terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

EVOCAÇÕES LÍRICAS EM UM MUNDO MUITO LOUCO

Estamos nos despedindo do Carnaval de 2016. A assim dita “quarta-feira ingrata” já vem ali. Era quando, bem antigamente, a grande festa brasileira terminava mesmo. Aos primeiros albores do dia, as rádios começavam a tocar música clássica ou de fundo religioso. Os católicos iam receber as cinzas nas igrejas. “Adeus, adeus, minha gente, que já cantamos bastante. E o Recife adormecia, ficava a sonhar ao som da triste melodia”. Era a marcha regresso, recordada por Nelson Ferreira na famosa Evocação nº 1, de 1957.
Naquele ano, voltei de meus estudos na Europa e também descobri que não tinha vocação para ser padre, ou não tinha carisma para o celibato. Havia aqui no Recife uma gravadora com o selo Mocambo, de José Rozenblit, que espalhava a música pernambucana pelo Sul-Sudeste. Desde que desembarquei no Rio, comecei a ouvir com frequência a Evocação. Maravilha.
Já que falei que o Carnaval terminava mesmo na madrugada da quarta-feira, lembro que, durante a 2ª Guerra Mundial, muitos dos militares estadunidenses que serviam no Recife gostaram demais da festa e não entendiam o silêncio que se impunha na quarta. Conta-se que, terminado um baile de terça à noite, um oficial perguntou, ao ouvir só música bem comportada, “Por que não mais Cecília?”. Era uma marchinha que dizia “Ai, ai, Cecília!”. O inesquecível cônsul francês aqui, Marcel Morin, nos anos 1950-60, também adorava o Carnaval e era sócio do Madeiras do Rosarinho. Eu nunca fui de enfrenar grandes aglomerações, preferindo o sossego tão criativo dos blocos líricos. Quando ainda podia pular, frequentei muito os acertos do Bloco da Saudade, que descobri através do saudoso amigo Moisés Kertsman.
Bem, findo, mais ou menos, o Carnaval, dou uma olhada por este mundo velho em que vivemos (ou quase). Deus do Céu!; está muito ruim. O ditador lá da Síria não larga o osso, preferindo que centenas de milhares de pessoas, inclusive crianças, continuem morrendo sem sentido. Carnificina não só lá, mas também em países vizinhos, onde apareceu um califado cujo sanguinário e fanático chefão não tem nada a ver com aqueles velhos califas de Bagdá, de Córdoba. Parece que não leu, ou não entendeu, o Corão.
A superpotência que os EUA ainda são prossegue achando que é o único império eterno, ignorando os declínios de tantos outros, como o Persa, o Romano, o Britânico. E agindo de acordo com essa crença. Também, pudera: quando do colapso da União Soviética, um “sábio” estadunidense de sobrenome japonês decretou o fim da história. O capitalismo estava vitorioso e todos seriam felizes para sempre. Amém. Todos? Que importa que ricaços e especuladores rentistas acumulem sozinhos (por desígnio divino?) a imensa maioria das riquezas que o mundo criou, naturais, culturais, tudo.

Aqui em Pindorama, governo e país estão paralisados à disposição de figuras tronchas como o presidente da Câmara, comprovadamente corrupto, e como os neogolpistas do PSDB, DEM, PPS et caterva. Não se deixa o governo funcionar, para dar embasamento a um impeachment canhestro; e o neogolpismo cerca Lula (cujo prestígio continua imbatível segundo pesquisa do Vox Populi produzida há pouco mais de um mês). Qualquer invencionice, propagada pela grande imprensa e redes sociais, serve a esse fim. Lembre-se que a Justiça é de classe (não pela qualidade; mas no embate da luta de classes).

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