Gente amiga, as marchas contra o governo,
pelo impeachment da presidente Dilma e até para incitar os militares a um novo
golpe não tiveram a magnitude esperada por seus promotores. O que se deve a uma
pequena recuperação do diálogo da mandatária com os movimentos sociais e com
políticos em geral. O apelo a um novo golpe é até compreensível, pois sempre
que há uma crise ou apenas problemas mais graves aqui em Pindorama, a primeira
lembrança que ocorre a nossos tão insignes homens públicos é uma quebra de
regras ou mesmo um golpe. A Independência foi um golpe tramado por dom Pedro e
seu pai dom João 6º para que o país não seguisse o exemplo dos Estados Unidos e
de outras colônias das Américas e continuasse servindo a interesses
portugueses. Uma independência da colônia brasileira proclamada por um príncipe
português parece mais uma piada de mau gosto.
A coroação de dom Pedro 2º deveu se a outro
golpe, o da maioridade. E lá vêm os militares positivistas com sua República,
sua ordem, seu progresso. Tome-lhe outro golpe. Segue-se o golpe do sanguinário
Floriano contra a Constituinte. E vem o golpe de Getúlio em 1937 (A Revolução
de 1930 não foi golpe, foi revolução mesmo), sob o pretexto de combater o
comunismo e o fascismo integralista. Em 1945, golpe dos generais fascistoides
Dutra e Góis Monteiro contra Getúlio, que havia acumulado divisas, durante a 2ª
Guerra Mundial, para criar a Petrobras e impulsionar o desenvolvimento do país
(divisas torradas a seguir na importação de sucata de guerra, passas da
Califórnia, cigarros made in USA e coisas do gênero). Desfaçatez dos generais
golpistas: Dutra e Góis Monteiro alegaram que o Brasil havia lutado na Itália
pela democracia e não podia tolerar o prosseguimento do Estado Novo (regime de
Getúlio na época) nem por mais alguns meses. Eleições já estavam marcadas.
Dutra e Góis Monteiro lutaram para que o Brasil ficasse, na guerra, ao lado do
Eixo nazi-fascista.
Querem mais? Tentativa de impeachment ou simples
derrubada de Getúlio, eleito constitucionalmente em 1950 e levado ao suicídio.
E a tentativa de golpe para não empossar JK em 1955, incrivelmente derrotada
pelo Marechal Teixeira Lott, um militar nacionalista, botando pra correr (ou
melhor, navegar em fuga do Rio) os golpistas Carlos Lacerda e Carlos Luz. Em
1961, tentativa de golpe de Jânio Quadros, que fora eleito democraticamente.
Não deu certo e o Congresso rapidamente aceitou sua fajuta carta de renúncia
(queria voltar como ditador nos braços do povo ...). Mais um ensaio de golpe
contra a posse de Jango Goulart, vice de Jânio. Golpe que se consumaria três
anos depois, em 1964, que implantou uma ditadura de 21 anos.
Essa turma que está pedindo os militares de
volta é descendente daqueles que se deram bem de 1964 a 1985, com a prorrogação
de Zé Sarney (outro golpe: ele não poderia tomar posse, pois Tancredo Neves não
havia sido empossado); fizeram questão de cursar a Escola Superior de Guerra
(ainda existe?); se locupletaram e (com perdão da palavra) puxaram o saco dos
fardados à exaustão. Um dos ditadores, Ernesto Geisel, mesmo com (perdão) o
saco bem repuxado, comparou os sabujos dos militares a vivandeiras, aquelas
mulheres que acompanhavam militares em movimento para lavar roupa etc., etc.
Bem feito!
A casa-grande não pode viver por aqui sem a
senzala. Como, nos últimos anos, a sorte dos desvalidos melhorou muito, os
senhores descendentes dos capitães hereditários e dos colonos que prosperaram
com a cana de açúcar, o café (nem todos, mas muitos), quais vivandeiras, querem
um novo golpe.
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