terça-feira, 24 de novembro de 2015

EDUCAÇÃO OU FAUSTÃO? JÁ PERDEMOS TEMPO DEMAIS

Caros leitores e leitoras, todos sabemos que os dados sobre educação no Brasil são lastimáveis, abaixo dos de países com economia e desenvolvimento menos sólidos, como Argentina, Chile, Uruguai. Trata-se de uma herança histórica ainda não superada. E ainda não superada exatamente pelo descuido com o ensino e a educação. Como disse, todos sabem disso, vendo todo dia os resultados dessa situação, entre as quais sobressai a falta de consciência cívica e política. Com “representantes do povo” como os que temos, que em geral representam apenas os que financiam suas campanhas políticas, não podemos ir muito longe. Não bastasse isso, a maioria dos meios de comunicação social, sem nenhuma regulação (ao contrário do que ocorre em países civilizados), anunciam quase diariamente aqueles vergonhosos dados. Não que sejam necessariamente contra o desastre do ensino brasileiro, que os favorece na desinformação generalizada que buscam. É que, com leitores, ouvintes, telespectadores educados e conscientes, não faturariam tanto com Faustões, novelas repetitivamente amorais, pregações supostamente religiosas, falsificações, omissões e “interpretações” de notícias em lugar da verdade factual.
Em se tratando de educação, temos aí mais uma do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Sua incompetência já ficou comprovada no caso do desastre hídrico que afeta o seu Estado, que não o impediu de ser reeleito. O que se deve às mistificações que inventou durante a campanha eleitoral, incluindo a não decretação do racionamento d’água em tempo de ao menos contornar em parte o grave problema.
Desde o início deste mês, muitas escolas estaduais paulistas foram ocupadas por seus alunos, que protestam contra uma decisão da Secretaria de Educação que prevê o fechamento de 92 unidades e o remanejamento de alunos de outras 754. Fundamento didático ou pedagógico? Não precisa. O negócio é fazer economia em tempo de vacas magras. Basicamente, argumentam que há melhor desempenho escolar nas unidades com somente um ciclo de ensino, fundamental 1, fundamental 2 ou médio. A própria Justiça hesita em decretar a reintegração de posse das escolas tomadas pelos alunos. Depois de autorizar uma reintegração em Diadema (ABC Paulista), recuou e vem buscando o caminho da conciliação entre as partes em litígio.
Já perdemos muito tempo com experimentos disparatados e sem base. E barrando iniciativas avançadas e pedagogicamente bem fundamentadas. No passado, tivemos o trabalho pioneiro do baiano Anísio Teixeira, que deu muitos frutos e está institucionalizado no Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, que ele criou. Tivemos também o Sistema Paulo Freire de Educação, formulado por esse grande educador da UFPE nos anos 1960. O sistema, que incluía um revolucionário método de alfabetização de adultos, foi, junto com seu criador, exilado para a Europa, Estados Unidos, África, por não agradar aos “revolucionários” de 1964 porque educava conscientizando cívica e politicamente.

No início dos anos 1960, também em Pernambuco, Miguel Arraes criou o Movimento de Cultura Popular, voltado para a educação, alfabetização e valorização da cultura do povo. Fuzilado pelos golpistas de 1964. Darcy Ribeiro, junto com o já referido Anísio Teixeira, criou a Universidade de Brasília, concebida como uma das mais modernas do mundo. Foi torpedeada pelos golpistas. Leonel Brizola, quando governador do Rio Grande, encheu o Estado de escolas. Quando governador do Rio, criou os CIEPs, desmantelados pelos seus sucessores. Eram prédios bonitos, projetados por Oscar Niemeyer, onde as crianças passavam o dia, estudavam, brincavam, se alimentavam, adquiriam cidadania e cultura. Será que vamos continuar perdendo tempo ou alguma luz brilhará na mente de nossos governantes e congressistas?

Nenhum comentário: