sábado, 6 de fevereiro de 2016

O BÊBADO E A EQUILIBRISTA ALI NA PRAÇA DA PREGUIÇA, EM OLINDA

No Jornal do Commercio de terça-feira passada, o professor Flávio Brayner escreveu gostosa crônica sobre um Carnaval de certo modo politizado que se podia brincar na Praça da Preguiça, em Olinda, em torno da barraca O Bêbado e a Equilibrista, sob o pontificado de Abelardo Caminha. Quando digo pontificado, me vem à mente os muitos pontos de convergência entre o cristianismo e o comunismo. É claro que o comunismo marxista se baseia no materialismo dialético e histórico teorizado por Marx e Engels. Estes, no entanto, beberam na mesma filosofia socrática e aristotélica que constitui a base da reflexão filosófica utilizada pelo cristianismo; com base no que a devastação dos bárbaros permitiu que sobrasse das obras daqueles gregos, muita coisa recuperada e preservada por árabes como Avicena e Averroes, no Reino de Córdoba.
Outro ponto de convergência é a pregação de Jesus Cristo vivida pelos primeiros cristãos, nos albores do cristianismo, e descrita no livro dos Atos dos Apóstolos, que era muito apreciado por Engels. Lembremos que o líder comunista italiano Berlinguer tentou unir politicamente a Democracia Cristiana com o Partido Comunista Italiano. A máfia dominante na DC não permitiu e ainda deixou que matassem o sequestrado ex-primeiro-ministro Aldo Moro.
Voltando à Praça da Preguiça e a O Bêbado e a Equilibrista, descreve Brayner: “O personagem que condensava  essa inusitada mistura de festa e utopia, de dessublimação libertária era Abelardo Caminha. Postado como um São Pedro à porta do Céu, [...]. Abelardo defendia  sua religião partidária, do início ao fim de cada garrafa [...]. Abelardo era comunista arlequinesco, que provavelmente acreditava que na nova ordem social revolucionária haveria Carnaval todo dia”.
Eu passei muito tempo fora do Recife depois do golpe de 1964, só voltando a me reintegrar definitivamente por cá após a anistia de 1979. Daí ter perdido contato com muitos daqueles (da União da Juventude Comunista) com quem convivi a militei nas memoráveis campanhas da Frente do Recife. Mas lembro bem de Abelardo Caminha e das libações e papos utópicos do ambiente descrito por Brayner. Lamento muito a rasteira que quiseram dar no velho Partidão, liderada por Roberto Freire, que virou acólito de golpistas enrustidos ou não.
O Partidão (o velho PCB de 1922), que congregava a esquerda brasileira quase com exclusividade, terminou muito encolhido, não só devido àquela rasteira muito sacana, mas com a multiplicação de agremiações que derivaram do comunismo após o golpe. O Partidão nunca aderiu à luta armada, pois sabia que estudantes e pequeno-burgueses não tinham condições para enfrentar um exército muito bem armado e treinado pelos Estados Unidos, que impuseram o golpe. Mesmo assim, quando os assassinos e torturadores que reinaram por 21 anos não tinham mais ninguém, ou quase, para atacar, começaram a assassinar comunistas do Partidão, como Davi Capistrano, Wladimir Herzog e muitos outros.

Já o PCdoB, uma dissidência do início dos anos 1960, que hoje se livrou de qualquer coloração comunista, fez a fracassada Guerrilha do Araguaia e se proclamava o único PC autêntico, maoísta, revolucionário. O cão do segundo livro. Hoje virou linha auxiliar do PT e ocupa até o Ministério da Defesa.

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