terça-feira, 22 de novembro de 2016

ALDEIA CERTAMENTE MAIS POBRE SEM JOHN WILLYS FRYER

John Fryer não era apenas uma pessoa que adotou Aldeia como morada e criou uma escola das melhores de Pernambuco e do Brasil. Ele foi um grande educador e um estadunidense que se tornou brasileiro pelo casamento com a baiana dona Lígia e a adesão a um país ao qual veio através do programa Peace Corps criado pelo presidente Kennedy. Desembarcou no Recife e daqui foi para o interior da Bahia, onde conheceu dona Lígia, que lhe deu aulas de português. Voltou para os EUA e conseguiu outra temporada no Peace Corps.
Após casar com dona Lígia, uma união que durou meio século, voltou para sua terra. Antes de vir para o Brasil, prestara serviço militar na Força Aérea e cursara a Universidade de Minnesota. Fez ali pós-graduação em ciências e depois foi convidado para ensinar na Escola Americana de Setúbal, no Recife, onde foi diretor. Foi quando comprou terreno em Aldeia e resolveu criar sua própria escola, a Escola Internacional de Aldeia (EIA). Começado com dificuldade, o estabelecimento de ensino tomou impulso e criou fama, graças ao empreendedorismo e à vocação de educador de Mister Fryer (como o chamavam seus pupilos). Com quase 40 anos, a escola ensinou e educou gerações.
Depois de ao mesmo tempo estadunidense e baiano, John Fryer tornou-se um aldeense ativo e participativo. Daí eu dizer que Aldeia está mais pobre sem ele. Mantinha atividades filantrópicas, por conta própria ou através do Rotary, inclusive uma creche no Rachão. Fez muitos amigos. Não há por aqui quem não o conheça nem a EIA. Tive o prazer de conhecê-lo quando ele apareceu na Redação do Jornal do Commercio com Antônio Portela, colega e amigo meu, quando o jornal ainda funcionava na Rua do Imperador. Posteriormente, vim me esconder por estas abençoadas (ou nem tanto; bárbaros querem destruir a natureza) bandas e fiquei querendo muito bem a ele.
Um ritual que passei a integrar é uma reunião semanal que junta vários amigos para bater papo e salvar o mundo. Antes em Zé do Mé, hoje o encontro se dá, às sextas-feiras ao cair da tarde, n’O Quintal, do Antônio, na galeria Business, defronte do Vila Aldeia. Estávamos reunidos ali, no último dia 11, quando chegou a notícia da morte dele dada por seu filho Mike. Ficamos consternados. Antes de sofrer um AVC há uns cinco anos, John Fryer era muito ativo e andarilho. Depois foi declinando. Mesmo assim, antes de ser hospitalizado com maior frequência, sempre comparecia ao nosso encontro das sextas em cadeira de rodas. Também ia sempre que podia à EIA, tocada com competência por Mike e dona Lígia. Eles têm mais dois filhos, Patrick e Christie, que moram nos EUA.
Que o meu amigo descanse em paz. Escrevo sobre ele também na revista Viver Aldeia, de Consuelo e Carlyle Paes Barreto, e no início de dezembro (provavelmente dia 3) no Jornal do Commercio.


PS – Transcrevo nota do Fórum em Ação, informativo do Fórum Suape Espaço Socioambiental, sobre ato público realizado no Recife, por moradores e pescadores, em protesto contra violências recebidas da direção daquele complexo. Reivindicam moradias dignas para as famílias da região despejadas e permanência e consolidação das comunidades tradicionais, com regularização fundiária. E pedem o fim das violências contra eles, praticadas por milícias armadas. Acrescento eu: como é ruim uma ditadura disfarçada, após anos de políticas sociais inclusivas.

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