da floresta e dos povos da floresta, enquanto os americanos dizimaram povos inteiros e transformaram o que sobrou em uma espécie de animais de reservas.
Faço estas considerações ao ver o que estão fazendo contra os guaranis no Mato Grosso do Sul. Esses índios reivindicam a pose da terra indígena Nhande ru Marangatu, uma áreas de 9,3 mil hectares homologada pelo governo Lula em 2005. Fazendeiros e grileiros ganharam reintegração de posse do excelso ministro do STF Nelson Jobim, aquele que gostava de se fantasiar de soldadinho quando ministro da Defesa. Desde então a questão está sub iudice. Já que nada se resolveu em dez anos, 1.400 índios resolveram ocupar o terreno já homologado. A reação dos ruralistas, que integram o segundo governo de dona Dilma, não demorou. Decidiram retomar as fazendas recuperadas pelos índios e vêm matando muitos deles (só no ano passado 41 foram assassinados). “Agora, o único jeito de nos tirar daqui é se matarem todos nós”, diz o índio Mariano Vilhalva, sobrinho do assassinado guarani-kaiowá Simão Vilhalva. Pistoleiros e jagunços dos fazendeiros andam à solta e só são um pouco contidos por forças da União e do Estado.
O grande equívoco do governo federal, nessa questão, é negociar direitos que são inegociáveis, segundo o repórter Rodrigo Martins (Carta Capital). O procurador da República em Dourados (MS) Marco Antônio Delfino ajuizou, este ano, uma ação  contra o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, por improbidade administrativa. A ex-presidente da Funai Maria Augusta Assirati, depois que se desligou da entidade, denunciou à imprensa que os grupos de trabalho para identificar terras indígenas não puderam concluir seus relatórios por determinação expressa do Ministério da Justiça. Por sua ação em prol dos índios, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi, ligado à CNBB) está na alça de mira dos fazendeiros. Os ruralistas, protegidos pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, querem transferir para o Legislativo a atribuição de homologar terras indígenas, além de permitir atividades agropecuárias e de garimpo nessas terras. Com esse Congresso maravilhoso que temos aí, o que se pode esperar quando conseguirem isso?

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