terça-feira, 8 de novembro de 2016

A JUSTIÇA MAIS CARA DO MUNDO DEVERIA SER A MELHOR DO MUNDO. E O QUE A GENTE VÊ?

Recebi do arguto Antônio Leal de Campos, que me envia muitas observações e notícias interessantes, este artigo transcrito do “insuspeito” O Globo, de autoria de Marco Antonio Villa. Vale a pena ler, sobretudo numa conjuntura em que a Justiça ajudou até demais a derrubar uma presidente eleita (não discuto aqui a competência dela) e por em seu lugar um impostor golpista que, desde o início do segundo mandato presidencial de Dilma, preparava o bote no Planalto. E, além disso, está a serviço de uma gangue disposta a desmontar as fontes de riqueza do país. Recentemente, o repórter André Barrocal (Carta Capital) fez extenso levantamento sobre os custos do Judiciário e Ministério Público (MP) no Brasil. Um resumo: o nosso Judiciário, o mais caro do planeta, custa 1,30% do PIB. O segundo mais caro, da Venezuela, gasta apenas 0,34%; quanto ao nosso MP, custa 0,32% do PIB, enquanto o segundo mais caro, da Itália, custa 0,09%.
Ao artigo de Villa.


O Superior Tribunal de Justiça (STJ), que se autointitulou tribunal da cidadania, foi uma criação da Constituição de 1988. É formado por 33 ministros, guarde este número. O STJ recebe pouca atenção do grande público. O Supremo Tribunal Federal acaba ocupando todos os espaços. A designação de um ministro para o STJ passa geralmente em branco; já o mesmo não ocorre com o STF.
Em 2011 e 2013, examinei os gastos do STJ e fiquei estarrecido. O curioso é que todos os dados aqui apresentados estão disponíveis no site do STJ, mais especificamente no Portal da Transparência. O último relatório de gestão anual disponibilizado é de 2013. Os dados são estarrecedores. O orçamento foi de R$ 1.040.063.433,00! (um bilhão, quarenta milhões, sessenta e três mil e quatrocentos e trinta e três reais, ou irreais)
Somente para o pagamento de aposentadorias e pensionistas foram despendidos R$ 236.793.466,87, cerca de um quarto do orçamento. Para os vencimentos de pessoal, foi gasta a incrível quantia de R$ 442.321.408,00. Ou seja, para o pagamento de pessoal e das pensões e aposentadorias, o STJ reservou dois terços do seu orçamento.
Setembro é considerado o mês das flores. Mas no STJ é o mês do Papai Noel. O bom velhinho, três meses antes do Natal, em 2014, chegou com seu trenó recheado de reais. Somente a dois ministros aposentados pagou quase 1 milhão de reais. Arnaldo Esteves Lima ganhou R$ 474.850,56 e Aldir Passarinho R$ 428.148,16! Os dois somados receberam o correspondente ao valor da aposentadoria de 1.247 brasileiros.
A ministra Assusete Dumont Reis Magalhães embolsou de rendimentos R$ 446.833,87, o ministro Francisco Cândido de Melo Falcão Neto foi aquinhoado com R$ 422.899,18, mas sortudo mesmo foi o ministro Benedito Gonçalves, que abocanhou a módica quantia de R$ 594.379,97. Também em setembro, o ministro Luiz Alberto Gurgel de Faria recebeu R$ 446.590,41. Em novembro do mesmo ano, a ministra Nancy Andrighi foi contemplada no seu contracheque com R$ 674.927,55, à época correspondentes a 932 salários-mínimos, o que, incluindo o décimo terceiro salário, um trabalhador levaria para receber 71 anos de labuta contínua.
Nos dados disponibilizados na rede, é impossível encontrar um mês, somente um mês, em que ministros ou servidores (não exemplifiquei casos de funcionários, e são vários, para não cansar, ou indignar, ainda mais os leitores) não receberam acima do teto constitucional. São inexplicáveis estes recebimentos. Claro que a artimanha, recheada de legalismo oportunista (não é salário, é rendimento), é de que tudo é legal. Deve ser, presumo. mas é inegável que é absolutamente imoral.
Em maio de 2015, o quantitativo de cargos efetivos era de 2.930 (eram 2.737 em 2014). Destes, 1.817 exerciam cargos em comissão ou funções de confiança (eram 1.406 em 2014). Dos trabalhadores terceirizados, o STJ tem no campo da segurança um verdadeiro exército privado: 249 vigilantes. De motoristas são 120.
Chama a atenção a dedicação à boa alimentação dos ministros e servidores: são 4 cozinheiras, 29 garçons, 5 garçonetes e 54 copeiros.
Isto pode agravar a obesidade, especialmente porque as escadas devem ser muito pouco usadas, tendo em vista que o STJ tem 32 ascensoristas.
Na longa lista são 1.573 nomes em 99 páginas; temos pedagogas, médicos, encanadores, bombeiros, repórteres fotográficos, recepcionistas, borracheiros, engenheiros, auxiliares de educação infantil, marceneiros, jardineiros, lustradores e até jauzeiros (que eu não sei o que é). Para assistência médica, incluindo familiares, foram gastos, em apenas um ano, R$63 milhões, mais R$4 milhões para assistência pré-escolar(??).
Pela quantia despendida em auxílio-alimentação, quase R$ 25 milhões, creio ser necessário um programa de emagrecimento de ministros e servidores. Mas os absurdos não param por aí. Somente para comunicação e divulgação institucional foram reservados mais de R$ 7 milhões de reais. E não será por falta de veículos que o STJ vai deixar de exercer sua atribuição constitucional. Segundo dados de 31 de janeiro de 2015, a frota é formada por: 57 GM/Ômega, 13 Renault/Fluence e 07 GM/Vectra, além de 68 veículos de serviço, perfazendo um total de 146 veículos novos. E, como são 33 ministros, cada excelência tem, em média, à sua disposição, 4 veículos.
Como foi exposto, há 2.840 efetivos e mais 1.573 servidores que são terceirizados, perfazendo um total de 4.413, que já é um número absurdo para um simples tribunal, apenas um. Ainda tem mais gente: segundo o relatório anual de 2013 (volto a lembrar que é o último disponibilizado) há mais 523 estagiários. Sendo assim, o número total alcança 4.936 funcionários!
É raro uma Corte superior no mundo com os gastos e número de funcionários do STJ. Contudo este não é o retrato da Justiça brasileira. Onde a demanda é maior, como na primeira instância, faltam funcionários, o juiz não tem a mínima estrutura para trabalhar e está sobrecarregado com centenas de processos, além de sofrer ameaças de morte por colocar a Justiça acima dos interesses dos poderosos. No conjunto não faltam recursos financeiros ao Judiciário. A tarefa é enfrentar, combater privilégios e estabelecer uma eficaz alocação orçamentária.

Este dever não pode ser reservado somente aos membros do Poder Judiciário. Ele interessa a toda a sociedade. Isto explica em parte a falta de dinheiro para a saúde, educação e segurança!!! É preciso modificar isto! Precisamos de atitudes e sugestões urgentes, pois já estamos na pior há muito tempo, com estes políticos e autoridades acabando com o nosso Brasil em benefícios próprios e vergonhosos.

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