Gente, inicio esta interação com vocês com
mais um exemplo do absurdo tão brasileiro de trocar nomes tradicionais e
históricos de ruas, avenidas, praças, logradouros em geral, e até de cidades,
vilas. Quando eu era criança, tinha um povoado chamado Tapera perto do engenho
de meu pai, onde havia uma estação da Great Western Railway (que depois virou
Rede Ferroviária Federal e terminou virando fumaça, pois o Brasil é, creio, o
único país do mundo a por fim a trens, bondes). Depois que voltei de estudos na
Europa, Tapera tinha se tonado Bonança (título de um seriado americano). Sábado
passado, abro o jornal e leio que um político aí sem muito o que fazer pretende
que a secular Avenida Beberibe passe a ser denominada Santa Cruz Futebol Clube,
ou pior, guardar a denominação Beberibe e acrescentar o nome do clube.
Nada contra o Santa Cruz, pelo qual torço
apesar não aceitar o futebol-tourada que se espalha pelo nosso país. O Santa já
tem o Pátio de Santa Cruz, onde nasceu. Se vingar o nome Beberibe Santa Cruz,
fica pior ainda. Vai ser como a homenagem que quiseram prestar ao grande
governador Miguel Arraes e não vingou, pois o povo continua chamando Avenida
Norte, ninguém a chama Norte Miguel Arraes. A designação tradicional do nosso
aeroporto, Guararapes, também padece com o acréscimo do nome do grande literato
Gilberto Freyre. E agora tem quem queira espichar para Gilberto Freyre-Eduardo
Campos ... Um tempo atrás propuseram trocar o nome da histórica Rua das
Fronteiras para Vovô Zerinho, uma criatura que deve ter sido muito simpática,
mas só interessa a uma família.
Ruas como as da Harmonia, Amizade, Saudade,
União, Rua Velha, Rua Nova, Aurora, Guararapes estão ameaçadas de também
amanhecer como Dr. Fulano de Tal, como já advertia Manuel Bandeira.
Outro tema que abordo hoje é o lançamento do
aguardado livro do tarimbado jornalista Paulo Henrique Amorim O quarto poder – Uma outra história. Ele hoje está da Rede Record,
mas vem desde a revista Veja dos
áureos tempos de Mino Carta (foi o primeiro corresponde do semanário da Abril
em Nova York). Passou pela revista Exame,
Jornal do Brasil e Rede Bandeirantes,
e foi diretor do escritório da Rede Globo também em Nova York. Ele se orgulha
de dizer que seu livro é o primeiro capaz de tratar Roberto Marinho como ele deverá
ser tratado pela história. Foi demitido da Globo após denunciar uma bandalheira
no Instituto Brasileiro do Café, no qual o criador da Globo tinha interesse.
O livro de Paulo Henrique documenta ainda o
papel que ele diz ter sido desempenhado por “Roberto Civita na construção de um
grande império que militou e milita até hoje contra o Brasil”. Mais uma
revelação: Sérgio Motta (o Serjão da privataria), que ofendeu a primeira-dama
Ruth Cardoso sem que FHC nada piasse, era o cafetão do então presidente,
segundo confidência de Antônio Carlos Magalhães. Para o autor desse livro, que
vocês não devem deixar de ler, os maiores vilões do Brasil são Daniel Dantas,
FHC, José Serra, Roberto Marinho e Roberto Civita.
Antes de concluir, chamo atenção para uma
grande marcha que está sendo programada para a próxima sexta, dia 18, em São
Paulo, com concentração a partir das 15h no Masp e saída às 17h. Em vez
daquelas que defendem Dilma e o PT, das que pedem a volta do arbítrio, da
tortura e do assassinato por uma ditadura, esta agora é contra Dilma (PT),
Cunha, Renan e Temer (PMDB), Aécio (PSDB), contra o ajuste fiscal, e propondo
que os ricos paguem pela crise, por um alternativa classista dos trabalhadores,
da juventude, do povo pobre. É promovida pelo PCB (nada a ver com o PC do B,
linha auxiliar do PT), PSOL e outros partidos de esquerda, mas esquerda mesmo.
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