Francisco, o bispo de Roma, como ele
se apresentou em seu primeiro contato com o povo, na Praça de São Pedro, quando
foi eleito papa, continua surpreendendo. Em sua visita pastoral a três países
africanos onde há hostilidade entre muçulmanos e cristãos, ele pregou a
conciliação entre religiões, e prosseguiu insistindo em sua proposta de uma
ecologia global, que inclua toda a natureza, todos os animais, inclusive o
homem. Uma ação ambientalista que seja também social. A África é um dos
produtos mais acabados do colonialismo europeu. Depois de explorarem suas
colônias até o bagaço e produzirem, mui cristãmente, alguns massacres, França,
Grã-Bretanha, Portugal, Espanha, Bélgica, Alemanha, Itália resolveram fazer que
largavam o osso, após a 2ª Guerra Mundial. Mas não sem antes traçarem as
fronteiras daqueles povos juntando tribos inimigas e separando tribos amigas.
Além de não haverem preparado uma elite capaz de governar decentemente os novos
países.
Resultado na maioria dos países:
massacres, genocídios, sobas substituindo os governantes coloniais. Quem
descreveu os colonizadores do ex-Congo Belga, com fina gozação, foi o ditador
Mobutu Sese Seko: "Ils sont curieux ces Belges, ils n'arrivent pas à
surmonter leurs quérelles tribales" (São estranhos esses belgas. Eles não
conseguem superar suas querelas tribais). Referia-se à velha rixa nesse pequeno
país entre valões, que falam francês, e flamengos, que falam holandês. No
segundo país que Francisco visitou, Uganda, que abriga mais de 500 mil
refugiados de perseguições em outros países, o papa elogiou o extraordinário
acolhimento a eles reservado. Disse ele: "Nosso mundo, em meio a tantas
guerras, violência e diversas formas de injustiça, experimenta um movimento sem
precedente de populações. O modo como tratamos essas pessoas é um teste de
nossa humanidade, de nosso respeito pela dignidade humana e, sobretudo, de
nossa solidariedade para com nossos irmãos e irmãs que que passam
necessidade".
Ao visitar o Quênia, disse, em um
bairro pobre de Nairóbi onde moram cerca de 100 mil pessoas: "Como não
denunciar as injustiças que sofrem? A atroz injustiça da marginalização urbana.
São as feridas provocadas por minorias que concentram o poder, a riqueza e
esbanjam com egoísmo, enquanto crescentes maiorias devem refugiar-se em
periferias abandonadas, contaminadas, descartadas". Como se pode notar,
Francisco de Roma não perde ocasião de criticar o regime desumano que manda e
desmanda no mundo, com poucas exceções. Ele evita falar de
"capitalismo", mas o que ele diz expõe claramente o que ele pensa.
Quão diferente de papas anteriores, que condenavam o socialismo, por mais tênue
que fosse, como coisa do demônio. Xô, satanás! Pio 12 chegou ao cúmulo de
proteger nazistas, após a derrota de Hitler, providenciando-lhes passaportes e
enviando-os principalmente para a Argentina. Não é de admirar a notória
ferocidade das ditaduras que assolaram os nossos vizinhos.
Não percam a minissérie
"Francisco, o jesuíta", que vai ao ar no canal History, a partir da
quinta-feira 3 de dezembro, sobre um papa tão diferenciado dos antecessores: o
primeiro nascido no assim dito Novo Mundo, especificamente na América mais
pobre, que é a Latina; um papa que chutou a classificação dinástica do papado,
herança do Império Romano, intitulando-se apenas Francisco. Mesmo jesuíta, ele
é um franciscano em espírito e ações. A produção da minissérie é baseada na
biografia do papa escrita pelos jornalistas Sergio Rubin e Francesco
Ambrogetti, "O papa Francisco - Conversas com Jorge Bergoglio ". A
maior parte da produção é dedicada às atividades de Francisco no Vaticano, como
sua luta para acabar com a corrupção no IOR (Banco do Vaticano), a ostentação
da Cúria Romana, a pedofilia endêmica no clero, fruto certamente de um celibato
não carismático, mas imposto à força pelo direito canônico. Fala também da
tolerância para com divorciados e gays, esforços pela paz no Oriente Médio,
entre Cuba e Estados Unidos.
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