sexta-feira, 4 de março de 2016

UMA ESDRÚXULA RELIGIÃO SÓ VÊ PECADOS LONGE DA CASA-GRANDE

Enquanto um governo cercado por golpistas e políticos à brasileira empenhados no ”quanto pior, melhor” prossegue penosamente sua tarefa inglória de tentar chegar ao fim de mandato sem sofrer impeachment ou chifradas do TCU ou TSE, graves problemas são empurrados com a barriga. Essa de “quanto pior, melhor” (pasmem) leva certos oposicionistas a torcer pelo fracasso das Olimpíadas, como torceram pelo da Copa, a torcer por maior propagação da zica e calamidades similares. Escolho ao acaso o problema dos transportes públicos. Para melhorar um pouco a imobilidade urbana que nos assola será preciso investir mais de R$200 bilhões. E cadê o dinheiro? As prioridades são cevar os bancos e outros agiotas e especuladores com juros exorbitantes, que não baixam a inflação nem controlam outros males; dar gordos reajustes de vencimentos para quem pode e manda, como chefes dos três poderes, magistrados em geral, parlamentares e outros; e ainda tem de sobrar para os “por fora”, propinodutos, falcatruas generalizadas e geralmente impunes.
Enquanto isso, os que defendem esse estado de coisas não cansam de repetir que na Suécia, na Grã-Bretanha, os impostos são mais altos que os daqui. O que não dizem é que em países como esses, o cidadão recebe retorno do que paga ao Estado com boa assistência de saúde, boa educação, boas estradas etc. Já aqui, a gente, além de pagar demais para sustentar a farra dos desgovernos, ainda tem de pagar pela saúde, a educação dos filhos, tem (é bem possível) as piores rodovias do mundo, acabou com as ferrovias que a muito custo havíamos construído desde o século 19. O resto foi privatizado e a “privataria” fracassou fornecendo péssimos serviços no Rio e São Paulo. Não custa lembrar que é muito mais caro construir uma ferrovia que uma rodovia, mas a manutenção de uma estrada de ferro é muito mais barata. No Brasil, acabaram com ferrovias, bondes, ônibus elétricos, que funcionam muito bem (obrigado) em países com maior quilometragem de civilização.

Outra coisa que não consigo entender é a gulodice com que certas autoridades se empenham em agarrar o ex-presidente Lula, quando Justiça, Ministério Público, Polícia Federal nem ligaram, por exemplo, para o desmonte do patrimônio público nacional praticado, sem nenhum controle da sociedade e contra ela, durante os mandatos de Fernando 2º (FHC). Provas de malfeitos não faltaram. Longe de mim achar que Lula é santo, mas essa diferença de tratamento expõe a intolerância da casa-grande com a ascensão, por mínima que seja, da senzala, com a chegada à Presidência da República de um retirante nordestino de profissão torneiro mecânico. Muita gente encheu as burras com a “privataria”, mas isso nunca interessou a juízes com militância tucana ou pós-arenosa (lembram a Arena da ditadura?). Recentemente uma namorada de Fernando 2º (ele era casado) que, com a preciosa ajuda da Rede Globo, o grande sociólogo exilou na Espanha para não prejudicar seu governo, contou como FHC lhe pagava mesadas através de contas que mantém fora do Brasil. A imprensa nativa não reclamou de nada. E cadê o juiz Moro? Só peca nessa esdrúxula religião o ex-retirante e ex-operário?

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