Oi gente, hoje escrevo sobre um tema
atualíssimo que é a ditadura militar que assolou o país por longos 21 anos e só
acabou no faz-de-conta. Atualíssimo? Sim, pois até hoje ninguém teve a coragem
de mexer com essa longa história de arbitrariedades e crimes. Nem mesmo depois
que a Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA definiu que crimes de tortura
e crimes continuados (que não terminaram, como tantos desaparecimentos
ocorridos pelas mãos dos esbirros militares e seus colaboradores civis) não
podem ser anistiados. Mesmo sem essa decisão de uma corte de que o nosso país
faz parte, todo mundo sabe que não se pode dar anistia a um crime de que os
autores não foram acusados. E é sabido que nem os generais-ditadores nem seus
ministros e cortes nunca acusaram nenhum torturador, assassino ou autor de desaparecimentos
do regime militar.
Assim, a anistia recíproca que eles inventaram
não tem a mínima base jurídica. Embora seja obedientemente acatada por todos os
governos que vieram após a assim dita redemocratização, inclusive os de Lula e
Dilma. Já o desgoverno do golpista Temer tem é de acatar mesmo, pois é golpista
até dispensando a tradicional ajuda dos centuriões, estes hoje, ao menos
aparentemente, mais convertidos a seu papel democrático que os golpistas da
escola de Goes Monteiro, Dutra, Carlos Lacerda e de certos soi-disants
socialdemocratas de fancaria.
Embora também vitimados por golpes
assassinos, com a preciosa ajuda do bondoso Tio Sam, o Chile, a Argentina e o
Uruguai (o Paraguai é um caso de ditadura institucional desde Solano López e Stroessener,
com o breve hiato de Lugo) julgaram, condenaram e prenderam os responsáveis por
essas tragédias. Já as elites tronchas do nosso país continuam com os eternos
panos mornos tão tradicionais, que sempre evitaram constituintes exclusivas (sem
políticos profissionais, em grande número contaminados por canalhice) e um tão
necessário ajuste de contas com tanta coisa errada que nos coube nesse
latifúndio de asneiras, safadezas, roubalheiras, impunidade.
Depois de tão longo introito, falo
especificamente do que desejava, isto é, do papel da Igreja e de uns poucos
bispos em meio às trevas mais que medievais da ditadura. Dentre eles, destaco
dom Paulo Evaristo Arns, que está completando 50 anos como bispo, com celebração
solene na Sé de São Paulo. (Catedral da Sé é invenção paulista e tautologia,
pois catedral e sé significam a mesma coisa, a cadeira episcopal. Além disso, a
Sé de São Paulo, antes de ser uma praça ou bairro, é a catedral.) Há outros
destacáveis como, por exemplo, dom Helder,
dom Ivo Lorscheiter, dom Aloísio Lorscheider
Quarenta anos atrás, o mesmo dom Paulo abria
as portas da Sé para um culto ecumênico pela alma do jornalista Vladimir
Herzog, torturado e assassinado no DOI-Codi, comandado pelo “brilhante” coronel
Ustra, recentemente homenageado pelo deputado Jair Bolsonaro, aquele que
declarou solenemente não haver estuprado uma colega da Câmara por ela não
merecer, pois ele a acha feira ... Dom Paulo Evaristo, um frade franciscano,
tornou-se bispo em um momento de renovação eclesial, logo após o Concílio
convocado por João 23 para atualizar a Igreja e redefinir seu papel na
sociedade. Para além de dogmas e preceitos legais, o Concílio se preocupou com
uma nova orientação pastoral voltada para o social.
Os papas que se seguiram a João 23 deixaram
cair a peteca. Ao diplomata Paulo 6º faltou ousadia. João Paulo 1º morreu
misteriosamente um mês após tomar posse. João Paulo 2º chegou com a estreita
mentalidade da Igreja polonesa, um sanduíche entre os protestantes alemães e os
ortodoxos ucranianos. Protegeu pedófilos e canonizou figuras duvidosas. Demorou
demais a desocupar a barca de Pedro e foi substituído por um alemão rígido e ultradogmático
que, apesar disso, renunciou devido a ameaça de morte.
Por grave descuido dos cardeais, foi eleito
papa o argentino cardeal Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, que tomou o nome
de Francisco, sem número, abolindo as dinastias que fazem dos papas substitutos
dos imperadores romanos. Ele apresentou-se ao povo que o aguardava na Praça de
São Pedro como bispo de Roma, continuou com seus trajes modestos e não quis
morar no tal de Palácio Apostólico (apostólico rima com palácio?). Talvez se
lembrando do desaparecimento misterioso de João Paulo 1º, ele mora num hotel
modesto dentro dos muros do Vaticano e está promovendo uma reformulação ampla
na Igreja de Cristo. O Concílio de João 23 pode agora realizar seus desígnios. E
dom Paulo está feliz nos seus 94 anos por haver cumprido seu papel de pastor
enfrentando lobos vorazes.
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