O que ocorreu há poucos dias em Paris é uma
desgraça, é tenebroso mesmo. Não foi a primeira vez. Infelizmente, não será a
última. Esses atos de terrorismo vêm acontecendo com certa regularidade desde
que radicais que dizem professar a fé muçulmana, embora se equivoquem quanto à
mensagem de Maomé, cansaram das barbaridades cometidas, há muitos séculos,
contra seus povos. Claro que não estou justificando o terrorismo, apenas
tentando entender. E considerando tanto o terrorismo de povos oprimidos quanto
o dos opressores. Sempre lembro que o governo estadunidense e os dos países ricos
em geral fazem uma distinção capciosa e malandra entre terrorismo do bem (o
praticado por eles) e terrorismo do mal, ditadura do bem e ditadura do mal.
Terrorismo da parte dos desenvolvidos? Certamente.
Vejamos: bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasaki, que nem sequer eram alvos
militares; bombardeio de Dresden (Alemanha) com fósforo, que incendiou e torrou
milhares de pessoas; destruição do multissecular mosteiro de Montecassino,
perto de Nápoles; bombardeio com napalm no Vietnam; destruição do Iraque, hoje
nas mãos do Estado Islâmico (o Museu da Mesopotâmia foi saqueado pelos “democratas”
e hoje o país está em pior situação do que na época do indefensável Saddam Hussein);
ajuda à implantação de ditaduras militares assassinas no Brasil, Chile e
Argentina, nos anos 1960-1970; apoio constante ao genocídio do povo palestino praticado
pelo governo israelense. Precisa mais? Isso não seria terrorismo?
Tudo começou com as Cruzadas, ensaio geral do
colonialismo-imperialismo europeu que se firmaria a partir do século 16. O
pretexto era livrar a Terra Santa do domínio muçulmano. O que interessava isso
à religião? A não ser a um cristianismo cooptado pelo Império Romano e o que se
lhe seguiu. Lembremos que os cristãos da Palestina, Síria, de todo o Oriente Médio,
conviviam pacificamente com o islamismo. Como se vestiam como os demais
habitantes da região, e não à moda europeia, muitos foram atacados e mortos
pelos tão cristãos europeus cruzados. Quem já viu um legítimo cristão vestido à
moda árabe ou turca?...
A partir do final do século 15, com os assim
ditos “descobrimentos” (que expressão sacana!), os europeus foram se entretendo
com as Américas, onde destruíram avançadas civilizações, como astecas, maias,
incas, com a Índia e, mais tarde, com a África, toda retalhada e brutalmente
explorada pelos tão civilizados franceses, ingleses, portugueses, alemães, espanhóis.
A desgraça do Oriente Médio foi a descoberta do petróleo como o grande
combustível de certo progresso confundido com civilização. Após o fim do
Império Otomano, estadunidenses e europeus retalharam a seu bel prazer toda
essa região, estabelecendo fronteiras artificiais, como a separação do Kwait,
arrancado do Iraque, a separação entre o Líbano e a Síria e por aí vai. O Irã
teve um primeiro-ministro chamado Mossadegh que ousou nacionalizar o petróleo.
Pra que, gente? Golpe nele.
Já mais para o final do século passado, então,
grupos radicalizados por tanta opressão e arbítrio passaram a se armar e a desenvolver
uma ideologia de vingança contra a Europa e os Estados Unidos. O resultado está
aí: mortes bem previsíveis, quiçá anunciadas (com a devida licença de Gabriel
García Márquez).
PS – Como os temas são muitos e eu não estou
mais escrevendo semanalmente no Jornal do
Commercio, passarei a fazer duas postagens semanais, na segunda e na quinta-feira.
Sempre que a fugidia banda estreita da nossa internet permitir.
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