sábado, 23 de abril de 2016

NOSSA CAPITAL NÃO MERECE TANTA DECADÊNCIA E INSEGURANÇA

O Recife está numa situação jamais imaginada não muito tempo atrás. Nossa capital teve o primeiro Plano Diretor do país quando era prefeito Pelópidas Silveira (anos 1950), feito pelo instituto Economie et Humanisme, de Paris, por encomenda de Antônio Baltar, que integrava o secretariado do governo municipal. Previa áreas específicas para a expansão industrial, por onde a cidade deveria se expandir antes que engrossassem a especulação imobiliária e a ocupação de áreas de risco. Mas o plano nunca foi aplicado e, com o golpe de 1964, caiu no arquivo morto. Quem sabe, aqueles que assaltaram o poder achassem que Plano Diretor é coisa de comunista. O deus Mercado resolve tudo.
Diariamente, a imprensa em geral, inclusive os telejornais, estão saturados de reportagens sobre obras inacabadas, galerias entupidas, lixo espalhado mesmo onde há serviço de coleta, calçadas que viraram ciladas para o transeunte, vias esburacadas, desabamento de barreiras que atingem construções que não deveriam existir, causando danos e mortes. Desgraça é o que não falta. E a insolúvel insegurança que nos ronda e agride por toda parte.
O transporte coletivo, que já foi muito bom no tempo dos bondes (nossos luminares acabaram com os bondes, coisa antiquada... que teima em continuar em Paris, Londres, Lisboa etc.). e mesmo depois da introdução dos ônibus, sobretudo logo após a criação da companhia que utilizava ônibus elétricos, sucateada por militares incompetentes aos quais foi entregue após o golpe. O metrô, que dá certo em toda parte, inclusive no Rio e em São Paulo, está aqui sucateado e parou de ampliar suas linhas. A soberana iniciativa privada das concessionárias é incompetente, mas contribui generosamente para campanhas políticas.
Reportagem desta sexta-feira no Jornal do Commercio conta uma triste história, que não é aquela de Candida Erendira y su abuela desalmada, mas a de mais uma obra inaugurada sem estar pronta, por motivos políticos, a do parque em torno da antiga fábrica da Macaxeira, anunciado como o maior complexo de lazer do Recife. Virou viveiro do Aedes aegypti, ajuntamento de traficantes e consumidores de drogas. São dez hectares que lembram mais um canteiro de obras abandonado. Supõe-se que a empreiteira já tenha embolsado o seu dinheirinho e agora vai ser preciso, como sempre, espichar o orçamento.
Isso lembra o recente desastre na ciclovia da Avenida Niemeyer, no Rio. Uma obra já paga, pelos cofres público, e que está visivelmente mal planejada e executada. Não precisa ser engenheiro para ver isso. Basta conhecer a fúria com que ondas gigantescas castigam as encostas rochosas entre o Leblon e São Conrado, onde havia outrora a famosa Gruta da Imprensa. Não sei se acabaram com esse espaço onde gerações antigas de cariocas iam namorar, num tempo em que não havia motéis nem as benvindas facilidades de hoje.

Voltando ao espaço da velha tecelagem da família de Othon Lynch Bezerra de Mello, estão roubando pias e sanitários de banheiros e o posto da polícia está depredado e pichado. E não é só isso. É só um exemplo, melhor, mau exemplo. O Parque Dona Lindu, na tão “nobre” Boa Viagem, também está escorregando para o Deus-dará. “E se Deus não der, ó nega?”.

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