quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

QUE VIVA O SEMINÁRIO DE OLINDA E SUA IGREJA DE N.S. DA GRAÇA

O Seminário de Olinda tem uma longa e bela história de mais de 200 anos, fundado que foi pelo bispo de Olinda e Recife, dom Azeredo Coutinho, em 1800, ocupando instalações bem mais antigas onde havia funcionado um colégio dos padres jesuítas. Acredito que seja a mais antiga instituição de ensino superior do Brasil, pois os Cursos Jurídicos de Olinda e São Paulo só vieram 27 anos depois. Não havia, na época, a separação entre Igreja e Estado e a casa servia para a formação superior tanto de futuros padres como de leigos em busca de saber e que não tinham condições de ir estudar em Coimbra. Alguns dos nossos grandes revolucionários, muito maiores do que Tiradentes mas ignorados pela história oficial do país, ali estudaram. Frei Caneca é um deles.
Daí a simpatia com que foi recebida a notícia de que esse patrimônio histórico e arquitetônico está para ser restaurado, desde que a sociedade, o governo e quem se dispuser a colaborar entrem com sua parte. Nesse sentido, o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, fez um pedido e iniciou uma campanha para arrecadar doações, inicialmente para a restauração da igreja de Nossa Senhora da Graça, que vem de 1551 e resistiu às brigas entre holandeses e portugueses. Está interditada desde maio do ano passado, junto com todo o conjunto, tendo os seminaristas se mudado para outro local. Estima-se em R$18 milhões a quantia necessária às obras de preservação. Somente da igreja. Recursos federais devem ser captados via Lei Rouanet.
Em países com maior quilometragem de civilização, o tombamento de uma construção, de um monumento, significa que ele é importante para a história e a cultura e por isso vai ser preservado pelo Estado. No Brasil, de um modo geral, o tombamento é apenas uma providência burocrática. É assim que, apesar de ter sido agraciada, pela Unesco, com o título de patrimônio da humanidade, Olinda corre o risco de perder tão honroso título, pois seus inúmeros monumentos estão caminhando celeremente para a ruína. Não se sabe onde vão parar as parcas verbas destinadas à preservação da história. Talvez a ideia do arcebispo de apelar também para doações não governamentais consiga o feito de levar tudo a bom termo em tempo hábil. Quem se interessar em fazer doações para a restauração do monumento pode procurar o site www.reconstrucaodoseminario.org.
Voltando à história do Seminário de Olinda. Ali repercutiram as ideias libertárias do iluminismo, da Revolução Francesa e da Revolução Americana (independência, federação, constituição, liberdades públicas etc.). Rousseau, Voltaire, Montesquieu, Diderot, D’Alembert alimentaram as mentes dos alunos do Seminário de Olinda. Revolucionários de 1817, 1824, da Praieira ali estudaram ou ensinaram.
Para mim, tudo o que se faz pela preservação dos marcos da nossa história e cultura e das de toda a humanidade é de suma importância. Mas essa restauração que se prepara agora me toca particularmente. Sou ex-aluno do Seminário de Olinda e, antes da interdição, os ex-alunos se reuniam anualmente para lembrar os velhos tempos, cantando o hino da instituição (muito bonito) e lembrando o latinório em cânticos e na missa.]



Nenhum comentário: