O Recife está numa situação jamais imaginada
não muito tempo atrás. Nossa capital teve o primeiro Plano Diretor do país
quando era prefeito Pelópidas Silveira (anos 1950), feito pelo instituto
Economie et Humanisme, de Paris, por encomenda de Antônio Baltar, que integrava
o secretariado do governo municipal. Previa áreas específicas para a expansão
industrial, por onde a cidade deveria se expandir antes que engrossassem a
especulação imobiliária e a ocupação de áreas de risco. Mas o plano nunca foi
aplicado e, com o golpe de 1964, caiu no arquivo morto. Quem sabe, aqueles que
assaltaram o poder achassem que Plano Diretor é coisa de comunista. O deus Mercado
resolve tudo.
Diariamente, a imprensa em geral, inclusive os
telejornais, estão saturados de reportagens sobre obras inacabadas, galerias
entupidas, lixo espalhado mesmo onde há serviço de coleta, calçadas que viraram
ciladas para o transeunte, vias esburacadas, desabamento de barreiras que
atingem construções que não deveriam existir, causando danos e mortes. Desgraça
é o que não falta. E a insolúvel insegurança que nos ronda e agride por toda
parte.
O transporte coletivo, que já foi muito bom
no tempo dos bondes (nossos luminares acabaram com os bondes, coisa antiquada...
que teima em continuar em Paris, Londres, Lisboa etc.). e mesmo depois da
introdução dos ônibus, sobretudo logo após a criação da companhia que utilizava
ônibus elétricos, sucateada por militares incompetentes aos quais foi entregue
após o golpe. O metrô, que dá certo em toda parte, inclusive no Rio e em São Paulo,
está aqui sucateado e parou de ampliar suas linhas. A soberana iniciativa
privada das concessionárias é incompetente, mas contribui generosamente para campanhas
políticas.
Reportagem desta sexta-feira no Jornal do Commercio conta uma triste
história, que não é aquela de Candida
Erendira y su abuela desalmada, mas a de mais uma obra inaugurada sem estar
pronta, por motivos políticos, a do parque em torno da antiga fábrica da
Macaxeira, anunciado como o maior complexo de lazer do Recife. Virou viveiro do
Aedes aegypti, ajuntamento de traficantes e consumidores de drogas. São dez hectares
que lembram mais um canteiro de obras abandonado. Supõe-se que a empreiteira já
tenha embolsado o seu dinheirinho e agora vai ser preciso, como sempre,
espichar o orçamento.
Isso lembra o recente desastre na ciclovia da
Avenida Niemeyer, no Rio. Uma obra já paga, pelos cofres público, e que está
visivelmente mal planejada e executada. Não precisa ser engenheiro para ver
isso. Basta conhecer a fúria com que ondas gigantescas castigam as encostas
rochosas entre o Leblon e São Conrado, onde havia outrora a famosa Gruta da
Imprensa. Não sei se acabaram com esse espaço onde gerações antigas de cariocas
iam namorar, num tempo em que não havia motéis nem as benvindas facilidades de
hoje.
Voltando ao espaço da velha tecelagem da
família de Othon Lynch Bezerra de Mello, estão roubando pias e sanitários de
banheiros e o posto da polícia está depredado e pichado. E não é só isso. É só
um exemplo, melhor, mau exemplo. O Parque Dona Lindu, na tão “nobre” Boa Viagem,
também está escorregando para o Deus-dará. “E se Deus não der, ó nega?”.
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