terça-feira, 1 de dezembro de 2015

TODO DIA É DIA DE ÍNDIO

Gente, mais uma vez, encrenca com a banda fio dental e provedor. Vou enviar-lhes hoje o post desta segunda-feira e o da sexta passada; e ficar postando em segunda ou terça, e sexta ou sábado, para tentar manter uma periodicidade. É costume dizer que o Brasil teve e continua tendo um comportamento, em relação aos primitivos habitantes de Pindorama, menos desumano que aquele praticado por estadunidenses e outros colonizadores das Américas, Isto só em parte é verdade. Muitos índios se salvaram porque abandonaram o litoral, mais rapidamente habitado pelo europeu, embrenhando-se na selva amazônica e mato-grossense. Houve também dificuldade em escravizar os índios, não só porque eles estavam em seu hábitat natural mas também por uma alegada proteção dos jesuítas. Mas a realidade é que, dos milhões de indígenas que tínhamos no início da colonização do nosso país, hoje só nos restam menos de um milhão.
Faço estas considerações a partir de notícias que se repetem constantemente sobre assassinatos de guaranis no Mato Grosso do Sul, por jagunços a mando de latifundiários e grileiros, e graves descuidos da Funai na própria Amazônia, que, apesar do desmatamento e da constante grilagem, ainda seria o último refúgio dos nossos silvícolas. A Funai é, por exemplo, acusada de omissão em grave conflito entre duas etnias, uma das quais ainda isolada, na Terra Indígena Vale do Javari, no noroeste do Estado do Amazonas (fronteira com o Peru); matis e corubos, estes isolados. As investigações ainda estão em curso, mas calculam-se os mortos entre 7 e 15. Consta que os matis, após alertarem a Funai e pedirem audiência em Brasília, revidaram ataque da etnia isolada há já um ano. Desde então, com total omissão da Funai, os contatos entre ambos os povos vêm sendo marcados pela violência. Além de tudo, os corubos estão com doenças respiratórias contagiosas e têm marcas de tiros no corpo.
Vê-se assim que a herança maldita das doenças da "civilização" branca já chegou ao Vale do Javari, que é a região com maior densidade de etnias isoladas do mundo. Essa região protegida é pressionada duramente por pescadores, caçadores, madeireiros e traficantes. Já são quase 20 anos que o sertanista Sidney Possuelo fez o primeiro contato com os corubos. Desde então os encontros com funcionários da Funai são ocasionais. A União dos Povos Indígenas do Javari, como vimos acima, há muito solicitou à Funai uma estratégia de pacificação. As queixas são muitas em relação à Funai. O coordenador-geral para índios isolados, Carlos Travassos, preferiu deslocar funcionários especializados para prestar assistência a sua amiga Mariana Mercadante, filha do ministro Mercadante, que faz filmagens por ali.
Sertanistas experientes acusam Travassos de irregularidades e má gestão e pediram sua saída do cargo. Possuelo afirma que a intenção é privatizar a área. O presidente da Funai, João Pedro da Costa, também está sendo acusado de omissão por sertanistas e amigos da causa indígena. Apesar disso tudo, os índios aculturados, mais abundantes no Nordeste e Sudeste do Brasil, vão cada vez mais se conscientizado de seus direitos e agindo para reaver o que perderam. É o que ocorre, por exemplo, com os xucurus de Pesqueira, sob a liderança do cacique Marquinhos, sucessor de seu pai, o cacique Chicão, assassinado a mando de latifundiários. Já conseguiram recuperar legalmente grande parte de suas terras tomadas por fazendeiros. Na vizinha Paraíba, os potiguaras da Bahia da Traição e adjacências também já lutam por seus direitos.


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