terça-feira, 22 de março de 2016

DE COISAS INIMAGINÁVEIS, SOCIALISMO, CAPITALISMO E ESTATISMO

Esta visita do presidente dos EUA Barack Obama a Cuba é daqueles fatos inimagináveis na minha juventude e mesmo depois. Na minha visão, Lênin esqueceu a lição de Marx de que o Estado deveria ser desmontado para possibilitar a implantação do socialismo e do comunismo (este seria o suprassumo do socialismo). Em vez de autêntico governo pela sociedade, criou-se um estatismo delirante. Stálin, além de aprofundar a estatização, criou um superestado policial, furiosamente repressivo.
Apesar desses desvios, há dois aspectos altamente positivos: a URSS colaborou decisivamente para a derrota do nazismo, perdendo cerca de 30 milhões de cidadãos, entre soldados e civis; e havia pleno emprego naquelas repúblicas. O cidadão simples tinha sua casa, emprego e um salário modesto mas longe da miséria. Podia alimentar a família e ainda tomar vodca e educar os filhos. Na saúde o SUS de lá era muito bom. Nos últimos anos da superpotência comunista, as ações criminosas de Stálin, condenadas em 1956 em famoso congresso do PC, tinham sido deixadas de lado e caminhava-se para uma maior humanização do regime. Foi quando ocorreu o golpe de Bóris Yeltsin, que desmontou atabalhoadamente toda a estatização entregando a grupos amigos, de mão beijada, as maiores empresas Teve aí quem achasse que era o “fim da história”, com o triunfo do “bem”, o capitalismo. Na verdade, os EUA e a União Europeia estão roendo um osso duro com o tzar Pútin e já se fala em nova guerra fria.
No caso cubano, creio que Fidel não deveria ter optado por um regime comunista alinhado à URSS e sob a égide do Partido Comunista Cubano, que nem sequer apoiou a Revolução, que considerava aventura pequeno-burguesa, aquela “doença infantil do esquerdismo”. De todo modo, a resistência mais que cinquentenária de Cuba e sua Revolução ao bloqueio econômico dos Estados Unidos e às tentativas de acabar com ela constituem uma experiência única e um exemplo para uma América Latina “quintal dos EUA” e tradicionalmente submissa ao gigante do norte. Este apoiou inúmeros golpes militares e invadiu países quando lhe era necessário. Democracia, para Washington, não é coisa para povos inferiores (Hitler fez escola). Os EUA apoiam qualquer ditadura que consideram “do bem” e qualquer golpe amigo.
Mesmo após o fim da URSS, que dava ajuda substancial a Cuba, a Revolução continuou firme. Pode-se até criticá-la em alguns aspectos. Mas os EUA também desrespeitam direitos, além de pretenderem ser os xerifes do mundo, como os impérios Romano, Britânico, que desmoronaram um dia. Viva Obama! Viva Raul! “Somos todos americanos”, disse o presidente dos EUA, em espanhol.

Segue o comentário de Carlos Emanuel:

As Operações de Crédito no Brasil e a Taxa de Juros

Tomando-se os dados do Banco Central para 2015, o Brasil fechou o ano com um saldo total de operações de crédito (empréstimos) de R$ 3,2 trilhões, dos quais 53% para Pessoas Jurídicas (PJ) e 47% para Pessoas Físicas (PF). O mais curioso na composição do referido saldo, entretanto, está na divisão do mesmo entre recursos direcionados e recursos livres. Os chamados recursos direcionados são aqueles nos quais os bancos atuam apenas como repassadores de fundos regulados, onde as condições de prazo, custo e elegibilidade são pré-determinadas, usualmente subsidiadas e com melhores prazos que as operações de mercado. Exemplos de fundos regulados são o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), a Caderneta de Poupança, a Poupança Rural, os fundos constitucionais (FCO, do Centro Oeste, FNE, do Nordeste, etc.), e os recursos oriundos de exigibilidades sobre depósitos à vista e a prazo dos bancos.
Neste último caso, por exemplo, parte dos 34% exigidos pelo Banco Central como recolhimento compulsório dos bancos sobre depósitos à vista podem ser direcionados para o crédito rural a taxas subsidiadas. O mesmo acontece com a Poupança Rural, cujos recursos são direcionados também preferencialmente para o crédito rural. No caso da Caderneta de Poupança, os seus recursos servem preferencialmente para o crédito imobiliário. E no caso do FAT, constituído com contribuições das empresas para o PIS/PASEP, e que tem sua remuneração estabelecida pela TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo, hoje em 7,5% ao ano), pelo menos 40% de seus recursos são direcionados para o BNDES, que os utiliza para lastrear parte significativa de seus empréstimos.
Do total de R$ 3,2 trilhões acima citados de saldo de empréstimos no sistema financeiro em Dez/2015, 49% referiam-se a operações com recursos direcionados e 51% com recursos livres, aqueles em que os bancos têm como custo de captação o CDI (baseado na Selic, a qual é determinada pelo Banco Central, e encontra-se hoje em 14,25% ao ano), e sobre os quais são livres para estabelecer tanto a taxa de juros quanto a sua alocação aos clientes. Do total de recursos livres (R$ 1,64 trilhão), cerca de 51% representaram empréstimos a PJs e 49% a PFs. Com relação às taxas de juros, a sua média nos empréstimos com recursos direcionados foi de 9,8% ao ano (ou seja, bem abaixo da Selic e, portanto, subsidiada), enquanto no caso dos recursos livres foi de 47,2% ao ano, sendo de 29,7% ao ano para PJs e 63,7% ao ano para PFs.
O que se pode depreender destes dados? Em primeiro lugar, fica evidente a extrema dependência de recursos subsidiados no Brasil por parte de empresas e pessoas. Cerca de metade dos empréstimos de todo o sistema são realizados com taxas subsidiadas. Não necessariamente está errado utilizar parte dos recursos para as chamadas operações direcionadas, particularmente em um país em desenvolvimento, mas a sua proporção é demasiado alta. Além disto, sabemos que estes recursos são destinados com as mesmas taxas tanto para empresas grandes quanto para empresas pequenas, e tanto para pessoas de renda alta quanto para pessoas de renda baixa, o que gera distorções e desigualdade de condições que podem ter consequências nocivas para a economia.
Em segundo lugar, o fato de uma proporção tão significativa dos empréstimos ser realizada com recursos direcionados, os quais os bancos repassam em condições pré-determinadas, constitui-se em um dos fatores (um entre muitos) que contribuem para a manutenção de taxas de juros tão altas no Brasil. Tanto as taxas cobradas pelos bancos aos clientes, quanto a própria Selic, taxa básica da economia e que determina o custo de captação dos bancos. Neste último caso, a taxa determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central tem efeito apenas sobre metade dos empréstimos do sistema, limitando significativamente o efeito de sua política monetária e pressionando, portanto, as taxas para níveis mais altos.
Como forma de limitar estas distorções, será crítico trabalhar na redução da proporção de recursos subsidiados no sistema financeiro, e direcioná-los seletivamente de acordo com o tamanho e renda média dos tomadores, tanto empresas quanto pessoas.                  

Carlos Emanuel

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