quarta-feira, 6 de julho de 2016

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA À BRASILEIRA AGRAVADA PELO GOLPE

Gente, escrevo hoje, com certo atraso sempre devido à “privataria tucana”, sobre o descalabro inadmissível que é a administração pública à brasileira. Vejam, por exemplo (mau exemplo), o trânsito na Avenida Caxangá. Há muitos anos, reservou-se uma pista exclusivamente para ônibus, que nunca foi respeitada nem fiscalizada. Com aquele ônibus ligeirinho que puseram ali há pouco, essa exclusividade foi confirmada e continua sem nenhuma fiscalização. Não custaria colocar ali lombadas eletrônicas que multariam os sabidinhos e apressadinhos que zombam de quem cumpre os regulamentos. Por que não põem? E quem sabe? Em vez disso, para facilitar a vida de quem descumpre os regulamentos, colocaram há pouco ali aquela sinalização que chamam de tartarugas junto às estações do BRT. O que permite a ultrapassagem dos ônibus pelos transgressores que usam a faixa exclusiva. Talvez o Recife seja a única cidade, mesmo falando só de Pau Brasil, que consiga uma antifaçanha dessas.
Outra exclusividade, esta em termos nacionais, é terem conseguido sucatear e depois paralisar totalmente as estradas de ferro, ao menos no Nordeste. Antifaçanha que não se viu em nenhum outro país do mundo, nem nos Estados Unidos, pátria das rodovias e do automóvel. E que foi objeto, recentemente, de uma série de reportagens no Jornal do Commercio, pelas mãos de Ângela Fernanda Belfort e Diego Nigro. Lembro que, quando eu era criança, viajava-se quase exclusivamente, entre Vitória de Santo Antão e o Recife, de trem. Havia um serviço de ônibus, que chamavam de “sopa”, que se tornava impraticável durante o tempo chuvoso, pois ainda não havia sido construída com pavimentação a BR-232. À tardinha, quando o trem voltava da capital para o interior (parece-me que ia até Arcoverde), as pessoas iam para as janelas para bisbilhotar sobre quem tinha ido ao Recife e o que tinham ido fazer.
Durante a 2ª Guerra Mundial, a proprietária inglesa Great Western não investia muito e começou aí o sucateamento. Em Edgard Werneck, havia uma oficina que fazia a manutenção dos vagões e consertava até locomotivas. Finda a guerra, o governo assumiu a Great Western e constituiu a Rede Ferroviária do Nordeste (RFN), mas não conseguiu deter o sucateamento, ou não se interessou. A rede era dirigida por políticos e servia para empregar seus apaniguados. Deu nisso que está aí (ou não está). Fez-se até uma incorporação da RFN à Rede Ferroviária Federal. Resultado: piorou tudo ainda mais. No governo de JK, preocupado em semear rodovias sem manutenção e implantar uma indústria automobilística com multinacionais; ao contrário do que fizeram o Japão e a Coreia (apesar de arruinados pela guerra); as ferrovias, que já não andavam bem das pernas, foram completamente esquecidas.
Em 2006, surgiu a ideia da Transnordestina e chegou-se a implantar uma fábrica de dormentes em Salgueiro. A Odebrecht saiu da obra em 2013, ficando sozinha a Transnordestina Logística SA. Este ano as obras pararam totalmente, tanto que o presidente da Fiepe, Ricardo Essinger, defende que a União deveria tomar a concessão da Transnordestina Logística. O megaprojeto previa uma linha que começava em Eliseu Martins, no Piauí, e bifurcava-se em Salgueiro nas direções de Suape e de Pecém, no Ceará, além de prometer a recuperação da antiga malha da Great Westerrn-RFN. Esta cobria, nos bons tempos, 4,6 mil km, interligando de Propriá (SE) a São Luís (MA), com ramais no interior de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.

Não se tem notícia de tamanho crime com o transporte e o dinheiro públicos em outras partes do mundo. Sabe-se que a construção de uma estrada de ferro é mais cara que a de uma estrada de rodagem, no entanto a manutenção de uma ferrovia é bem mais barata. Ninguém foi responsabilizado pela megaesculhambação, nem punido. Agora estão querendo acabar com a Petrobras, sob o pretexto dos escândalos de corrupção. E o desgoverno do interino golpista pretende entregar o que não for destruído aos Estados Unidos, dentro do tão sadio (para os golpistas) objetivo de voltarmos à condição de quintal do Tio Sam. O atual chanceler golpista José Serra tem o mesmo princípio do chanceler golpista do marechal-ditador Castelo Branco (Juracy Magalhães): “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.

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