Francisco de Roma (tem também o de Assis e
outros) está andando rápido em sua trabalhosa tentativa de fazer voltar a
Igreja Católica Romana ao Evangelho de Jesus Cristo. O tempo urge. Ele não é
mais tão jovem e, além disso, lobos maus espreitam por todo lado, como Cúria
Romana, máfias e outros. Segundo o testemunho de seu amigo Norberto Saracco, um
pastor pentecostal argentino, em entrevista à revista National Geographic Magazine, Francisco quer introduzir mudanças
imediatas, mesmo imaginando que assim “surgiria um monte de inimigos”. Fora as
mudanças que já conseguiu operar, inclusive com a ajuda do Sínodo convocado ano
passado (apesar de manobras de dissidentes), o papa pediu ao bispo Erwin
Kräutler, um missionário austríaco abrasileirado que pastoreia a prelazia do
Xingu e preside o Conselho Indigenista Missionário, que verificasse se, em sua
prelazia, existem homens casados, de comprovada experiência e virtude, em
condições de serem ordenados padres. Isso foi relatado por Claudio Bernabucci,
correspondente em Roma da revista Carta
Capital.
Kräutler, que conta com 25 padres em um
território de 368 mil quilômetros quadrados, havia escrito a Francisco há cerca
de um ano comunicando-lhe um pedido de bispos brasileiros sobre reforma nesse
sentido. Sabe-se que um dos mentores espirituais do papa era o já falecido
cardeal Martini, de Milão, que havia levantado temas como a “ carência de
ministros ordenados, o papel da mulher na sociedade e na Igreja, a disciplina
do casamento, a visão católica da sexualidade, a práxis penitencial, as
relações com as igrejas irmãs da ortodoxia e, mais em geral, a necessidade de
animar a esperança ecumênica, a relação entre democracia e valores e entre leis
civis e lei moral”.
Esse projeto no Xingu dá uma consistente
indicação de que Francisco deseja superar a obsoleta exigência canônica de
celibato para quem quer se ordenar padre. Exigência não evangélica, mas do
direito canônico, que só se consolidou, na Igreja Romana, a partir do século
11. Claro que o Evangelho não impede, antes estimula, uma dedicação integral a
Deus e às coisas da religião, mas a castidade e o celibato não podem ser
impostos por lei, pois são carisma, graça.
E é claro também que o papa não está se opondo ao carisma, à graça, apenas à
obrigação canônica.
Acredita-se com sólida base que o tema do
próximo Sínodo, a ser convocado por ele, será o celibato eclesiástico. Note-se
que a instituição do Sínodo dos Bispos, enraizada na tradição do Colégio
Apostólico no tempo em que o bispo de Roma ainda não assumira a “chefia” da
Igreja, foi restaurada pelo Concílio dos anos 1960. No entanto, os papas que se
seguiram a João 23, até o papa Ratzinger, não ligaram quase nada para tal
restauração da tradição. Inclusive, as resoluções e decisões das reuniões
regionais do episcopado só tinham validade com a chancela da Cúria Romana, que
não tem o mínimo interesse em fortalecer a tradição apostólica. As coisas estão
mudando com Francisco de Roma.
Concluímos com estas palavras de Kräutler: “O
papa me pediu propostas concretas em relação,ao celibato eclesiástico. Ele quer
agir na base do consenso [...]. Estamos num ponto crucial, de não retorno. Nem
o próximo papa nem aquele que virá depois dele poderão voltar atrás do que
Francisco está fazendo hoje”.
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