Estamos nos despedindo do Carnaval de 2016. A
assim dita “quarta-feira ingrata” já vem ali. Era quando, bem antigamente, a grande
festa brasileira terminava mesmo. Aos primeiros albores do dia, as rádios
começavam a tocar música clássica ou de fundo religioso. Os católicos iam
receber as cinzas nas igrejas. “Adeus, adeus, minha gente, que já cantamos
bastante. E o Recife adormecia, ficava a sonhar ao som da triste melodia”. Era
a marcha regresso, recordada por Nelson Ferreira na famosa Evocação nº 1, de
1957.
Naquele ano, voltei de meus estudos na Europa e
também descobri que não tinha vocação para ser padre, ou não tinha carisma para
o celibato. Havia aqui no Recife uma gravadora com o selo Mocambo, de José
Rozenblit, que espalhava a música pernambucana pelo Sul-Sudeste. Desde que
desembarquei no Rio, comecei a ouvir com frequência a Evocação. Maravilha.
Já que falei que o Carnaval terminava mesmo na
madrugada da quarta-feira, lembro que, durante a 2ª Guerra Mundial, muitos dos
militares estadunidenses que serviam no Recife gostaram demais da festa e não
entendiam o silêncio que se impunha na quarta. Conta-se que, terminado um baile
de terça à noite, um oficial perguntou, ao ouvir só música bem comportada, “Por
que não mais Cecília?”. Era uma marchinha que dizia “Ai, ai, Cecília!”. O
inesquecível cônsul francês aqui, Marcel Morin, nos anos 1950-60, também adorava
o Carnaval e era sócio do Madeiras do Rosarinho. Eu nunca fui de enfrenar grandes
aglomerações, preferindo o sossego tão criativo dos blocos líricos. Quando
ainda podia pular, frequentei muito os acertos do Bloco da Saudade, que
descobri através do saudoso amigo Moisés Kertsman.
Bem, findo, mais ou menos, o Carnaval, dou uma
olhada por este mundo velho em que vivemos (ou quase). Deus do Céu!; está muito
ruim. O ditador lá da Síria não larga o osso, preferindo que centenas de milhares
de pessoas, inclusive crianças, continuem morrendo sem sentido. Carnificina não
só lá, mas também em países vizinhos, onde apareceu um califado cujo
sanguinário e fanático chefão não tem nada a ver com aqueles velhos califas de
Bagdá, de Córdoba. Parece que não leu, ou não entendeu, o Corão.
A superpotência que os EUA ainda são prossegue
achando que é o único império eterno, ignorando os declínios de tantos outros,
como o Persa, o Romano, o Britânico. E agindo de acordo com essa crença.
Também, pudera: quando do colapso da União Soviética, um “sábio” estadunidense
de sobrenome japonês decretou o fim da história. O capitalismo estava vitorioso
e todos seriam felizes para sempre. Amém. Todos? Que importa que ricaços e
especuladores rentistas acumulem sozinhos (por desígnio divino?) a imensa
maioria das riquezas que o mundo criou, naturais, culturais, tudo.
Aqui em Pindorama, governo e país estão
paralisados à disposição de figuras tronchas como o presidente da Câmara,
comprovadamente corrupto, e como os neogolpistas do PSDB, DEM, PPS et caterva.
Não se deixa o governo funcionar, para dar embasamento a um impeachment
canhestro; e o neogolpismo cerca Lula (cujo prestígio continua imbatível segundo
pesquisa do Vox Populi produzida há pouco mais de um mês). Qualquer
invencionice, propagada pela grande imprensa e redes sociais, serve a esse fim.
Lembre-se que a Justiça é de classe (não pela qualidade; mas no embate da luta
de classes).
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