Estamos em pleno mês de São João, quando se
realizam as mais populares festas nordestinas (o Carnaval não é peculiaridade
da nossa região). Nas capitais, em Caruaru, Campina Grande, agrestes e sertões,
arrasta-se pé, o forrobodó toma conta das cidades, sítios e também as
quadrilhas de origem europeia. Até algum tempo atrás, preservavam-se essas
tradições à sua maneira secular. Aos poucos, porém, vão acrescentando tons
estranhos e esquisitos ao que foi, por muitíssimos anos, uma característica
inconfundível. A Rede Globo, que nada tem de nordestina, se encarrega até de promover
concursos de quadrilha que nada lembram nossas tradicionais danças juninas.
Arranjaram até um nome atravessado para designar essa nova dança hoje pseudo-folclórica:
“quadrilha estilizada”. Pois, como diria um português; e a nossa velha, bonita
e tradicional quadrilha não tinha estilo, não? Pois, pois.
Coincide com tal estilização a invasão de
costumes estrangeiros, que fazem muito sentido lá nas terras dos gringos, mas
nada dizem nem acrescentam a nossas crianças e adolescentes. Basta olhar.
Quando chega a virada de outubro pra novembro, nenhum aluno de cursos de inglês
ou escolas americanas quer deixar de celebrar o dia das bruxas de lá de riba
(nossas bruxas são mais ensolaradas, tropicais). Anoto que tenho um amigo
americano aqui em Aldeia, John Fryer, que tem uma excelente escola, a Escola
Internacional de Aldeia (EIA). É um grande educador. Tudo bem que essas escolas
e cursos façam essa festa pra seus alunos; afinal eles estão dando um mergulho
em uma nova cultura.
Positivo mergulhar em outras culturas. O que
é inadmissível é dar as costas a nossa própria cultura. Imergir numa nova
cultura não impõe necessariamente o abandono, ou menosprezo, da cultura em que
você nasceu e se criou, que inclui língua, tradições, história, tudo aquilo que
leva à civilização. Seja ela qual for. Temos um rico folclore a preservar, que
Monteiro Lobato muito contribuiu para difundir entre as crianças do meu tempo.
Apesar de laivos racistas, ele não desdenhou lendas indígenas,
afro-brasileiras. Em São Luiz do Paraitinga (SP), nas quebradas da Serra do
Mar, perto de Taubaté (terra de Lobato), existe e funciona um Observatório do
Saci. Eles vendem camisetas de propaganda, inclusive uma com os dizeres: “Halloween?
Só se for com carne seca”.
Vamos acabar com essa contradição entre
culturas, absorvendo outras (quanto mais, melhor) e consolidando a nossa. Pular
fogueira, comer milho, canjica, pamonha, dançar a quadrilha tradicional, que
tem muito mais estilo do que imagina a vã filosofia de impostores de variados
naipes. Pena tanto milho transgênico e tanto agrotóxico, mais uma imposição de
um capitalismo selvagem, para o qual o que importa é o lucro.
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