Um tema importante hoje, nestes dias tão
conturbados, é que não há dúvida de que o papa Francisco está realizando uma
autêntica revolução na Igreja e pelo mundo a fora. Uma revolução franciscana,
apesar de ele ser jesuíta, o primeiro papa filiado a essa ordem religiosa. Sua
tentativa de reconduzir o clero, especialmente os cardeais da obsoleta corte
papal e bispos que teimam em viver como príncipes suntuosos, aos princípios e
práticas evangélicos é reconhecida por todos. E admirada por quem sonha com o
verdadeiro cristianismo, aquele que se nos apresenta no livro dos Atos dos Apóstolos e na vida de alguns
santos que nem precisam de canonização.
No Sínodo por ele convocado e recentemente
encerrado em Roma, ele conseguiu uma maioria curta, mas significativa, para
implantar aquilo que julga ser uma Igreja mais mãe, mais misericordiosa, não
inquisitorial. Se o papa fosse um Wojtyla, um Ratzinger, certamente, em circunstâncias
similares, imporia tudo o que quisesse ex cathedra, sem consultar nem ouvir aqueles
que, como ele, são os sucessores dos apóstolos. Antes dele, valiam muito pouco as
conferências regionais de bispos, cujas conclusões só eram reconhecidas depois
de passar pelo crivo das secretarias vaticanas, sendo podadas e adequadas aos
ditames da Igreja-Império constantiniana. Até a instituição do Sínodo, ressuscitada
pelo Concílio dos anos 1960, mas solenemente ignorada antes de Francisco,
permaneceu sem uma legítima utilização. Aliás, essa história da infalibilidade
papal merece considerações à parte numa outra postagem aos meus leitores e
leitoras
Lá para o final do Sínodo, os descontentes,
acostumados antes a ganhar em tudo, logo inventaram que o papa estava com um
tumor no cérebro, o que, se verdadeiro, o impediria de exercer seu múnus
pastoral. Quando viram que não eram levados a sério, partiram para a divulgação
de segredos, num segundo VatiLeaks (o primeiro tinha sido a publicação de
documentos secretos de Bento 16, o que está na origem da renúncia do atual papa
emérito, algo que não se via há séculos). Duas pessoas que contavam com a
confiança de Francisco, o bispo espanhol Lucio Angel Vallejo Balda e a leiga italiana
(de origem franco-marroquina) Francesca Chaouqui, muito ligada ao clérigo,
passaram documentos à imprensa.
O mal não está na divulgação de malfeitos do
Vaticano, e sim na antecipação, para atrapalhar, de tantas coisas erradas que
ocorrem, há tanto tempo, no IOR (mais conhecido do Banco do Vaticano) e na
corte papal de um modo geral. Falando aos fiéis que vão todo domingo à Praça de
São Pedro, disse Francisco: “Eu conhecia muito bem aqueles papéis porque eu mesmo
requisitei certos estudos, com base nos quais começamos a fazer reformas que já
estão dando seus frutos. [...] Esses acontecimentos deploráveis não ajudam, mas
a reforma continua com o suporte dos meus colaboradores e de todos vocês”.
Quem mandou confiar no Opus Dei, instituição
fascistoide muitíssimo apreciada por João Paulo 2º?
Um lado positivo desse vazamento é que o papa
deu a entender claramente que que vai aproveitar a situação criada para
acelerar as soluções de questões espinhosas, como a de residências luxuosas de
certos cardeais. Francisco zangou-se, e com razão. Ninguém o segura mais, se
Deus quiser. E Deus quer!
PS – Aguardem um pouco que eu estou continuando
a revisão de “Viver é muito perigoso”. Tem muita coisa que a gente esquece. Eu
tinha pressa, pois já estou nos oitenta.
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