quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

PARLAMENTARISMO É UM BOM REGIME, MAS NÃO COMO CONCHAVO

Com a situação do país mais pra urubu que pra colibri, como dizia o inesquecível Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do jornalista Sérgio Porto, surge todo tipo de palpite. Desde o impedimento do presidente usurpador, que seria substituído provisoriamente pelo ínclito Fernando 2º (FHC), que chafurda no golpe (vai terminar em Irajá; lembram aquele teatro de revista?). Ou por Aecinho, que afinal ganharia o brinquedinho dele. Não poderia faltar, mais uma vez, a sugestão do parlamentarismo. Regime excelente em que o país é governado por um primeiro-ministro, enquanto o presidente da república exerce funções praticamente decorativas, menos aquela de nomear o premiê escolhido pelo parlamento. É chefe do Estado; o premiê chefia o governo. Nele os ministros são escolhidos dentre membros do parlamento para, junto com o primeiro-ministro, exercerem o Poder Executivo.
A questão que se põe no Brasil é que a proposta desse regime está associada ao golpe contra Jango (o primeiro) para impedi-lo de exercer plenamente a Presidência, conforme a Constituição. Era 1961 e o maluco Jânio Quadros havia renunciado num contexto de golpe. Os golpistas do Exército ainda não se julgavam em condições de dar o golpe que deram três anos depois, com a preciosa ajuda da troncha elite brasileira. Também ainda não haviam acertado a mais preciosa ainda ajuda dos Estados Unidos. Aqueles que já preparavam o golpe e a ditadura de 21 anos concordaram com a posse daquele que odiavam por ser ligadíssimo a Getúlio e haver aumentado em 100% o salário mínimo, quando ministro do Trabalho. Mas só depois de arrancarem do Congresso (ah! o Congresso) um regime parlamentarista-golpista. Regime pouco depois rejeitado, pelo povo, em plebiscito, o que aumentou o ódio dos golpistas contra João Goulart.
No Império, que poderia ter sido aperfeiçoado e democratizado, em lugar do golpe republicano positivista e militarista, houve um parlamentarismo sui generis em que partidos sem muita substância se alternavam no poder e a vontade dos poucos eleitores não era respeitada.
Após o fim da ditadura 1964-85, houve um plebiscito para saber se o eleitorado desejava um regime parlamentarista; como houve outro para saber se o povo queria mesmo a República ou a volta da monarquia. Tanto o parlamentarismo como a monarquia foram rejeitados. Em ambos os casos, não houve quase nenhum esclarecimento aos votantes sobre o que se deveria decidir. Ulysses Guimarães pretendia percorrer o país pregando a opção parlamentarista e ensinando ao eleitorado o que significa esse regime. Foi vitimado por uma queda de helicóptero. O plebiscito decidiu pela continuação do presidencialismo
A nossa elite (tão democrática!...) adora um conchavo em benefício próprio. Daí não progredirmos na construção da democracia, no respeito à vontade e objetivos da população (agora mesmo estamos padecendo o conchavo golpista com Temer, e a elite já pensa em outro usurpador). O palpite parlamentarista da vez tem tinturas de um semiparlamentarismo inventado por De Gaulle na França e imitado por Portugal. O presidente da República, nesse regime híbrido, conserva poderes de governo; governa com o premiê. Para mim, não faz sentido. A Alemanha e a Itália, por exemplo, têm longevos regimes parlamentaristas desde o pós-guerra, que, entre altos e baixos, funcionam. A Itália, por exemplo, padeceu o longo reinado da Democracia Cristã (DC, de origem católica conservadora, mas também mafiosa) e, mais recentemente, governos do milionário Berlusconi, uma espécie de Trump peninsular. Mas nunca recaiu em ditadura. Houve também um momento muito interessante, quando Berlinguer, secretário-geral do Partido Comunista Italiano, propôs à DC um governo conjunto. Era o compromesso storico. A DC não aceitou e ainda deixou sequestradores matarem Aldo Moro, grande líder do partido.
Outro conchavo muito caro à Casa-Grande é, antes da invenção do golpe pseudoconstitucional, a alternativa entre eleições gerais para todos os postos, desde presidente da República a vereador, e eleições separadas. Quando estamos com eleições separadas e a elite está com algum problema, logo propõe juntar tudo, de preferência com mandatos-tampão.

Em tempo, o STF desmoralizou-se, mais uma vez, deixando-se peitar pelo ínclito Renan Calheiros. Não é novidade. Em 1947, por exemplo, sob assédio feroz da Casa-Grande e do Departamento de Estado, cassou o registro do Partido Comunista Brasileiro (o Partidão, nada a ver com PCdoB, uma dissidência de 1962, por aí). Não satisfeito, cassou os mandatos de dezenas de deputados e senadores eleitos em 1946 pela legenda.

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