segunda-feira, 18 de julho de 2016

CRIMES DA DITADURA SEM PUNIÇÃO. A ELITE E SEUS ETERNOS PANOS MORNOS. PAPEL DA IGREJA COM DOM PAULO EVARISTO ARNS

Oi gente, hoje escrevo sobre um tema atualíssimo que é a ditadura militar que assolou o país por longos 21 anos e só acabou no faz-de-conta. Atualíssimo? Sim, pois até hoje ninguém teve a coragem de mexer com essa longa história de arbitrariedades e crimes. Nem mesmo depois que a Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA definiu que crimes de tortura e crimes continuados (que não terminaram, como tantos desaparecimentos ocorridos pelas mãos dos esbirros militares e seus colaboradores civis) não podem ser anistiados. Mesmo sem essa decisão de uma corte de que o nosso país faz parte, todo mundo sabe que não se pode dar anistia a um crime de que os autores não foram acusados. E é sabido que nem os generais-ditadores nem seus ministros e cortes nunca acusaram nenhum torturador, assassino ou autor de desaparecimentos do regime militar.
Assim, a anistia recíproca que eles inventaram não tem a mínima base jurídica. Embora seja obedientemente acatada por todos os governos que vieram após a assim dita redemocratização, inclusive os de Lula e Dilma. Já o desgoverno do golpista Temer tem é de acatar mesmo, pois é golpista até dispensando a tradicional ajuda dos centuriões, estes hoje, ao menos aparentemente, mais convertidos a seu papel democrático que os golpistas da escola de Goes Monteiro, Dutra, Carlos Lacerda e de certos soi-disants socialdemocratas de fancaria.
Embora também vitimados por golpes assassinos, com a preciosa ajuda do bondoso Tio Sam, o Chile, a Argentina e o Uruguai (o Paraguai é um caso de ditadura institucional desde Solano López e Stroessener, com o breve hiato de Lugo) julgaram, condenaram e prenderam os responsáveis por essas tragédias. Já as elites tronchas do nosso país continuam com os eternos panos mornos tão tradicionais, que sempre evitaram constituintes exclusivas (sem políticos profissionais, em grande número contaminados por canalhice) e um tão necessário ajuste de contas com tanta coisa errada que nos coube nesse latifúndio de asneiras, safadezas, roubalheiras, impunidade.
Depois de tão longo introito, falo especificamente do que desejava, isto é, do papel da Igreja e de uns poucos bispos em meio às trevas mais que medievais da ditadura. Dentre eles, destaco dom Paulo Evaristo Arns, que está completando 50 anos como bispo, com celebração solene na Sé de São Paulo. (Catedral da Sé é invenção paulista e tautologia, pois catedral e sé significam a mesma coisa, a cadeira episcopal. Além disso, a Sé de São Paulo, antes de ser uma praça ou bairro, é a catedral.) Há outros destacáveis como, por exemplo,  dom Helder, dom Ivo Lorscheiter, dom Aloísio Lorscheider
Quarenta anos atrás, o mesmo dom Paulo abria as portas da Sé para um culto ecumênico pela alma do jornalista Vladimir Herzog, torturado e assassinado no DOI-Codi, comandado pelo “brilhante” coronel Ustra, recentemente homenageado pelo deputado Jair Bolsonaro, aquele que declarou solenemente não haver estuprado uma colega da Câmara por ela não merecer, pois ele a acha feira ... Dom Paulo Evaristo, um frade franciscano, tornou-se bispo em um momento de renovação eclesial, logo após o Concílio convocado por João 23 para atualizar a Igreja e redefinir seu papel na sociedade. Para além de dogmas e preceitos legais, o Concílio se preocupou com uma nova orientação pastoral voltada para o social.
Os papas que se seguiram a João 23 deixaram cair a peteca. Ao diplomata Paulo 6º faltou ousadia. João Paulo 1º morreu misteriosamente um mês após tomar posse. João Paulo 2º chegou com a estreita mentalidade da Igreja polonesa, um sanduíche entre os protestantes alemães e os ortodoxos ucranianos. Protegeu pedófilos e canonizou figuras duvidosas. Demorou demais a desocupar a barca de Pedro e foi substituído por um alemão rígido e ultradogmático que, apesar disso, renunciou devido a ameaça de morte.

Por grave descuido dos cardeais, foi eleito papa o argentino cardeal Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, que tomou o nome de Francisco, sem número, abolindo as dinastias que fazem dos papas substitutos dos imperadores romanos. Ele apresentou-se ao povo que o aguardava na Praça de São Pedro como bispo de Roma, continuou com seus trajes modestos e não quis morar no tal de Palácio Apostólico (apostólico rima com palácio?). Talvez se lembrando do desaparecimento misterioso de João Paulo 1º, ele mora num hotel modesto dentro dos muros do Vaticano e está promovendo uma reformulação ampla na Igreja de Cristo. O Concílio de João 23 pode agora realizar seus desígnios. E dom Paulo está feliz nos seus 94 anos por haver cumprido seu papel de pastor enfrentando lobos vorazes.

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