terça-feira, 1 de setembro de 2015

PRIVATIZAÇÃO É QUESTIONADA NA GRÃ-BRETANHA. IMAGINEM A “PRIVATARIA” TUCANA



Não é somente aqui em Pindorama que não deu certo a privatização generalizada, ditada pelo Consenso de Washington (que se seguiu ao colapso da União Soviética) e tão esmeradamente aplicada pelo ex-xogum Fernando 2º (FHC) que ganhou o apelido de “privataria”. Basta olhar o insolúvel drama da Grécia e a difícil situação que atravessam Portugal, Espanha, Brasil, Argentina, Venezuela e tantos outros países que caíram no conto do neoliberalismo. Com exceção da Suécia, Noruega e mais pouquíssimos países da Europa mais rica, findou ali o chamado Welfare State (Estado de Bem-estar) implantado no pós guerra com maciça ajuda americana (Plano Marshall) para exorcizar o velho continente do fantasma do comunismo, que tomara o poder nos países mais a leste e quase abocanhara também a Áustria e a Itália. (Quando eu estudei em Roma nos anos 1950, a Itália era praticamente ocupada pelos EUA. Desembarquei em Nápoles e o que a gente via, fora o Vesúvio e a ilha de Capri, eram navios de guerra do preocupado Tio Sam.)
A derrotada Alemanha também recebeu muito dinheiro para se reerguer e hoje arrota riqueza e pretende ditar regras para os outros países. Claro que não foi só a ajuda estadunidense que levantou a Alemanha, mas também a educação de seu povo para a disciplina e o trabalho. Um país que cresceu muito com o Welfare State, mesmo perdendo o domínio sobre dezenas de colônias, foi a Grã-Bretanha, que até hoje, apesar da volta dos conservadores, tem o melhor e mais abrangente serviço de saúde do mundo, o National Health Service, o SUS deles. Meu amigo e fisioterapeuta de estimação Ubaldo Coelho tem uma filha que nasceu lá e até hoje, quando pisa terreno de Sua Majestade, não gasta dinheiro com saúde.
Em 1945, o lendário primeiro-ministro Winston Churchill havia ganhado a guerra, mas foi destronado de Down Street pelo trabalhista Clement Attlee, que montou seu programa de governo com base em relatório preparado pelos liberais William Beveridge e John Maynard Keynes. Isso mesmo, liberais que não eram os neoliberais de hoje, uns trogloditas. Bem mais adiante, porém, passou por lá uma tempestade chamada Margaret Thatcher, que não era apenas conservadora, mas uma reacionária empedernida. Mesmo que a privatização ampla e geral que ela promoveu naquela que Castro Alves chamava de “navio que Deus na Mancha ancorou” tenha sido feita sem cartas marcadas e com a venda de ações no mercado, está fazendo água. Imaginem a privataria do xogum, que teve cartas marcadíssimas e enriqueceu muita gente do xogunato-tucanato. Isso numa época em que o procurador-geral da República não procurava nada, engavetava tudo, e a Polícia Federal não tinha licença para investigar certas maracutaias (procurem o imperdível livro Privataria Tucana).
O torpedeamento do navio da Dama de Ferro (Thatcher) está dando um novo alento ao Partido Trabalhista de lá (aquele que criou o Welfare State), cuja liderança é disputada por Jeremy Corbyn, que se opõe ao trabalhismo descafeinado de Tony Blair, que fazia parelha com Bush 2º. Corbyn propõe medidas que eriçam os cabelos dos neoliberais: reestatização das empresas de utilidade pública, inclusive as ferrovias, privatizadas na era Thatcher e por seus sucessores; e criação de uma espécie de BNDES que seria incumbido de financiar a reconstrução da infraestrutura degradada e apoiar a reindustrialização.
Lembremos que aqui a última vítima da sanha privatizante e golpista é o nosso BNDES, que pode ter, e certamente tem, os seus pecados, mas desde o último governo de Getúlio Vargas, nos anos 1950, vem cuidando do financiamento da nossa infraestrutura e industrialização. Quase tudo o que o BNDES financiou, numa época em que os capitalistas nacionais não tinham dinheiro nem apetite para financiar, foi torrado por Fernando 2º. Resultado? Você paga uma energia caríssima ou esta se transforma em apagão. Precisa fazer no mínimo duas ligações de celular para conseguir terminar um telefonema. E por aí vai. Socorro!

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