Gente, mais uma vez, encrenca com a
banda fio dental e provedor. Vou enviar-lhes hoje o post desta segunda-feira e
o da sexta passada; e ficar postando em segunda ou terça, e sexta ou sábado,
para tentar manter uma periodicidade. É costume dizer que o Brasil teve e
continua tendo um comportamento, em relação aos primitivos habitantes de
Pindorama, menos desumano que aquele praticado por estadunidenses e outros
colonizadores das Américas, Isto só em parte é verdade. Muitos índios se
salvaram porque abandonaram o litoral, mais rapidamente habitado pelo europeu,
embrenhando-se na selva amazônica e mato-grossense. Houve também dificuldade em
escravizar os índios, não só porque eles estavam em seu hábitat natural mas
também por uma alegada proteção dos jesuítas. Mas a realidade é que, dos
milhões de indígenas que tínhamos no início da colonização do nosso país, hoje
só nos restam menos de um milhão.
Faço estas considerações a partir de
notícias que se repetem constantemente sobre assassinatos de guaranis no Mato
Grosso do Sul, por jagunços a mando de latifundiários e grileiros, e graves
descuidos da Funai na própria Amazônia, que, apesar do desmatamento e da
constante grilagem, ainda seria o último refúgio dos nossos silvícolas. A Funai
é, por exemplo, acusada de omissão em grave conflito entre duas etnias, uma das
quais ainda isolada, na Terra Indígena Vale do Javari, no noroeste do Estado do
Amazonas (fronteira com o Peru); matis e corubos, estes isolados. As
investigações ainda estão em curso, mas calculam-se os mortos entre 7 e 15.
Consta que os matis, após alertarem a Funai e pedirem audiência em Brasília,
revidaram ataque da etnia isolada há já um ano. Desde então, com total omissão
da Funai, os contatos entre ambos os povos vêm sendo marcados pela violência.
Além de tudo, os corubos estão com doenças respiratórias contagiosas e têm
marcas de tiros no corpo.
Vê-se assim que a herança maldita das
doenças da "civilização" branca já chegou ao Vale do Javari, que é a
região com maior densidade de etnias isoladas do mundo. Essa região protegida é
pressionada duramente por pescadores, caçadores, madeireiros e traficantes. Já
são quase 20 anos que o sertanista Sidney Possuelo fez o primeiro contato com
os corubos. Desde então os encontros com funcionários da Funai são ocasionais.
A União dos Povos Indígenas do Javari, como vimos acima, há muito solicitou à
Funai uma estratégia de pacificação. As queixas são muitas em relação à Funai.
O coordenador-geral para índios isolados, Carlos Travassos, preferiu deslocar
funcionários especializados para prestar assistência a sua amiga Mariana
Mercadante, filha do ministro Mercadante, que faz filmagens por ali.
Sertanistas experientes acusam
Travassos de irregularidades e má gestão e pediram sua saída do cargo. Possuelo
afirma que a intenção é privatizar a área. O presidente da Funai, João Pedro da
Costa, também está sendo acusado de omissão por sertanistas e amigos da causa
indígena. Apesar disso tudo, os índios aculturados, mais abundantes no Nordeste
e Sudeste do Brasil, vão cada vez mais se conscientizado de seus direitos e
agindo para reaver o que perderam. É o que ocorre, por exemplo, com os xucurus
de Pesqueira, sob a liderança do cacique Marquinhos, sucessor de seu pai, o
cacique Chicão, assassinado a mando de latifundiários. Já conseguiram recuperar
legalmente grande parte de suas terras tomadas por fazendeiros. Na vizinha
Paraíba, os potiguaras da Bahia da Traição e adjacências também já lutam por
seus direitos.
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