Gente, escrevo hoje, com certo atraso sempre
devido à “privataria tucana”, sobre o descalabro inadmissível que é a
administração pública à brasileira. Vejam, por exemplo (mau exemplo), o
trânsito na Avenida Caxangá. Há muitos anos, reservou-se uma pista
exclusivamente para ônibus, que nunca foi respeitada nem fiscalizada. Com
aquele ônibus ligeirinho que puseram ali há pouco, essa exclusividade foi
confirmada e continua sem nenhuma fiscalização. Não custaria colocar ali
lombadas eletrônicas que multariam os sabidinhos e apressadinhos que zombam de
quem cumpre os regulamentos. Por que não põem? E quem sabe? Em vez disso, para
facilitar a vida de quem descumpre os regulamentos, colocaram há pouco ali
aquela sinalização que chamam de tartarugas junto às estações do BRT. O que permite
a ultrapassagem dos ônibus pelos transgressores que usam a faixa exclusiva.
Talvez o Recife seja a única cidade, mesmo falando só de Pau Brasil, que
consiga uma antifaçanha dessas.
Outra exclusividade, esta em termos
nacionais, é terem conseguido sucatear e depois paralisar totalmente as
estradas de ferro, ao menos no Nordeste. Antifaçanha que não se viu em nenhum
outro país do mundo, nem nos Estados Unidos, pátria das rodovias e do
automóvel. E que foi objeto, recentemente, de uma série de reportagens no Jornal do Commercio, pelas mãos de
Ângela Fernanda Belfort e Diego Nigro. Lembro que, quando eu era criança,
viajava-se quase exclusivamente, entre Vitória de Santo Antão e o Recife, de
trem. Havia um serviço de ônibus, que chamavam de “sopa”, que se tornava
impraticável durante o tempo chuvoso, pois ainda não havia sido construída com
pavimentação a BR-232. À tardinha, quando o trem voltava da capital para o
interior (parece-me que ia até Arcoverde), as pessoas iam para as janelas para
bisbilhotar sobre quem tinha ido ao Recife e o que tinham ido fazer.
Durante a 2ª Guerra Mundial, a proprietária
inglesa Great Western não investia muito e começou aí o sucateamento. Em Edgard
Werneck, havia uma oficina que fazia a manutenção dos vagões e consertava até
locomotivas. Finda a guerra, o governo assumiu a Great Western e constituiu a
Rede Ferroviária do Nordeste (RFN), mas não conseguiu deter o sucateamento, ou
não se interessou. A rede era dirigida por políticos e servia para empregar
seus apaniguados. Deu nisso que está aí (ou não está). Fez-se até uma
incorporação da RFN à Rede Ferroviária Federal. Resultado: piorou tudo ainda
mais. No governo de JK, preocupado em semear rodovias sem manutenção e
implantar uma indústria automobilística com multinacionais; ao contrário do que
fizeram o Japão e a Coreia (apesar de arruinados pela guerra); as ferrovias,
que já não andavam bem das pernas, foram completamente esquecidas.
Em 2006, surgiu a ideia da Transnordestina e
chegou-se a implantar uma fábrica de dormentes em Salgueiro. A Odebrecht saiu
da obra em 2013, ficando sozinha a Transnordestina Logística SA. Este ano as
obras pararam totalmente, tanto que o presidente da Fiepe, Ricardo Essinger,
defende que a União deveria tomar a concessão da Transnordestina Logística. O
megaprojeto previa uma linha que começava em Eliseu Martins, no Piauí, e
bifurcava-se em Salgueiro nas direções de Suape e de Pecém, no Ceará, além de
prometer a recuperação da antiga malha da Great Westerrn-RFN. Esta cobria, nos
bons tempos, 4,6 mil km, interligando de Propriá (SE) a São Luís (MA), com
ramais no interior de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.
Não se tem notícia de tamanho crime com o
transporte e o dinheiro públicos em outras partes do mundo. Sabe-se que a
construção de uma estrada de ferro é mais cara que a de uma estrada de rodagem,
no entanto a manutenção de uma ferrovia é bem mais barata. Ninguém foi
responsabilizado pela megaesculhambação, nem punido. Agora estão querendo
acabar com a Petrobras, sob o pretexto dos escândalos de corrupção. E o
desgoverno do interino golpista pretende entregar o que não for destruído aos
Estados Unidos, dentro do tão sadio (para os golpistas) objetivo de voltarmos à
condição de quintal do Tio Sam. O atual chanceler golpista José Serra tem o
mesmo princípio do chanceler golpista do marechal-ditador Castelo Branco
(Juracy Magalhães): “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.
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