Todo mundo quer que a corrupção se torne mais
moderada no Brasil. Acabar com ela é impossível. Deseja também que a perseguição
aos corruptos e sua punição não abra nenhuma exceção, pois todos são iguais
perante a lei numa democracia. Há algo diferente em Pindorama, pois nunca se
viu sob vara ou na cadeia empresários, diretores de estatais, políticos de
brilhante plumagem. Por outro lado, o que se viu nas marchas do domingo passado
foi uma exaltação equivocada de uma justiça de cartas marcadas, de
procuradores, promotores, policiais e juízes incapazes de ver e tratar questões
e faltosos, supostos ou não, que não se enquadrem em sua ideologia e visão do
mundo. Os pecados da Petrobras nos governos de Fernando 2º (FHC), por exemplo,
quando a empresa pública era dirigida (?!) por um genro dele que conseguiu
afundar uma plataforma de petróleo, algo inédito, nunca foram penitenciados. O
frustrado Aécio Neves não leva nem um cascudinho.
Parece que essa turma dos movimentos do
domingo marcha para ouvir o ruído de seus passos, grita para sentir o eco de
suas vozes. Você vê por ali pessoas que estão no topo da sociedade de classes,
burgueses, patrões de grandes grupos, políticos catapultados por votos
comprados? Nada disso. São empregados que podem ser demitidos a qualquer hora,
no bojo deste nosso capitalismo selvagem em que o pão e a roupa de uma família
dependem do apetite por lucros, da mais-valia. Ou já desempregados que aguardam
ter de novo sua carteira assinada. Ou gente arrebanhada para fingir que está
manifestando.
A gente fica pê da vida quando vê a maioria
dos nossos congressistas fazendo tudo aquilo que não é representar o
eleitorado, a população. Quando Suas Excelências aprovam algo de bom, o que
certamente é a vigilância e punibilidade de juízes, policiais, membros do
Ministério Público que extrapolarem suas funções ou agirem fazendo política ou
outros malfeitos, a Casa Grande se arreta. Nada contra boa parte do trabalho do
juiz Moro (embora tenha se tornado vedete), dos procuradores da Lava-Jato
(embora se achem os donos da verdade). Nada contra a parte boa do trabalho
deles. Mas tudo contra a partidarização de grande parte do trabalho deles.
Note-se que há uma tendência, neste país
tropical, de juízes, policiais, procuradores se pronunciarem frequentemente
sobre seu trabalho, dando palpites, pré-julgando. Da Suprema Corte dos Estados
Unidos (nosso modelo para o bem e para o mal) só se ouve falar quando há uma
decisão importante, como no caso anti-discriminação racial. Aqui, juízes do STF
dão seguidas entrevistas, visitam membros do Executivo e Legislativo antes de
tomar decisões, falam sobre como vão julgar. É enorme a confusão e o desvio de
conduta. Tem aí um ministro do Supremo, por exemplo, Gilmar Mendes, que é
concomitantemente homem de negócios e homem à disposição de protegidos para
habeas-corpus e pedidos de vista. Já solicitaram até o seu impedimento; mas
trata-se de pessoa muito temida. Em outras instâncias do Judiciário, graças ao
corporativismo ali reinante, punições, quando há, são brandas (p. ex. o cara é
aposentado com direito a seus gordos proventos). Não é pequena a quantidade de
juízes-empresários. Por que juízes, membros do MP, policiais não poderiam ser bem
vigiados, como os demais cidadãos, e punidos quando merecessem? Estariam acima
da lei?
PS – Com a permissão do arcebispo Dom
Fernando Saburido, grupos de cristãos realizarão uma vigília das 18h às 22h desta
terça-feira, nos jardins do Palácio dos Manguinhos (Cúria Arquidiocesana), com
o sentido de orar e adotar ações para que o Congresso não aprove a PEC 55,
antiga 241, pela qual o atual governo golpista poderia tornar os pobres e
miseráveis brasileiros ainda mais pobres e miseráveis. Seriam 20 anos a pão e
água para educação, saúde, políticas sociais.
A vigília se dará à luz da fé e da esperança
por um mundo mais justo. Os movimentos participantes são:
Movimento de Trabalhadores Cristãos
Centro Educacional Profissionalizante do Flau
Tenda da Fé
Pastoral da Juventude do Meio Popular
CEBs PE (Comunidades Eclesiais de Base)
Grupo de Leigos Católicos Igreja Nova
Fé e Política dom Helder Camara
Encontro da Partilha
Movimento de Mulheres contra o Desemprego
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