Ninguém duvida de que estamos realmente em
uma das piores situações atravessadas pelo nosso país. Não bastasse o caos
político provocado por quem não tem voto, mas insiste em ganhar no tapetão, ou
exatamente por isso, pelo bloqueio à presidente da República, que não pode
governar, além de não ser boa de governo, enfrentamos muitos problemas que já
pareciam resolvidos desde o início do século 20. É o caso do combate ao mosquito,
aparentemente vencido por Oswaldo Cruz. Quem não teve dengue está aguardando e já
teve algum parente acometido por esse mal. E agora apareceram outros, como
zika, chycungunya. O cholera morbus está meio esquecido, só esperando pra dar o
bote.
E um país nessas precárias condições vai
sediar uma Olimpíada, enquanto ciclovias mal construídas sobre um abismo
desmoronam e matam gente, uma mineradora acaba com um rio inteiro, e a
segurança (ou insegurança), não só das grandes cidades, é um salve-se quem
puder. Temos que torcer para que as Olimpíadas deem certo, como torcemos pela
Copa, que perdemos, mas correu tudo bem. Mas, se você morasse num país com boa
quilometragem de civilização, com boa saúde, bom ensino, bom transporte público,
onde não fosse possível construir uma ciclovia da morte, viria se arriscar por
aqui a ser assaltado na rua ou pegar doenças que não existem mais lá onde eles
moram?
E os nossos ilustres representantes, muitos enredados
na Justiça, alegremente julgam uma presidente que não roubou nem cometeu crime
de responsabilidade, e podem até cassar seu mandato. Vocês já imaginaram José
Serra nas Relações Exteriores? Adeus à política externa com uma certa
independência, ao grupo dos BRICS, a um Projeto Brasil esboçado por Lula, após
as tentativas de Vargas por um desenvolvimento à altura de nossas
possibilidades. O nosso tão venerado ex-xogum Fernando 2º (FHC), aquele em que
sobram beiços quando fala, já não teme mais algum inquérito sobre o dinheiro
misterioso no exterior, denunciado por uma ex-namorada que enganou e a quem
chamou de rameira quando ela foi lhe dizer que estava grávida. Misterioso?
Leiam A privataria tucana.
E Michel.Temer já posa de presidente, escolhe
ministros e arma suas malandragens ministeriais sem nenhuma cerimônia, com a
maior cara de pau. Quem sabe, a atual tentativa de golpe com aparato constitucional
possa abortar, como ocorreu em 1961, quando o país se levantou pela posse de
Jango como presidente. E talvez então, como esperamos, o Brasil entre de vez na
companha daqueles países onde há eleições periódicas e se respeitam seus
resultados. Na Argentina, a tentativa de reversão de algum avanço político e
social (nem tanto, pois o peronismo-kirchnerismo tem vícios insanáveis) já está
fazendo água, com a descoberta de que o presidente Macri tem dinheiro em
paraísos fiscais (ver Panama Papers) e a reação popular contra medidas
neoliberalizantes com quase 30 anos de atraso.
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