Um técnico (engenheiro) chamado Márcio
Patusco tanto fez que obrigou a Anatel a contratar uma consultoria com o
objetivo de analisar os custos dos serviços prestados pelas operadoras de
telefonia. Como sabemos, as agências reguladoras criadas por Fernando 2º (FHC)
na onda da “privataria” se limitam a coonestar generosos e constantes aumentos
de tarifas. Nem os governos de Lula nem os de Dilma melhoraram essa situação
anárquica. Conclusões da consultoria: a assinatura de telefonia fixa poderia
ser de R$10, em vez dos R$45 cobrados atualmente. Os custos cobrados no Brasil
chegam, em alguns casos, a 700% acima do valor real. Mesmo com tamanho assalto,
a gente tem de ligar mais de uma vez se quiser concluir uma ligação
satisfatoriamente e a falta de cobertura é uma constante.
Mas o que eu quero falar hoje com vocês é
sobre a semelhança da situação no Brasil em 1954 e hoje (“Meninos, eu vi”
Getúlio levado ao suicídio pelos golpistas de então por haver criado a
Petrobras, o BNDES, a Vale do Rio Doce e pretender fazer ainda muito mais por
um Projeto Brasil que ele acalentava desde a Revolução de 1930). Escrevendo
sobre ele em uma excelente e isenta biografia o jornalista Lira Neto diz: “Para
muitos, ele foi o grande responsável pela modernização do Brasil ao por em
prática um modelo nacional-desenvolvimentista capaz de direcionar, em pouco
mais de duas décadas, um país agrário para o rumo efetivo da industrialização.
[...] Sob essa mesma perspectiva, a vasta legislação trabalhista instituiu o
necessário equilíbrio na relação entre patrões e empregados, superando os
resquícios da escravocracia mais arcaica”.
É verdade que Getúlio foi ditador e
frequentemente autocrata desde o golpe do Estado Novo em 1937 até 1945, quando
os generais fascistoides, como Dutra e Gois Monteiro, que preferiam o nosso
país ao lado da Alemanha na guerra, o golpearam impedindo que usasse as divisas
acumuladas durante a guerra para o desenvolvimento do país. José Linhares, um
patético magistrado que eles colocaram para governar até a posse do novo
presidente e, após ele, Dutra torraram essas divisas na importação de sucata de
guerra, cigarros e passas dos EUA e por aí vai. Ele foi ditador, mas era moda
na época na civilizada Europa: Espanha, Portugal e até grandes países, como
Alemanha e Itália viviam sob ditaduras. Ao menos ele evitou que os militares
tomassem diretamente o poder, como fizeram de 1964 a 1985.
Em 1950, Getúlio voltou com uma estrondosa
votação popular. Os eternos golpistas, defensores da Casa-Grande e inimigos da
Senzala, não engoliram essa revanche popular. Para Carlos Lacerda, o chefe da
chamada Banda de Música da UDN, Getúlio não podia ser candidato, candidato não
podia ser eleito e eleito não podia tomar posse. Assim, curto e grosso. Como
ocorre hoje com Dilma, a obra dos golpistas de sempre não o deixou governar.
Tudo piorou quando um atentado contra Carlos Lacerda matou um oficial da
Aeronáutica. Esta arma instituiu a chamada República do Galeão e, devido à
participação naquele atentado de gente próxima ao presidente (que de nada
sabia), pretendia convocá-lo para depor num estranho IPM, que lembrava os IPMs
da última ditadura. Outros militares, nutridos no golpe desde 1889,
praticamente obrigaram Getúlio a se licenciar da Presidência. Terminada uma
tumultuada reunião, ele subiu ao seu quarto, escreveu a famosa
carta-testamento, preparou sua arma e suicidou-se. Adiou o golpe por 10 anos.
“Ao ódio respondo com o perdão. E aos que
pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória”, diz ele na carta. O
cortejo que o levou do Catete ao Aeroporto Santos Dumont foi uma apoteose do
assim dito “pai dos pobres”. Aí é que está. Próspero fazendeiro, ele se
preocupava com a sorte dos mais pobres. A Casa-Grande não aguenta uma coisa
como essa. Cinquenta anos depois, uma ditadura militar depois e desgovernos
como os de Sarney, Fernando 1º (Collor), Fernando 2º, um retirante nordestino e
torneiro mecânico quis fazer alguma coisa pelos mais humildes. Pau nele e na
sua substituta. Os herdeiros da UDN e de Carlos Lacerda tão aí: Lula não pode ser
candidato, se candidato, não deve ganhar, eleito não deve tomar posse. A
história se repete como farsa.
PS – No próximo domingo às 10h30, na igrejinha
das Fronteiras, haverá celebração da eucaristia pelos 107 anos que Dom Helder
Câmara completaria. Iniciativa do IDHeC – Instituto Dom Helder Câmara.
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