terça-feira, 1 de dezembro de 2015

FRANCISCO, O JESUÍTA (E FRANCISCANO) BISPO DE ROMA

Francisco, o bispo de Roma, como ele se apresentou em seu primeiro contato com o povo, na Praça de São Pedro, quando foi eleito papa, continua surpreendendo. Em sua visita pastoral a três países africanos onde há hostilidade entre muçulmanos e cristãos, ele pregou a conciliação entre religiões, e prosseguiu insistindo em sua proposta de uma ecologia global, que inclua toda a natureza, todos os animais, inclusive o homem. Uma ação ambientalista que seja também social. A África é um dos produtos mais acabados do colonialismo europeu. Depois de explorarem suas colônias até o bagaço e produzirem, mui cristãmente, alguns massacres, França, Grã-Bretanha, Portugal, Espanha, Bélgica, Alemanha, Itália resolveram fazer que largavam o osso, após a 2ª Guerra Mundial. Mas não sem antes traçarem as fronteiras daqueles povos juntando tribos inimigas e separando tribos amigas. Além de não haverem preparado uma elite capaz de governar decentemente os novos países.
Resultado na maioria dos países: massacres, genocídios, sobas substituindo os governantes coloniais. Quem descreveu os colonizadores do ex-Congo Belga, com fina gozação, foi o ditador Mobutu Sese Seko: "Ils sont curieux ces Belges, ils n'arrivent pas à surmonter leurs quérelles tribales" (São estranhos esses belgas. Eles não conseguem superar suas querelas tribais). Referia-se à velha rixa nesse pequeno país entre valões, que falam francês, e flamengos, que falam holandês. No segundo país que Francisco visitou, Uganda, que abriga mais de 500 mil refugiados de perseguições em outros países, o papa elogiou o extraordinário acolhimento a eles reservado. Disse ele: "Nosso mundo, em meio a tantas guerras, violência e diversas formas de injustiça, experimenta um movimento sem precedente de populações. O modo como tratamos essas pessoas é um teste de nossa humanidade, de nosso respeito pela dignidade humana e, sobretudo, de nossa solidariedade para com nossos irmãos e irmãs que que passam necessidade".
Ao visitar o Quênia, disse, em um bairro pobre de Nairóbi onde moram cerca de 100 mil pessoas: "Como não denunciar as injustiças que sofrem? A atroz injustiça da marginalização urbana. São as feridas provocadas por minorias que concentram o poder, a riqueza e esbanjam com egoísmo, enquanto crescentes maiorias devem refugiar-se em periferias abandonadas, contaminadas, descartadas". Como se pode notar, Francisco de Roma não perde ocasião de criticar o regime desumano que manda e desmanda no mundo, com poucas exceções. Ele evita falar de "capitalismo", mas o que ele diz expõe claramente o que ele pensa. Quão diferente de papas anteriores, que condenavam o socialismo, por mais tênue que fosse, como coisa do demônio. Xô, satanás! Pio 12 chegou ao cúmulo de proteger nazistas, após a derrota de Hitler, providenciando-lhes passaportes e enviando-os principalmente para a Argentina. Não é de admirar a notória ferocidade das ditaduras que assolaram os nossos vizinhos.
Não percam a minissérie "Francisco, o jesuíta", que vai ao ar no canal History, a partir da quinta-feira 3 de dezembro, sobre um papa tão diferenciado dos antecessores: o primeiro nascido no assim dito Novo Mundo, especificamente na América mais pobre, que é a Latina; um papa que chutou a classificação dinástica do papado, herança do Império Romano, intitulando-se apenas Francisco. Mesmo jesuíta, ele é um franciscano em espírito e ações. A produção da minissérie é baseada na biografia do papa escrita pelos jornalistas Sergio Rubin e Francesco Ambrogetti, "O papa Francisco - Conversas com Jorge Bergoglio ". A maior parte da produção é dedicada às atividades de Francisco no Vaticano, como sua luta para acabar com a corrupção no IOR (Banco do Vaticano), a ostentação da Cúria Romana, a pedofilia endêmica no clero, fruto certamente de um celibato não carismático, mas imposto à força pelo direito canônico. Fala também da tolerância para com divorciados e gays, esforços pela paz no Oriente Médio, entre Cuba e Estados Unidos.


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