domingo, 31 de janeiro de 2016

CONCESSÕES NÃO SÃO PROPRIEDADES INALIENÁVEIS E O ESTADO TEM O DEVER DE REGULÁ-LAS



Meus amigos e amigas, esta semana não cumpri a promessa de fazer duas postagens, uma na segunda-terça e a outra na quinta-sexta. A culpa é da “privataria tucana”. Na sexta, houve aquele temporal e os concessionários de energia, liderados por visigodos da velha Espanha, aproveitaram para deixar Aldeia sem energia por 24 horas. Outras concessões, como telefonia, internet, também saíram do ar. Estou tentando enviar-lhes esta postagem de um lugar com melhores serviços e, como o tempo continua ruim, ela servirá para o fim de semana em curso e as próximas segunda e terça. Me perdoem e torçamos para que o Brasil se torne um país sério.
Durante o segundo mandato de Lula, o ministro Franklin Martins (FM) elaborou um anteprojeto de regulação dos meios de comunicação social objeto de concessão pelo Estado, basicamente rádio e TV. Visava somente à regulamentação de regras inscritas na Constituição vigente e deixadas pra lá pelo Congresso, tão dócil à farra de concessões sem regulação da dupla dinâmica Sarney-ACM e da dinastia dos Fernandos, e que, um pouco mais comedidamente, prossegue até hoje. Tivemos até, já no tempo do PT, um ministro apelidado de Plim-Plim, Paulo Bernardo, que engavetou a proposta de FM. Ao ser reeleita, Dilma Roussef falou publicamente sobre o anteprojeto de regulação. Depois calou-se. Nada mais disse nem lhe foi perguntado. Seu ministro  das Comunicações, porém, Ricardo Berzoini, embora nada tenha sido feito até agora, mostra simpatia em aplicar normas da Constituição nunca tiradas do papel, como veto a monopólios e oligopólios e proibição de congressistas  serem donos de concessões.
Como não poderia deixar de ser, tratando-se de um país submetido a um oligopólio em setor tão sensível (quase monopólio em que todos os barões da mídia eletrônica se entendem), logo que divulgado o projeto de FM, um barulho ensurdecedor levantou-se sobre o fantasma da censura que supostamente ameaçaria TVs e rádios se a proposta fosse aprovada e entrasse em vigor. À frente, comandando a batalha, o tão infame quanto impávido Jornal Nacional, da Globo, que quase não deixou Dilma falar em um “debate” eleitoral que promoveu Claro que se trata de posicionamento capcioso. Todos os países civilizados, inclusive, Grã-Bretanha, França, Estados Unidos, têm leis de regulação da mídia. Inclusive o imperador internacional da mídia, Ruppert Murdoch, teve de fechar, em Londres, um de seus jornais que abusava de achaques contra gente importante, inclusive da família real.
Quando essa turma supostamente inimiga da censura e que não hesita em censurar seus próprios jornais, televisões e rádios, fala em censura, dá vontade até de rir, se não fosse pra chorar. Liberdade de expressão é um direito sagrado de quem possui um meio de comunicação, dos jornalistas e também do público que lê jornal, ouve rádio e vê TV. Sabemos que não há direito sem dever. Quando falo em censura dos barões a sua própria mídia, refiro-me ao que faz a grande imprensa: sonegam informações contra seus interesses, distorcem notícias sob o pretexto de interpretá-las, dão notícias falsas e por aí vão.
Outra falácia é a confusão entre regulação (civilizada, boa, pois trata-se de concessões ) e controle. Ninguém, a não ser os próprios magnatas da mídia, algumas poucas e privilegiadas famílias, quer controlar TVs e rádios. O que se deseja é que essas concessões, que incluem as teles, vítimas da “privataria tucana”, obedeçam aos interesses da sociedade. Regulação não significa controle nem censura.
E o que está inscrito na Constituição e regulado pelo Congresso não poderá ser objeto de mudanças ao talante de eventuais governos. Estamos vendo na Argentina, agora sob o governo de um Aecinho de lá, a determinação de mudar, por decreto, a regulação da mídia conseguida, a duras penas, pelo governo anterior. Lá havia um quase-monopólio como o do grupo Globo daqui, o grupo Clarín, que agora pretende retomar a “liberdade de expressão”: autocensura, sonegação, manipulação. Sacanagem grossa contra a população.

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