sábado, 19 de dezembro de 2015

A EDUCAÇÃO (OU FALTA DE) NA CASA DE MÃE JOANA

Há poucos dias, em entrevista à Rádio Jornal, o sr. João Carlos Paes Mendonça, líder do grupo JCPM e presidente do Sistema Jornal do Commercio, disse uma coisa básica, elementar para se entender a casa de mãe Joana que o nosso país se tornou. Falou simplesmente o seguinte: o Brasil não investe em educação. Que ninguém pense que eu estou querendo agradar ao patrão (tenho certeza que minhas leitoras e leitores não vão achar isso), pois eu não estou mais no Jornal do Commercio, a não ser por um artigo mensal, geralmente no primeiro sábado. Ali participei, durante mais de 20 anos, a convite de Ivanildo Sampaio, meu ex-colega no grupo Manchete, do soerguimento de uma empresa quase falida.
Com um salário em volta de mil reais, um professor não pode se manter decentemente, se reciclar, comprar os livros e outros materiais de que precisa para cumprir sua missão docente. As escolas, em geral, são ruins e mal administradas, além de expostas a constantes assaltos que, parece, não são percebidos pelos órgãos de segurança. A preciosa ajuda da internet não é levada em conta. Todo governo promete melhoras, mas no fim nada: prometem mundos e fundos e no fim ficam com os fundos imundos, como diz o povo.
Lembro-me de escolas que conheci na Europa, onde os alunos estudavam até grego e latim, que desapareceram do nosso ensino fundamental. Quando visitei meu filho Carlos Emanuel, num tempo que ele passou nos Estados Unidos, conheci a escola em que meu neto Pedro estudava (em Stamford, Estado de Connecticut, vizinho a Nova York), muito melhor do que algumas escolas particulares por aqui. São a Europa, os EUA, os países que investem em educação que ganham os prêmios Nobel, têm as melhores universidades, produzem ciência e tecnologia.
Nas nossas universidades, ao menos nas federais, os professores ganham melhor que no ensino fundamental. Por outro lado, se tornaram (na maioria) meros funcionários públicos, escudados numa estabilidade sem compromissos: não se veem obrigados a pesquisar, publicar produções científicas; às vezes queimam aulas. Muitos recebem mais por dedicação exclusiva e distribuem a “dedicação exclusiva” por mais de uma entidade.
Sem boa educação, não há conscientização de cidadania, de política. Você não reivindica seus direitos, não pratica seus deveres. Acha que tudo depende do Estado. Vende seu voto a quem der mais. Deixa-se corromper e também toma a iniciativa de pagar propina etc. Faz suas próprias leis; no trânsito, por exemplo. E, como os políticos, administradores também são geralmente deseducados, pouco fazem para evitar que a cidade, o país se tornem uma selva. Seria tão simples, por exemplo, colocar pardais para evitar que o motorista apressadinho invadisse o espaço exclusivo de ônibus. Mas, cadê? Quem segue a regra fica se sentindo um abestalhado.
Essa onda de estripulias com o dinheiro público, que afinal está sendo investigada e punida, também tem a ver com o baixo nível de educação do país. Recente reportagem de Angela Fernanda Belfort (JC de 13.12.15) mostra o impacto da corrupção em obras no Estado de Pernambuco no bem-estar da população. Transposição do Rio São Francisco: 12 milhões de nordestinos sem água em uma das piores secas da região. Estaleiro Atlântico Sul: 2,5 mil pessoas perderam seus empregos na onda da Lava-Jato. Na Refinaria Abreu e Lima, também roubalheira e desemprego.

É certo que, se houvesse investimento na educação, no ensino, o povo não aceitaria situação semelhante. Corrupção também há em países de alto nível educacional; mas ela é investigada, combatida, punida. O nosso problema maior é que quase todo mundo se dá bem nessa bandalheira. E se dava melhor ainda em governos em que o Ministério Público e a Polícia Federal não funcionavam. Esse pessoal se dá bem até demais desde que vivia à custa de trabalho escravo.

Nenhum comentário: