O estádio que Pernambuco ganhou para a Copa
das Confederações e a do Mundo continua pagão, não foi batizado. A não ser que
se considere o batismo com cerveja da Itaipava. Em artigo no Jornal do Commercio, sugeri que, para
fugir à mesmice de Mineirão, Itaquerão, o estádio (a Fifa só aceita arena e nós,
como sempre, baixamos a cabeça, ou melhor, quem manda em nós) construído a
duras penas em São Lourenço da Mata ganhasse o nome primitivo de Pernambuco,
derivado das palavras indígenas paraná (mar)
e puca (ruptura): ruptura do mar ou
mar que irrompe terra a dentro. Quando fiz esta sugestão, recebi de Roberto Harrop,
meu vizinho aqui nas restantes matas de Aldeia, uma mensagem. Além de fotógrafo
assíduo dos passarinhos e outros animais do nosso condomínio, ele é muito
entendido em pesquisa de mercado, línguas tupi-guaranis e cultura judaica Explicou-me
que, conforme a gramática indígena, a junção daquelas duas palavras faz com que
paraná ganhe um eme no final e puca troque o pê por bê, ficando o
resultado final como paranambuca, que
virou Pernambuco. Já pensaram Arena Paranambuca, uma designação que faria jus à
originalidade e pioneirismo que são características do nosso Estado.
Estamos em plena época carnavalesca.
Antigamente, o Carnaval ia do Sábado de Zé Pereira à terça-feira seguinte (com
exceção do famoso baile intitulado “O Carnaval Começa no Cabanga”, na sexta
pré-Zé Pereira), tudo parando na madrugada da Quarta-Feira de Cinzas. Um
militar americano desavisado que servia no Recife não entendeu nada quando
ligou o rádio na manhã das Cinzas e estava tocando música clássica ou
religiosa. Aí ele perguntou: -Por que não mais Cecília? Cecília era uma
marchinha de um daqueles anos do final da 2ª Guerra Mundial. Hoje é Carnaval o
ano inteiro e Quarta de Cinzas não é mais a “quarta-feira ingrata”. Não se
trata de saudosismo, mas a repetição abusiva tira um pouco a graça da coisa. No
Recife, o Carnaval traz um imenso transtorno mesmo à população que gosta dele.
Espaços ocupados sem necessidade, linhas de ônibus que mudam de terminal e de
itinerário, água suja jogada em cima das pessoas, e o incontornável galo plantado
na Ponte Duarte Coelho ou no Capibaribe, que não tem nada com as nossas tradições
carnavalescas.
Pessoalmente, nunca fui de curtir multidões,
apesar de não sofrer de agorafobia, mas sempre gostei de acompanhar os chamados
blocos líricos. Quando ainda podia pular uma noite inteira, adorava os acertos
do Bloco da Saudade na AABB, depois no Náutico; todo mundo alegre e feliz, não
tinha uma briga, e havia também muitos adolescentes levados pelos pais, que
curtiam à beça (“E o Bloco da Saudade assim recorda tudo o que passou”). Lá
encontrava gente como Capiba. E até, uma vez, o inesquecível cônsul da França
em Pernambuco em tempos idos, Marcel Morin, já velhinho. Ele se integrou tanto
ao Recife que era tratado por Marcelo Amorim. Era sócio e frequentador assíduo
do Madeiras do Rosarinho. Tinha muitos amigos esquerdistas e ajudou um bocado
de gente com bolsas de estudo em seu país, para fugir da redentora (como
Stanislaw Ponte Preta chamava o golpe de 1964) e escapar do Festival da Besteira que Assola o País,
retratado em livro desse grande humorista. Um dos personagens do livro é um tal
de general Façanha, que tinha feito lá uma besteira qualquer e ganhou de Sérgio
Porto (o nome real de Ponte Preta) uma crônica sob o título “A façanha do
general idem”.
Desejo a todos um excelente e inesquecível
Carnaval ou um bom esconderijo pra curtir outras coisas, como jazz em Garanhuns,
por exemplo.
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