Quando completei 80 anos, estava maturando a
ideia de criar este blogue. Meu objetivo era, e continua sendo, me comunicar
com meus filhos, noras, netos, netas, amigos, amigas e demais pessoas que me
leem e me dão feedback, além de poder
dizer o que eu quiser naquela real e plena liberdade de expressão com que a internet
nos premiou. Mas não coloquei logo a ideia em prática. Agora que estou me
aproximando dos 82, tomo ânimo para enfrentar este novo e promissor meio de
comunicação, depois de passar ligeiramente por rádio e TV, e longamente por
jornal
Além das atualizações periódicas, irei aos
poucos abrindo acesso a uma história de minha já longa vida (tenho muita coisa
pra contar e, como o poeta Gonçalves Dias, asseguro: “Meninos, eu vi”) e a uma
seleção dos trabalhos que fui fazendo estes anos todos em diversos jornais,
principalmente no Jornal do Commercio.
Neste momento, o meu pensamento se volta para
uma triste realidade. Estão completando 57 anos que eu terminei meus estudos na
Europa e voltei para o Brasil. Morei lá de 1952 a 1957 fazendo bacharelado e
licenciatura em teologia (na época, eu estudava para ser padre, mas descobri em
tempo que essa não era minha vocação). Quando cheguei a Roma em outubro de 1952,
a 2º Guerra Mundial terminara havia apenas sete anos. Na Itália e, depois,
viajando pela Europa, descobri admirado que tudo funcionava perfeitamente, como
se o continente não tivesse enfrentado o terror da invasão nazista nem a
destruição provocada pela retomada. Transportes e outros serviços públicos,
estradas de ferro, rodovias, tudo perfeito e dentro dos horários estabelecidos.
É verdade que os Estados Unidos investiram
muito a fundo perdido na reconstrução da Europa, através do Plano Marshall. Mas
esse investimento escorreria pelo ralo da incompetência e da corrupção (como
ocorre até hoje por aqui) se a Europa não tivesse a quilometragem de
civilização e exercício da cidadania que tem. O medo do comunismo agiu como
alavanca da Sociedade de Bem-Estar (Welfare Society) que garantiu aos europeus
da banda ocidental décadas de boa atenção à saúde, à educação, à habitação, até
o colapso da União Soviética e o surgimento de Margaret Thatcher e seus
discípulos com um liberalismo démodé que descambou para a crise atual e para a
entronização dos bancos como santo dos santos de um capitalismo financeiro que
oprime gente comum, nós, e salva banqueiros (o hermano Francisco não me deixa
mentir).
Quase 60 anos após meu retorno a Pindorama,
nossas estradas de ferro foram, quase todas, criminosamente extintas; as
rodovias são esse descalabro que conhecemos; o ensino deteriorou-se; o cuidado
com a saúde escorregou dos institutos criados por Getúlio Vargas, que
funcionavam, para um SUS incapaz de atingir seus objetivos porque as verbas
públicas são mal aplicadas e servem até para sustentar a medicina privada
(planos de saúde, filantrópicas (tem quem chame de “pilantrópicas”) et caterva.
É verdade que a Europa tem uma longa história
de guerras intermináveis e cruéis, de colonialismo desbragado, infame e
infamante. Mas civilizou-se, criou juízo, embora a Grã Bretanha ainda mantenha
colônias no próprio continente, como Gibraltar e Irlanda do Norte. Nós passamos
por quatro séculos de escravidão, lavação da burra, e prosseguimos na
privatização do dinheiro público e na punição reservada a pobres (o julgamento
de exceção do assim dito mensalão é uma exceção mesmo, bolada pelo recalcado
Joaquim e seus asseclas; embora eu não duvide de muitos pecados petistas). Como
e quando vamos nos libertar da dicotomia casa-grande X senzala? Meu propósito é
dialogar com vocês sobre estes temas e outros que pintarem. Me ajudem. Lanço o
blogue hoje, dia de festa no mar por Iemanjá, de festa no Poço da Panela por
Nossa Senhora (festividade que já foi famosa e hoje está esvaziada) e também
era o aniversário de minha inesquecível avó Maria Augusta. Desculpem-me as
barbeiragens que ocorrerem, pois o meu domínio da internet e de qualquer bicho
eletrônico é precário. Procurarei atualizar o blogue, com novas postagens, toda
segunda-feira (dia da Lua).
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