Há poucos dias, em entrevista
à Rádio Jornal, o sr. João Carlos Paes Mendonça, líder do grupo JCPM e
presidente do Sistema Jornal do Commercio, disse uma coisa básica, elementar para
se entender a casa de mãe Joana que o nosso país se tornou. Falou simplesmente
o seguinte: o Brasil não investe em educação. Que ninguém pense que eu estou
querendo agradar ao patrão (tenho certeza que minhas leitoras e leitores não
vão achar isso), pois eu não estou mais no Jornal
do Commercio, a não ser por um artigo mensal, geralmente no primeiro sábado. Ali participei, durante mais de 20 anos, a convite de Ivanildo
Sampaio, meu ex-colega no grupo Manchete, do soerguimento de uma empresa quase
falida.
Com um salário em volta de mil
reais, um professor não pode se manter decentemente, se reciclar, comprar os
livros e outros materiais de que precisa para cumprir sua missão docente. As
escolas, em geral, são ruins e mal administradas, além de expostas a constantes
assaltos que, parece, não são percebidos pelos órgãos de segurança. A preciosa
ajuda da internet não é levada em conta. Todo governo promete melhoras, mas no
fim nada: prometem mundos e fundos e no fim ficam com os fundos imundos, como
diz o povo.
Lembro-me de escolas que
conheci na Europa, onde os alunos estudavam até grego e latim, que
desapareceram do nosso ensino fundamental. Quando visitei meu filho Carlos
Emanuel, num tempo que ele passou nos Estados Unidos, conheci a escola em que
meu neto Pedro estudava (em Stamford, Estado de Connecticut, vizinho a Nova
York), muito melhor do que algumas escolas particulares por aqui. São a Europa,
os EUA, os países que investem em educação que ganham os prêmios Nobel, têm as
melhores universidades, produzem ciência e tecnologia.
Nas nossas universidades, ao
menos nas federais, os professores ganham melhor que no ensino fundamental. Por
outro lado, se tornaram (na maioria) meros funcionários públicos, escudados
numa estabilidade sem compromissos: não se veem obrigados a pesquisar, publicar
produções científicas; às vezes queimam aulas. Muitos recebem mais por
dedicação exclusiva e distribuem a “dedicação exclusiva” por mais de uma
entidade.
Sem boa educação, não há
conscientização de cidadania, de política. Você não reivindica seus direitos,
não pratica seus deveres. Acha que tudo depende do Estado. Vende seu voto a
quem der mais. Deixa-se corromper e também toma a iniciativa de pagar propina
etc. Faz suas próprias leis; no trânsito, por exemplo. E, como os políticos,
administradores também são geralmente deseducados, pouco fazem para evitar que
a cidade, o país se tornem uma selva. Seria tão simples, por exemplo, colocar
pardais para evitar que o motorista apressadinho invadisse o espaço exclusivo
de ônibus. Mas, cadê? Quem segue a regra fica se sentindo um abestalhado.
Essa onda de estripulias com o
dinheiro público, que afinal está sendo investigada e punida, também tem a ver
com o baixo nível de educação do país. Recente reportagem de Angela Fernanda
Belfort (JC de 13.12.15) mostra o impacto da corrupção em obras no Estado de
Pernambuco no bem-estar da população. Transposição do Rio São Francisco: 12
milhões de nordestinos sem água em uma das piores secas da região. Estaleiro
Atlântico Sul: 2,5 mil pessoas perderam seus empregos na onda da Lava-Jato. Na
Refinaria Abreu e Lima, também roubalheira e desemprego.
É certo que, se houvesse
investimento na educação, no ensino, o povo não aceitaria situação semelhante.
Corrupção também há em países de alto nível educacional; mas ela é investigada,
combatida, punida. O nosso problema maior é que quase todo mundo se dá bem
nessa bandalheira. E se dava melhor ainda em governos em que o Ministério
Público e a Polícia Federal não funcionavam. Esse pessoal se dá bem até demais
desde que vivia à custa de trabalho escravo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário