sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

NA AMAZÔNIA, UM PROJETO DE PADRES NÃO CELIBATÁRIOS. COISA DE FRANCISCO

Francisco de Roma (tem também o de Assis e outros) está andando rápido em sua trabalhosa tentativa de fazer voltar a Igreja Católica Romana ao Evangelho de Jesus Cristo. O tempo urge. Ele não é mais tão jovem e, além disso, lobos maus espreitam por todo lado, como Cúria Romana, máfias e outros. Segundo o testemunho de seu amigo Norberto Saracco, um pastor pentecostal argentino, em entrevista à revista National Geographic Magazine, Francisco quer introduzir mudanças imediatas, mesmo imaginando que assim “surgiria um monte de inimigos”. Fora as mudanças que já conseguiu operar, inclusive com a ajuda do Sínodo convocado ano passado (apesar de manobras de dissidentes), o papa pediu ao bispo Erwin Kräutler, um missionário austríaco abrasileirado que pastoreia a prelazia do Xingu e preside o Conselho Indigenista Missionário, que verificasse se, em sua prelazia, existem homens casados, de comprovada experiência e virtude, em condições de serem ordenados padres. Isso foi relatado por Claudio Bernabucci, correspondente em Roma da revista Carta Capital.
Kräutler, que conta com 25 padres em um território de 368 mil quilômetros quadrados, havia escrito a Francisco há cerca de um ano comunicando-lhe um pedido de bispos brasileiros sobre reforma nesse sentido. Sabe-se que um dos mentores espirituais do papa era o já falecido cardeal Martini, de Milão, que havia levantado temas como a “ carência de ministros ordenados, o papel da mulher na sociedade e na Igreja, a disciplina do casamento, a visão católica da sexualidade, a práxis penitencial, as relações com as igrejas irmãs da ortodoxia e, mais em geral, a necessidade de animar a esperança ecumênica, a relação entre democracia e valores e entre leis civis e lei moral”.
Esse projeto no Xingu dá uma consistente indicação de que Francisco deseja superar a obsoleta exigência canônica de celibato para quem quer se ordenar padre. Exigência não evangélica, mas do direito canônico, que só se consolidou, na Igreja Romana, a partir do século 11. Claro que o Evangelho não impede, antes estimula, uma dedicação integral a Deus e às coisas da religião, mas a castidade e o celibato não podem ser impostos por lei, pois são carisma,  graça. E é claro também que o papa não está se opondo ao carisma, à graça, apenas à obrigação canônica.
Acredita-se com sólida base que o tema do próximo Sínodo, a ser convocado por ele, será o celibato eclesiástico. Note-se que a instituição do Sínodo dos Bispos, enraizada na tradição do Colégio Apostólico no tempo em que o bispo de Roma ainda não assumira a “chefia” da Igreja, foi restaurada pelo Concílio dos anos 1960. No entanto, os papas que se seguiram a João 23, até o papa Ratzinger, não ligaram quase nada para tal restauração da tradição. Inclusive, as resoluções e decisões das reuniões regionais do episcopado só tinham validade com a chancela da Cúria Romana, que não tem o mínimo interesse em fortalecer a tradição apostólica. As coisas estão mudando com Francisco de Roma.

Concluímos com estas palavras de Kräutler: “O papa me pediu propostas concretas em relação,ao celibato eclesiástico. Ele quer agir na base do consenso [...]. Estamos num ponto crucial, de não retorno. Nem o próximo papa nem aquele que virá depois dele poderão voltar atrás do que Francisco está fazendo hoje”.

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