John Fryer não era apenas uma pessoa que
adotou Aldeia como morada e criou uma escola das melhores de Pernambuco e do
Brasil. Ele foi um grande educador e um estadunidense que se tornou brasileiro
pelo casamento com a baiana dona Lígia e a adesão a um país ao qual veio
através do programa Peace Corps criado pelo presidente Kennedy. Desembarcou no
Recife e daqui foi para o interior da Bahia, onde conheceu dona Lígia, que lhe
deu aulas de português. Voltou para os EUA e conseguiu outra temporada no Peace
Corps.
Após casar com dona Lígia, uma união que
durou meio século, voltou para sua terra. Antes de vir para o Brasil, prestara
serviço militar na Força Aérea e cursara a Universidade de Minnesota. Fez ali
pós-graduação em ciências e depois foi convidado para ensinar na Escola
Americana de Setúbal, no Recife, onde foi diretor. Foi quando comprou terreno
em Aldeia e resolveu criar sua própria escola, a Escola Internacional de Aldeia
(EIA). Começado com dificuldade, o estabelecimento de ensino tomou impulso e
criou fama, graças ao empreendedorismo e à vocação de educador de Mister Fryer
(como o chamavam seus pupilos). Com quase 40 anos, a escola ensinou e educou
gerações.
Depois de ao mesmo tempo estadunidense e
baiano, John Fryer tornou-se um aldeense ativo e participativo. Daí eu dizer
que Aldeia está mais pobre sem ele. Mantinha atividades filantrópicas, por
conta própria ou através do Rotary, inclusive uma creche no Rachão. Fez muitos
amigos. Não há por aqui quem não o conheça nem a EIA. Tive o prazer de
conhecê-lo quando ele apareceu na Redação do Jornal do Commercio com Antônio Portela, colega e amigo meu, quando
o jornal ainda funcionava na Rua do Imperador. Posteriormente, vim me esconder por
estas abençoadas (ou nem tanto; bárbaros querem destruir a natureza) bandas e
fiquei querendo muito bem a ele.
Um ritual que passei a integrar é uma reunião
semanal que junta vários amigos para bater papo e salvar o mundo. Antes em Zé
do Mé, hoje o encontro se dá, às sextas-feiras ao cair da tarde, n’O Quintal, do Antônio, na galeria
Business, defronte do Vila Aldeia. Estávamos reunidos ali, no último dia 11,
quando chegou a notícia da morte dele dada por seu filho Mike. Ficamos
consternados. Antes de sofrer um AVC há uns cinco anos, John Fryer era muito
ativo e andarilho. Depois foi declinando. Mesmo assim, antes de ser hospitalizado
com maior frequência, sempre comparecia ao nosso encontro das sextas em cadeira
de rodas. Também ia sempre que podia à EIA, tocada com competência por Mike e
dona Lígia. Eles têm mais dois filhos, Patrick e Christie, que moram nos EUA.
Que o meu amigo descanse em paz. Escrevo
sobre ele também na revista Viver Aldeia,
de Consuelo e Carlyle Paes Barreto, e no início de dezembro (provavelmente dia
3) no Jornal do Commercio.
PS – Transcrevo nota do Fórum em Ação, informativo do Fórum Suape Espaço Socioambiental, sobre
ato público realizado no Recife, por moradores e pescadores, em protesto contra
violências recebidas da direção daquele complexo. Reivindicam moradias dignas
para as famílias da região despejadas e permanência e consolidação das
comunidades tradicionais, com regularização fundiária. E pedem o fim das
violências contra eles, praticadas por milícias armadas. Acrescento eu: como é
ruim uma ditadura disfarçada, após anos de políticas sociais inclusivas.
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