sexta-feira, 18 de março de 2016

BARÕES DA MÍDIA NÃO ADMITEM REGULAÇÃO, QUE HÁ EM TODO PAÍS CIVILIZADO, E CAVILOSAMENTE SUSTENTAM QUE SERIA CENSURA

Como prometido, faço hoje algumas considerações sobre a regulação da mídia, que a imprensa nativa quase em peso chama de censura e atentado à liberdade de expressão. Considerações tanto mais oportunas face ao cerco que se fecha em torno de Lula e do governo Dilma. Eles merecem muitas críticas, mas o caminho para melhorar a situação política e econômica do Brasil não é o golpe. Este tão do agrado dos detentores de poucos votos e tão entranhado na nossa tradição política.
Recentemente, diante de alguns ataques contra profissionais da imprensa, sem justificativa, apesar de provocados pelo partidarismo de uma mídia que deveria representar segmentos da sociedade e não o oligopólio de alguns barões, a anti-regulação recrudesceu. Bem colocada a questão por Franklin Martins, nos governos de Lula, a regulação foi esquecida por Dilma, apesar de desejada por seu ministro da Comunicação Social, Edinho Silva. Quem sabe, o novo ministro Lula retome a condução da questão.
As entidades representativas do patronato e editores (Associação Brasileira  de Emissoras de Rádio e Televisão – Abert, Associação Nacional de Jornais – ANJ, Associação Brasileira de Rádio e Televisão – Abratel – e Associação Nacional de Editores de Revistas – Aner) se encontraram com o ministro e lhe levaram ofício a ser entregue à presidente Dilma.
Para o presidente da Abert, Daniel Slaviero, a violência contra jornalistas e emissoras “é inadmissível, atenta contra o Estado democrático de direito e a liberdade de expressão”. Tudo bem, mas ele vai adiante e acha também que há uma interpretação, para ele “equivocada”, de que os veículos de comunicação são protagonistas do processo político: “Eles não são, eles simplesmente informam e reportam os fatos para a sociedade brasileira”.
Seria ótimo se assim fosse, como ocorre em países com regulação das concessões de mídia, exemplo da Grã-Bretanha, França, Estados Unidos. Basta, porém, você acompanhar um jornal da Rede Globo para ver que não é assim. Falo na Globo porque ela constitui o supersumo da omissão e distorção de notícias, de comentários ad hoc de fatos. Mas a imensa maioria das demais emissoras de rádio e TV, e dos jornais, que não são concessões, faz o mesmo: distorce e omite fatos, prega sua ideologia. Neles o comentário, a interpretação tendenciosa são muito mais importantes que os fatos.
E o que deveria ser apenas concessão do Estado a uma empresa passa a ser propriedade inalienável, não sujeita a nenhuma regulação. Prestem atenção também na quantidade de canais da Globo, inclusive um chamado Brasil, para fazer confusão com a TV Brasil, criada por Lula. Edinho Silva disse aos representantes dos patrões da mídia nativa e de seus editores que o governo está preocupado com o ambiente de intolerância que cresce no país e é contra qualquer tipo de restrição à liberdade de imprensa e de opinião.
Tudo indica que é urgente a retomada do processo de regulação da mídia, quer da que é objeto de concessão do Estado, como de jornais e revistas, que não precisam de concessão. Na Inglaterra, um jornal do tentacular grupo Murdoch (não lembro o nome) teve de fechar as portas após ser enquadrado por chantagear até membros da família real. Aqui, os agraciados com concessões veem isso como atentado à liberdade de imprensa e de opinião.

PS – Registro, com algum atraso, o falecimento de nosso Naná Vasconcelos, o maior percussionista do mundo, que, apesar de sua fama, nunca se descuidou do ensino da arte como meio para mudar a realidade social de crianças e adolescentes de comunidades pobres. Naná comprova, se necessário fosse, a imensa contribuição da cultura africana no Brasil.

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