Começo de ano, tudo aumentando, menos o salário
da maioria, repete-se o tão manjado reajuste das tarifas de transporte público.
As tarifas são quase automaticamente reajustadas, se se excetuam algumas encenações
de objetividade e isenção. A qualidade do serviço, porém, vai sempre de mal a pior.
Um serviço que teria de ser prestado diretamente pelo poder público, que é o responsável
pela expulsão dos trabalhadores para longínquas periferias, é concedido a
autoproclamados empresários, que visam a nada mais que o lucro. São ônibus
sucateados, motoristas e cobradores despreparados, longuíssimos intervalos
entre um e outro. Uma beleza. Em Aldeia, onde me escondo, a concessionária (parece
que Metropolitana) põe ônibus de hora em hora entre Chã de Cruz e o terminal de
Camaragibe. Se um quebrar, algo corriqueiro, o usuário tem de aguardar mais uma
hora. E a maioria da população da região não possui carro particular para
congestionar ainda mais os acessos ao Recife.
O metrô, uma grande esperança quando foi
implantado, parou no tempo. Está sucateado e sem reposição. Novas linhas? Nem
pensar; a crise justifica tudo. Os vagões são invadidos por vendedores e
ladrões. Não se mantém nem repara o sistema. Lembro que, quando cheguei à
Europa para estudar, em 1952, a 2ª Guerra Mundial tinha acabado havia só sete
anos e os serviços públicos funcionavam melhor que no Brasil: trens (cadê os
que tínhamos?), ônibus, bondes (aqui acabaram). E com tarifas bem razoáveis.
Aqui, a tradicional privatização do dinheiro público, a incompetência
generalizada, o fazer política como meio de vida só podem produzir o descalabro
em que vivemos. Os responsáveis por tanta esculhambação vão morar em Miami (é
só o que lhes interessa nos Estados Unidos; Nova York, a Nova Inglaterra, isso
nem passa por cabeças tão ocas) ou por lá passam longas temporadas. Aparecem
por cá de vez em quando para arrecadar suas rendas e transferi-las para
paraísos fiscais.
Uma empresa paulista comprou a velha CTU por “dois
tõe” (como falam os matutos), comprometendo-se a restaurar as redes aéreas e manter
os ônibus elétricos. Cadê? Lembrando. Quando o grande prefeito que foi
Pelópidas da Silveira implantou a CTU, no final dos anos 1950, os concessionários
de linhas de ônibus estrebucharam e ciscaram um bocado. Fernando Coelho, que
assessorava juridicamente o prefeito, conta a história. Aquele tipo de
transporte desafogou muito o trânsito naquela época. Os que eram contra
reclamavam de ônibus às vezes parados por falta de energia. Mas isso não era
culpa da CTU. A Celpe, antes e depois de ser abiscoitada por gringos, não tem
compromisso com a população e sim com seus acionistas.
Como lembro aqui frequentemente, os concessionários
de linhas (sempre os mesmos; de vez em quando se finge uma licitação) são
grandes contribuintes para campanhas políticas. Agora que pessoas jurídicas não
podem mais dar dinheiro para essas campanhas, não sei como vai ficar. Quem sabe
haja alguma melhora. Mas sempre se poderá dar um jeito malandro. Nossos
políticos só vão melhorar de qualidade quando, e se, tivermos um dia uma
Constituinte séria, exclusiva, composta por personalidades sem compromisso com
a política profissional.
Pessoas, muitas, que se julgam bafejadas por
Deus por terem carro particular (muitos pintam: presente de Deus ...) nem se
lembram que mais de dois milhões utilizam o transporte público metropolitano. E
são justamente aqueles cidadãos (tão privados de cidadania) para os quais
alguns centavos a mais na catraca significam menos comida em casa, menos
conforto, mais “vida severina”. Mesmo com tanto sacrifício, o usuário de
transporte público rodoviário tem de esperar ônibus na chuva e no sol, viajar
no aperto, chegar atrasado ao trabalho. Na Conde da Boa Vista, nos conta Felipe
Vieira em reportagem no Jornal do Commercio, estações inacabadas do BRT
(cadê a verba para terminar?) viraram dormitório para moradores de rua. O
pessoal está andando a pé, quando a distância dá. O número de passageiros
transportados vai caindo. E o poder público ainda subsidia um sistema tão ruim.
Por que não operá-lo diretamente, melhorá-lo, como ocorre em países mais
civilizados?
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