Quem imagina que o colonialismo e o
imperialismo se acabaram com a “descolonização” de mentirinha engendrada no
pós-guerra se ilude amplamente. Como já haviam feito no Oriente Médio, ingleses
e franceses, a vanguarda do colonialismo, traçaram as fronteiras dos novos
países de acordo com seus interesses, separando povos irmãos e juntando
forçosamente etnias inimigas. Salvo raras exceções, colocaram na liderança
desses países elementos formados a sua imagem e semelhança, interessados em se
locupletar no poder. Na realidade, quando ainda mandavam diretamente por ali,
não cuidaram de formar elites nativas. O cristianismo que haviam pregado
àqueles povos também era uma superestrutura a serviço da submissão.
Na Ásia, com culturas e civilizações mais
antigas e elaboradas, a conversa foi diferente. Eles mantiveram colônias como
Hong-kong, Indochina, mas tiveram de largar a Índia; a China fez sua revolução
com Mao Tsé-tung; o Vietnam botou os franceses pra correr, em Dien Bien-phu. Mas
logo os EUA, o novo império, começaram a enviar “assessores” para ajudar o
governo do sul e, depois, tropas e bombardeiros. Nem assim ganharam. Tiveram de
sair correndo também.
Os EUA não desistiram de ter a América Latina
como quintal, como estamos vendo na desestabilização da experiência
nacionalista da Venezuela, na luta pela demonização de Lula, Evo Morales e todo
e qualquer líder que pretenda praticar uma política externa mais independente e
políticas públicas de real interesse popular.
Um dos últimos arreganhos do colonialismo, de
que trato hoje, deu-se num longínquo arquipélago perdido no Oceano Índico
(Chagos), descoberto pelos portugueses, apropriado pelo Império Britânico e
cedido aos EUA. Estes instalaram ali uma base, na ilha de Diego Garcia e
expulsaram toda a população local (cerca de 2 mil pessoas) para as Ilhas
Maurício. Sobre sua terra diz a forçosamente deslocada Rita David: “A vida era
fácil, cheia de alegria. Cada habitante tinha sua casa e sua horta. Servíamos a
terra, a terra nos servia” (parece os Atos
dos Apóstolos; comparem). Nas Ilhas Maurício, a uns dois mil quilômetros de
casa, encontraram fome, doenças, drogas, prostituição. Muitos morreram de
saudade, cardiopatias, vício em álcool e outras drogas, suicídio. Outro expulso
de Chagos, Olivier Bancoult, resiste através de seu Chagos Refugees Group.
O governo britânico cedeu o arquipélago aos
EUA. Em 2000, a expulsão foi considerada ilegal pela Suprema Corte de Londres,
que deu direito aos deslocados de regressarem à terra natal. Mas o governo
britânico manipulou os resultados de um estudo favorável ao regresso, que
depois foi proibido pela mui cristã rainha da Inglaterra, uma espécie de papisa
da Igreja Anglicana. Graças a documentos divulgados pelo WikiLeaks, ficou-se
sabendo que a criação em Chagos da maior reserva natural marinha do mundo era
mais um estratagema para impedir o retorno dos nativos. Mas a UK Chagos Support
Association concluiu um estudo em 2015 que forçou o governo britânico a admitir
que o retorno seria “perfeitamente realizável”. Por enquanto, em lugar dos
expulsos, há ali 30 navios de guerra, 2 mil militares do Império Americano,
pistas repletas de bombardeiros. Tem mais. Funciona ali, segundo reportagem da
TV Al-Jazira, uma espécie de Guantanamo, um black site onde suspeitos de
terrorismo podem ficar presos sem julgamento e com direito a torturas. Pode?
Querem mais?
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