Caros leitores e leitoras, todos sabemos que os
dados sobre educação no Brasil são lastimáveis, abaixo dos de países com
economia e desenvolvimento menos sólidos, como Argentina, Chile, Uruguai. Trata-se
de uma herança histórica ainda não superada. E ainda não superada exatamente
pelo descuido com o ensino e a educação. Como disse, todos sabem disso, vendo
todo dia os resultados dessa situação, entre as quais sobressai a falta de
consciência cívica e política. Com “representantes do povo” como os que temos,
que em geral representam apenas os que financiam suas campanhas políticas, não
podemos ir muito longe. Não bastasse isso, a maioria dos meios de comunicação
social, sem nenhuma regulação (ao contrário do que ocorre em países civilizados),
anunciam quase diariamente aqueles vergonhosos dados. Não que sejam
necessariamente contra o desastre do ensino brasileiro, que os favorece na
desinformação generalizada que buscam. É que, com leitores, ouvintes,
telespectadores educados e conscientes, não faturariam tanto com Faustões,
novelas repetitivamente amorais, pregações supostamente religiosas,
falsificações, omissões e “interpretações” de notícias em lugar da verdade factual.
Em se tratando de educação, temos aí mais uma
do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Sua incompetência já ficou
comprovada no caso do desastre hídrico que afeta o seu Estado, que não o
impediu de ser reeleito. O que se deve às mistificações que inventou durante a
campanha eleitoral, incluindo a não decretação do racionamento d’água em tempo
de ao menos contornar em parte o grave problema.
Desde o início deste mês, muitas escolas
estaduais paulistas foram ocupadas por seus alunos, que protestam contra uma
decisão da Secretaria de Educação que prevê o fechamento de 92 unidades e o
remanejamento de alunos de outras 754. Fundamento didático ou pedagógico? Não
precisa. O negócio é fazer economia em tempo de vacas magras. Basicamente,
argumentam que há melhor desempenho escolar nas unidades com somente um ciclo
de ensino, fundamental 1, fundamental 2 ou médio. A própria Justiça hesita em
decretar a reintegração de posse das escolas tomadas pelos alunos. Depois de autorizar
uma reintegração em Diadema (ABC Paulista), recuou e vem buscando o caminho da
conciliação entre as partes em litígio.
Já perdemos muito tempo com experimentos
disparatados e sem base. E barrando iniciativas avançadas e pedagogicamente bem
fundamentadas. No passado, tivemos o trabalho pioneiro do baiano Anísio
Teixeira, que deu muitos frutos e está institucionalizado no Instituto Nacional
de Estudos Pedagógicos, que ele criou. Tivemos também o Sistema Paulo Freire de
Educação, formulado por esse grande educador da UFPE nos anos 1960. O sistema,
que incluía um revolucionário método de alfabetização de adultos, foi, junto
com seu criador, exilado para a Europa, Estados Unidos, África, por não agradar
aos “revolucionários” de 1964 porque educava conscientizando cívica e politicamente.
No início dos anos 1960, também em Pernambuco,
Miguel Arraes criou o Movimento de Cultura Popular, voltado para a educação,
alfabetização e valorização da cultura do povo. Fuzilado pelos golpistas de
1964. Darcy Ribeiro, junto com o já referido Anísio Teixeira, criou a
Universidade de Brasília, concebida como uma das mais modernas do mundo. Foi
torpedeada pelos golpistas. Leonel Brizola, quando governador do Rio Grande,
encheu o Estado de escolas. Quando governador do Rio, criou os CIEPs,
desmantelados pelos seus sucessores. Eram prédios bonitos, projetados por Oscar
Niemeyer, onde as crianças passavam o dia, estudavam, brincavam, se alimentavam,
adquiriam cidadania e cultura. Será que vamos continuar perdendo tempo ou
alguma luz brilhará na mente de nossos governantes e congressistas?