Hoje, passo a palavra, com a devida
permissão, a um professor universitário que entende muito de energia e me
enviou comentários sobre a atual crise mundial na área petrolífera, que atinge
a Petrobras já duramente afetada pela roubalheira de funcionários e empresários
corruptos. Para a Rede Globo e a grande mídia nativa, a crise é só da Petrobras
e só existe devido aos governos de Lula e Dilma. Mas as pessoas com um mínimo
de esclarecimento sabem que não é assim. Vamos ler o professor Heitor Scalambrini.
A maior das crises da indústria petrolífera
Heitor
Scalambrini Costa
Professor
aposentado da UFPE
Grandes companhias petrolíferas
tem diante de si uma enorme crise em razão de uma conjuntura que combina a
queda do preço do petróleo, com excesso de oferta, o arrefecimento da economia
chinesa, sendo a China o maior consumidor de petróleo, e o retorno do petróleo
iraniano ao mercado. Além da pressão dos acionistas para que o setor se adapte
a realidade da vulnerabilidade dos negócios em face das mudanças climáticas. É
uma nova crise para entrar na lista das grandes crises da indústria do petróleo
com fortes resultados negativos: falências, desemprego e prejuízos, aumentando assim
fortemente a insegurança dos investidores na indústria de óleo e gás.
O que se verifica neste contexto
é uma movimentação intensa para avaliar e mapear a situação em detalhes, suas
consequências, sequelas, e apontar soluções que tragam melhores resultados para
as companhias de petróleo e gás, prestadoras de serviços e fornecedoras de
equipamentos. Existem fortes razões para concluir que as perdas e danos, com a
continuidade da volatilidade do preço do petróleo, serão bem maiores na cadeia
de fornecedores e prestadores de serviços.
No Brasil, aliados aos problemas
da conjuntura internacional, uma crise sem precedente atingiu a principal
empresa nacional, a Petrobras. Responsável por uma cadeia produtiva que representa
13% do produto interno bruto (PIB) brasileiro, sofreu mais ainda com a
desvalorização do real ante o dólar, o que contribuiu para aumentar o
endividamento da empresa, e com as descobertas decorrentes da Operação Lava Jato.
Com as atividades de exploração e
produção (E&P) de petróleo e gás natural no ano de 2013, foram mais de sessenta
bilhões de reais de investimentos e 60 mil empregos gerados por essas
atividades. No entanto, a partir de 2014, com a reversão do cenário
internacional, os problemas de caixa enfrentados pela Petrobras e as mudanças
ocorridas no ambiente de negócio da indústria petrolífera nacional provocaram impactos
significativos sobre a economia brasileira. A redução do ritmo de investimento
na indústria petrolífera, em especial no segmento de E&P, diminuiu
drasticamente as variáveis macroeconômicas, como o nível de emprego no setor e
a geração de renda. Todavia a situação mais dramática da empresa ocorreu em
2015, quando chegou o risco da execução de suas dividas por não ter seu balanço
financeiro avalizado.
Hoje a Petrobras passa, segundo
seu ex presidente, “por uma recuperação financeira, redesenho organizacional e
da gestão e retomada da credibilidade da empresa”. Contudo pouco se discute no
âmbito da empresa sua postura com relação ao seu papel nacional e internacional
de ter como principal produto de negócio o maior vilão do aquecimento global, o
petróleo. Ao contrário, o que mais se discute é a abertura total do mercado de
exploração para atrair grandes corporações para a exploração do pré-sal. Ou
seja, o entreguismo de um recurso natural estratégico, não como combustível,
mas como insumo para vários setores da economia do futuro.
Para que o governo se alinhe com
as preocupações globais com relação à política do clima, é necessário se
discutir a transformação/reconversão da companhia em uma empresa de energias
renováveis. Respeitando, todavia as questões socioambientais em sua plenitude,
e colocando sua responsabilidade corporativa, a da maior empresa nacional, como
exemplo a ser seguido pela indústria brasileira, que ainda teima em contrapor
preservação ambiental e crescimento econômico.
Neste período sombrio que o país vive, com o conservadorismo em alta e o
que há de mais retrógrado na política brasileira no comando do governo interino,
difícil acreditar que os atuais dirigentes efetivamente levem em conta as
mudanças climáticas, e que sejam consideradas nas políticas públicas. E que a
atual direção da Petrobras trilhe o caminho da sustentabilidade. Mas não iremos
desistir, pois a luta continua!
Nenhum comentário:
Postar um comentário