segunda-feira, 17 de agosto de 2015

DE IMPEACHMENT, MARCHAS DE RICOS, GOLPES, VIVANDEIRAS



Gente amiga, as marchas contra o governo, pelo impeachment da presidente Dilma e até para incitar os militares a um novo golpe não tiveram a magnitude esperada por seus promotores. O que se deve a uma pequena recuperação do diálogo da mandatária com os movimentos sociais e com políticos em geral. O apelo a um novo golpe é até compreensível, pois sempre que há uma crise ou apenas problemas mais graves aqui em Pindorama, a primeira lembrança que ocorre a nossos tão insignes homens públicos é uma quebra de regras ou mesmo um golpe. A Independência foi um golpe tramado por dom Pedro e seu pai dom João 6º para que o país não seguisse o exemplo dos Estados Unidos e de outras colônias das Américas e continuasse servindo a interesses portugueses. Uma independência da colônia brasileira proclamada por um príncipe português parece mais uma piada de mau gosto.
A coroação de dom Pedro 2º deveu se a outro golpe, o da maioridade. E lá vêm os militares positivistas com sua República, sua ordem, seu progresso. Tome-lhe outro golpe. Segue-se o golpe do sanguinário Floriano contra a Constituinte. E vem o golpe de Getúlio em 1937 (A Revolução de 1930 não foi golpe, foi revolução mesmo), sob o pretexto de combater o comunismo e o fascismo integralista. Em 1945, golpe dos generais fascistoides Dutra e Góis Monteiro contra Getúlio, que havia acumulado divisas, durante a 2ª Guerra Mundial, para criar a Petrobras e impulsionar o desenvolvimento do país (divisas torradas a seguir na importação de sucata de guerra, passas da Califórnia, cigarros made in USA e coisas do gênero). Desfaçatez dos generais golpistas: Dutra e Góis Monteiro alegaram que o Brasil havia lutado na Itália pela democracia e não podia tolerar o prosseguimento do Estado Novo (regime de Getúlio na época) nem por mais alguns meses. Eleições já estavam marcadas. Dutra e Góis Monteiro lutaram para que o Brasil ficasse, na guerra, ao lado do Eixo nazi-fascista.
Querem mais? Tentativa de impeachment ou simples derrubada de Getúlio, eleito constitucionalmente em 1950 e levado ao suicídio. E a tentativa de golpe para não empossar JK em 1955, incrivelmente derrotada pelo Marechal Teixeira Lott, um militar nacionalista, botando pra correr (ou melhor, navegar em fuga do Rio) os golpistas Carlos Lacerda e Carlos Luz. Em 1961, tentativa de golpe de Jânio Quadros, que fora eleito democraticamente. Não deu certo e o Congresso rapidamente aceitou sua fajuta carta de renúncia (queria voltar como ditador nos braços do povo ...). Mais um ensaio de golpe contra a posse de Jango Goulart, vice de Jânio. Golpe que se consumaria três anos depois, em 1964, que implantou uma ditadura de 21 anos.
Essa turma que está pedindo os militares de volta é descendente daqueles que se deram bem de 1964 a 1985, com a prorrogação de Zé Sarney (outro golpe: ele não poderia tomar posse, pois Tancredo Neves não havia sido empossado); fizeram questão de cursar a Escola Superior de Guerra (ainda existe?); se locupletaram e (com perdão da palavra) puxaram o saco dos fardados à exaustão. Um dos ditadores, Ernesto Geisel, mesmo com (perdão) o saco bem repuxado, comparou os sabujos dos militares a vivandeiras, aquelas mulheres que acompanhavam militares em movimento para lavar roupa etc., etc. Bem feito!
A casa-grande não pode viver por aqui sem a senzala. Como, nos últimos anos, a sorte dos desvalidos melhorou muito, os senhores descendentes dos capitães hereditários e dos colonos que prosperaram com a cana de açúcar, o café (nem todos, mas muitos), quais vivandeiras, querem um novo golpe.

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