Antigamente a seca era nos sertões, do Piauí ao norte de Minas, estendendo-se às vezes ao Agreste. Quando eu era criança, não me lembro de estiagem mais longa na Zona da Mata, onde meu pai, Paulino Veloso de Andrade, tinha um engenho, não muito longe das matas onde moro hoje, em Aldeia. Este ano, a seca atinge até Aldeia, onde não pinga há mais de um mês. Enquanto isso, representantes dos líderes mundiais discutem em Paris, sem chegar a conclusões satisfatórias, como conseguir que o nosso maltratado planeta Terra não atinja brevemente o talvez fatídico aquecimento até dois graus.
Mas, o que eu desejo tratar hoje é dos prejuízos que causa ao nosso Estado a não fiscalização, por exemplo, da concessionária de energia elétrica, torrada a preço de banana (como era costume nas privatizações dos anos 1990) e hoje controlada por um grupo visigodo. A Aneel e outras agências reguladoras criadas à época da desestatização desenfreada continuam ineficientes, mesmo após a saída do PSDB do governo federal, servindo praticamente para homologar aumentos de tarifas. Em recente reportagem de Emídia Felipe no JC, ficamos sabendo que o polo industrial de Goiana, onde se destacam a Hemobras e a Jeep, está sendo prejudicado por constantes falhas no fornecimento de energia. A fábrica do Renegade chega a parar várias vezes. Na Hemobras, as quedas de energia ameaçam o tratamento do plasma, sua matéria-prima. A Celpe sustenta que as interrupções são pontuais. Fico eu pensando, com meus botões, se, lá na Espanha, hoje reconduzida à Europa após a queda do fascismo franquista, os visigodos, que já foram bárbaros, daqueles que invadiram o Império Romano com a fúria de uma Estado Islâmico, produzem quedas, mesmo pontuais, de energia elétrica. Voltando a Aldeia. Aqui as quedas de energia são frequentes, sobretudo quando chove. Certamente custa caro a manutenção das redes e os visigodos precisam de mais lucros para os acionistas. E viva o capitalismo!
Voltando a Goiana. A Hemobras paga à Celpe uma média de R$150 mil mensais e registrou, de janeiro a 15 de novembro, 116 horas sem energia em sua fábrica, o que equivale a quase cinco dias. Essa empresa pública ainda não teve perda de plasma porque possui dois geradores que impedem o risco à matéria-prima usada na produção de hemoderivados. Na Jeep, uma comitiva da Assembleia Legislativa encontrou a fábrica sem energia. Interessante notar que a indústria de vidros Vivix e a de cerveja Itaipava (esta em Itapissuma) não se queixaram de falta de energia. Dá a impressão que a concessionária dos visigodos escolhe a quem vai prejudicar, pois não pretende diminuir o lucro dos acionistas fazendo boa manutenção em todas as redes.
Pode-se acreditar (claro que eles não vão confessar) que as concessionárias de telefonia celular também agem assim. Por exemplo, você faz uma ligação e começa a falar com outra pessoa. Quase invariavelmente, a ligação cai e você tem de gastar mais tentando outra ligação. É frequente, você ter de fazer três ligações, se a conversa for mais longa (a Anatel não pia). Sem falar em apagões de linha prolongados. Com a TV por assinatura, nota-se que é muito mais cara que nos países de origem e oferece programas repetitivos. Se você quiser variar, tem de pagar mais.Tudo isso graças à assim dita "privataria tucana" (leiam o livro homônimo).
Caras leitoras e caros leitores, não esqueci o "Viver é muito perigoso" (aí ao lado). Vou retomar uma revisão para cobrir fatos e comentários que esqueci na primeira edição.
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