O Seminário de Olinda tem uma longa e bela história
de mais de 200 anos, fundado que foi pelo bispo de Olinda e Recife, dom Azeredo
Coutinho, em 1800, ocupando instalações bem mais antigas onde havia funcionado
um colégio dos padres jesuítas. Acredito que seja a mais antiga instituição de
ensino superior do Brasil, pois os Cursos Jurídicos de Olinda e São Paulo só
vieram 27 anos depois. Não havia, na época, a separação entre Igreja e Estado e
a casa servia para a formação superior tanto de futuros padres como de leigos
em busca de saber e que não tinham condições de ir estudar em Coimbra. Alguns
dos nossos grandes revolucionários, muito maiores do que Tiradentes mas
ignorados pela história oficial do país, ali estudaram. Frei Caneca é um deles.
Daí a simpatia com que foi recebida a notícia
de que esse patrimônio histórico e arquitetônico está para ser restaurado, desde
que a sociedade, o governo e quem se dispuser a colaborar entrem com sua parte.
Nesse sentido, o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, fez um
pedido e iniciou uma campanha para arrecadar doações, inicialmente para a restauração
da igreja de Nossa Senhora da Graça, que vem de 1551 e resistiu às brigas entre
holandeses e portugueses. Está interditada desde maio do ano passado, junto com
todo o conjunto, tendo os seminaristas se mudado para outro local. Estima-se em
R$18 milhões a quantia necessária às obras de preservação. Somente da igreja. Recursos
federais devem ser captados via Lei Rouanet.
Em países com maior quilometragem de
civilização, o tombamento de uma construção, de um monumento, significa que ele
é importante para a história e a cultura e por isso vai ser preservado pelo
Estado. No Brasil, de um modo geral, o tombamento é apenas uma providência
burocrática. É assim que, apesar de ter sido agraciada, pela Unesco, com o
título de patrimônio da humanidade, Olinda corre o risco de perder tão honroso
título, pois seus inúmeros monumentos estão caminhando celeremente para a
ruína. Não se sabe onde vão parar as parcas verbas destinadas à preservação da
história. Talvez a ideia do arcebispo de apelar também para doações não
governamentais consiga o feito de levar tudo a bom termo em tempo hábil. Quem
se interessar em fazer doações para a restauração do monumento pode procurar o
site www.reconstrucaodoseminario.org.
Voltando à história do Seminário de Olinda. Ali
repercutiram as ideias libertárias do iluminismo, da Revolução Francesa e da
Revolução Americana (independência, federação, constituição, liberdades
públicas etc.). Rousseau, Voltaire, Montesquieu, Diderot, D’Alembert alimentaram
as mentes dos alunos do Seminário de Olinda. Revolucionários de 1817, 1824, da Praieira
ali estudaram ou ensinaram.
Para mim, tudo o que se faz pela preservação
dos marcos da nossa história e cultura e das de toda a humanidade é de suma
importância. Mas essa restauração que se prepara agora me toca particularmente.
Sou ex-aluno do Seminário de Olinda e, antes da interdição, os ex-alunos se
reuniam anualmente para lembrar os velhos tempos, cantando o hino da
instituição (muito bonito) e lembrando o latinório em cânticos e na missa.]
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