sexta-feira, 1 de abril de 2016

PROVA PROVADA DE QUE NÃO HÁ INTERESSE EM RESOLVER PROBLEMA DO TRANSPORTE PÚBLICO

Já comentei a quantidade de obras interrompidas (ou abandonadas) em nosso Estado. Acrescento hoje um conjunto concluído, mas que não funciona, composto pelos terminais integrados de Joana Bezerra, Abreu e Lima e Prazeres. Há mais de um ano suas obras estão concluídas após uns dez anos de atrasos (ufa!, afinal há obras concluídas), mas os terminais continuam sem utilização e, claro, se deteriorando pelo abandono. O que justifica tamanho desprezo pelo interesse público e pelo curto dinheiro público disponível nestes tempos bicudos? Afinal, são mais de R$30 milhões empatados. Prova provada de que não há o mínimo interesse das autoridades em resolver o grave problema do transporte público
Abro espaço para o comentário do economista Carlos Emanuel:

A Concentração dos Mercados de Capitais no Brasil

O saldo dos chamados títulos de renda fixa negociáveis em mercado atingiu R$ 4,84 trilhões em Dez/15, de acordo com dados da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Os títulos de renda fixa são aqueles que pagam juros aos seus detentores, diferentemente dos títulos de renda variável, os quais constituem-se essencialmente em participações em empresas através de ações e outros instrumentos negociados em bolsas de valores. Os papeis de renda fixa são títulos de dívida os quais são distribuídos e negociados em mercado, diferenciando-se também dos empréstimos e financiamentos diretos dos bancos. Do estoque total de títulos de renda fixa, R$ 2,48 trilhões, ou 51%, representavam títulos públicos, aqueles que são emitidos pelo Tesouro Nacional, e R$ 2,36 trilhões, ou 49%, constituíam títulos privados, aqueles emitidos por empresas e instituições financeiras.
Se tomarmos a composição dos títulos privados, a sua maior parte é constituída de títulos bancários. Cerca de R$ 1 trilhão, ou 42% do total, representavam em Dez/15 títulos de dívida emitidos por bancos, como CDBs (Certificados de Depósito Bancário) e Letras Financeiras, enquanto R$ 606 bilhões (26% do total) constituíam títulos de crédito, e R$ 753 bilhões (32% do total) representavam títulos corporativos. Os títulos de crédito são aqueles que estão lastreados em ativos (imóveis, máquinas) e receita futura (renda de aluguéis, prestações de financiamentos imobiliários). São exemplos de títulos de crédito a LCA (Letras de Crédito Agrícola), a LCI (Letras de Crédito Imobiliário), o CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários), entre outros. A maior parte dos títulos de crédito é emitida pelos próprios bancos. Este é o caso da LCA e da LCI, cujo saldo total em Dez/15 somava R$ 397 bilhões, ou 2/3 do total de R$ 606 bilhões de estoque de títulos de crédito no mercado. No caso da LCA, os bancos utilizam os recursos captados no mercado para financiar o agronegócio, enquanto que na LCI os utilizam para operações de financiamento imobiliário. Já os títulos corporativos, que representavam apenas 32% dos títulos privados, são aqueles emitidos no mercado por empresas, como as debêntures (títulos de longo prazo) e as notas promissórias (títulos de curto prazo). 
Os dados acima denotam duas anomalias principais: uma é a desmesurada participação dos títulos públicos no total de títulos de dívida no mercado (51%), e a outra é a pequena participação dos títulos corporativos (emitidos por empresas) neste mesmo total (15%). A primeira anomalia é resultado de três fatores: a) o baixo desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil, especialmente no que se refere a títulos de dívida privada negociáveis, b) a má gestão fiscal, com o governo mostrando-se incapaz ao longo dos últimos anos de gerar economias para cobrir minimamente os juros da dívida, e c) a concorrência desigual com os títulos corporativos, já que os títulos públicos atraem investidores estrangeiros através da redução de imposto de renda na remessa de juros. A segunda anomalia (baixa participação dos títulos corporativos) decorre em parte do próprio tamanho desmesurado da dívida pública, cujos títulos concorrem no mercado pela preferência dos investidores, e em parte por outras distorções do mercado financeiro brasileiro, como a altíssima proporção de recursos subsidiados via BNDES e outros financiadores públicos, objeto de meu último artigo.
Apenas para dar uma ideia destas proporções, dados da SIFMA (Securities Industry and Financial Markets Association) para o mercado americano apontam que os títulos emitidos pelo Tesouro representaram 33% do saldo gigantesco de US$ 40 trilhões em títulos de renda fixa naquele mercado no final de 2015 (versus 51% no Brasil). Os títulos corporativos de prazo acima de 1 ano, por sua vez, atingiram um saldo de US$ 8,2 trilhões, equivalentes a 46% do PIB americano, enquanto que no Brasil estes títulos representaram apenas 12% do PIB. Quando comparamos o tamanho do mercado de títulos corporativos relativamente ao de títulos do Tesouro, representa 62% nos Estados Unidos e apenas 30% no Brasil. É certo que o mercado americano não é a melhor comparação, dado o seu alto grau de desenvolvimento, mas permite uma avaliação relativa mínima. 
Um mercado robusto de títulos de dívida corporativa é essencial para as empresas, reduzindo sua dependência de empréstimos bancários, diversificando o seu leque de credores, permitindo redução de custos financeiros, e o acesso a recursos de longo prazo para investimentos. Para fomentar este mercado, são necessárias algumas medidas, entre as quais destaco 3: a) reduzir a proporção de recursos subsidiados no sistema financeiro, direcionando-os seletivamente de acordo com o tamanho e renda média dos tomadores, como apontei em meu último artigo; b) criar para os títulos corporativos incentivos similares aos que existem hoje para investidores estrangeiros adquirirem títulos do Tesouro; e c) fomentar a participação do BNDES e outros bancos públicos no mercado, reduzindo seus financiamentos (conforme o item a. acima) e utilizando estes bancos para prestar garantias em emissões de títulos de empresas que de outra forma não teriam acesso ao mercado de capitais.
Os investidores estrangeiros detêm hoje 20% do total de títulos do Tesouro em circulação, e simplesmente não compram títulos corporativos, pois estes não são financeiramente atrativos por conta da carga tributária. Eliminar o incentivo não faz sentido, pois tem atraído as aplicações de fundos estrangeiros, o que cria uma concorrência saudável e necessária com os fundos administrados por bancos brasileiros. Para que se tenha uma ideia, do total de R$ 1,4 trilhão em títulos de renda fixa sob gestão de instituições administradoras de fundos (os chamados asset managers), uma proporção inusitada de 82% estava nas mãos dos 5 maiores. Estes 5 maiores são subsidiárias dos 5 maiores bancos brasileiros, constituindo-se, portanto, em um oligopólio quase impenetrável na compra dos referidos títulos. O incentivo à entrada dos fundos estrangeiros no mercado de títulos corporativos, por consequência, me parece uma medida apropriada e na direção correta de fomentar a competição.
Já a participação do BNDES e outros bancos de fomento na prestação de garantias na emissão de títulos corporativos, permitiria o acesso a este mercado a um número muito maior de empresas, as quais não têm condições de participar hoje em função de seu porte.        
Carlos Emanuel


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